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Cultura

Tchalé Figueira em entrevista: “A arte é uma lanterna nas trevas*

 
Bilhete de Identidade Artístico
Nome: Tchale Figueira
Assinatura: Tchale
Nascimento: Por volta de 1974/75/76
Local: Basileia – Suíça
Filiação artística: Ursula e Delacroix
Cor preferida: Azul
– Nasci por volta de 1974/75/76 em Basileia , foi, quando encontrei a Ursula ex mulher e mãe dos meus rapazes gémeos. Eu já tinha uma noção da pintura e desenho servindo o meu irmão Manuel de modelo lá em nossa casa. Estou falando dos anos 60, eu era um puto. Emigrei para a Holanda nos anos 70, numa visita a familiares em Paris. No Louvre, antes de ir para a Suíça, vi obras de Delacroix que mexeram comigo. Senti o desejo de também ser pintor mas não sabia como começar. Basileia é a gênesis do artista Tchale. A Ursula, que amava e ama a pintura, literatura, jazz, e tudo que é arte, me incentivou a esta aventura, e cá vão quase 40 anos pintando e escrevendo. Gosto do azul, mas como pintor não vale ser monocromático.
 
Como é que nasceu a ideia desta exposição e porquê agora?
Depois de ter exposto em janeiro deste ano resolvi expor agora em dezembro com temáticas diferentes, a outra foi sobre o Erotismo esta é mais diversa com temas diferentes. Sou um pintor compulsivo necessito pintar sempre, meu ópio acompanhado sempre de boa música e bons vinhos e cerveja, tenho a necessidade de mostrar aquilo que crio.
 
“O silêncio musical das cores”, título da tua próxima exposição, parece um paradoxo, mas não é, certo? Conta-nos lá de onde te surgiu a ideia para este título poético?
Não é não, toda a Arte está interligada… Quando pinto escuto música. Para mim as cores são música em silêncio. O compositor Russo Muzorwski compôs uma sinfonia, “RETRATOS DE UMA EXPOSIÇÃO”. Quando escutei a sinfonia há muitos anos atrás, na Suíça, percebi a relação entre estes universos criativos.
 
Porquê uma exposição tão grande (provavelmente a maior dos últimos anos) e tão abrangente (apesar de serem obras de 2018 e 2019)?
Para ter a oportunidade de expor em duas grandes salas mais de 40 pinturas. É ideal para as pessoas conhecerem diferentes temas que pintei em dois anos e terem uma conversa com as obras, elas falam por si.
 
Esta não é uma exposição monotemática, como a anterior neste mesmo espaço, mas tem um tema predominante, centrado na violência, no horror, na guerra, no sofrimento. No entanto não deixaste de fora outros temas recorrentes na tua obra?
O sofrimento é humano. Há pessoas que ilusoriamente acreditam na felicidade e num ser divino, mas na rádio e na televisão assistimos todos os dias atrocidades, guerras, fome, violações, etc. Eu pinto estas coisas, mas também pinto o amor, a única efémera esperança da humanidade.
 
Tens trabalhado muito nos últimos anos. E não só nas artes plásticas. Poesia e ficção também. Como é que consegues gerir o tempo, para gerar tanta obra? Método? Disciplina? Qual é o segredo, se é que ele existe?
Não há segredo. Tenho tempo para viver sem correrias. Até defecando escrevo poesia. Em Cabo Verde todavia não se vive desafiando o tempo, mas estamos quase lá, imitando o ocidente onde “time is money”. Só que aqui o dinheiro é para alguns, e a miséria para a maioria.
 
Normalmente as coisas (poesia, ficção, pintura) saem-te bem à primeira ou rasuras, emendas, refazes muito?
Uma pintura enquanto não for exposta não está terminada. Tão pouco a poesia, enquanto não for editada num livro. O pintor francês Bonnard (Pierre), quando já era famoso, tentava infiltrar-se nos museus com a mania de ir dar uns retoques nos seus quadros. Os guardas, avisados pelos diretores, ficavam atentos quando o homem aparecia rondando os museus.
 
Há nestas três disciplinas criativas umas que dão mais trabalho, que exigem mais disciplina, mais investigação, mais esforço do que outras?
De disciplina, nada tenho. Mas é certo que, muita leitura e exposições que visitei, e visito quando vou à Europa e à África continental, ajudam- me no meu processo criativo. Não me esforço, tudo é espontâneo.
 
Qual é a diferença, ou diferenças, entre escrever e pintar? É meramente instrumental ou há outras? Em que linguagem te sentes mais à vontade?
Pintar e escrever diferem, porque em telas uso o pincel e as mãos e a escrever uso caneta, papel ou o tablete. Cada um destes ofícios vem de mim, do meu interior, levo as duas coisas em mim com a mesma paixão e responsabilidade.
 

Como poesia e ficção não darão certamente para viver, é a pintura o teu ganha pão, ou tens outras fontes de rendimento que te permitem fazer o que queres e o que gostas?
Ganho a vida com os quadros que vendo há vários anos, mas agora que recebo uma boa pensão de reforma da Suíça, pinto e escrevo sem pensar em galerias, etc.
 
A música é o parente “mais pobre” no meio da tua atividade criativa (pelo menos é a menos visível publicamente)?
Pobre não direi. Tenho saudades dos meus companheiros de velhos tempos em que toquei percussão no jazz e na música eletrônica, com o Vasco Martins. Quando encontramos fazemos belas improvisações. Sem música, sem arte, que sentido teria este matadouro?
 
Em Cabo Verde dá para se viver só da pintura ou o teu mercado é fora de portas?
É mais fora. Mas alguns crioulos já compram e com gosto refinado.
 
Tens colecionadores da tua obra?
Tenho sim. Há um arquiteto alemão, o Sr. Ulrich Pegels, que na sua grande casa em Costa Rica tem dezenas de obras minhas. Mas há também na Europa, Senegal, etc.
 
Tens o rasto de todas as tuas obras, ou não és assim tão organizado?
Todas não, mas tenho uma ideia.
 
Tens quantos filhos e com que idades?
Cinco filhos. Dois gêmeos, em Basileia, com 38, uma filha também em Basel, com 38, ah, ah, ah, ah, coisas da juventude. Outra na Itália, com 29 e um rapaz em Mindelo com 21.
 
Algum dos teus filhos seguiu os passos do artista plástico ou do escritor?
Não, mas os gémeos fazem música, a minha filha Viviane canta.
 
É verdade que foi o Vário quem te alcunhou de “Tchalé”? Como é que aconteceu?
Não foi ele. Meu pai desde pequeno me chamou de Tchalê, em homenagem ao seu tio Nhô Carlis, e, para quem não sabe, meu nome de registo é Carlos. Vário sugeriu que eu assinasse Tchalê nas minhas telas, meu nome crioulo. Antes, na Suíça, assinava C Figueira, mas ao conhecê-lo, no meu regresso a Cabo Verde, foi, de facto, ele a sugerir que eu assinasse Tchalê com o argumento da identificação como homem crioulo.
 
Como é que foi o convívio do escritor e do artista plástico com o “monstro” João Vário?
Foi frutífero. Aprendi muito com ele. Me incentivou a escrever a novela “Ptolomeu e a Sua Viagem de Circum- Navegação”. Eu, o Germano Almeida, o Vasco, o Arena e o Nevada, seu sobrinho, tivemos divertidas tertúlias no Arco, na praia grande em São Vicente. Infelizmente morreu cedo e até agora poucos conhecem a dimensão do grande cientista, poeta, intelectual que é João Varela, ele que pediu para escrevermos no seu epitáfio, “AQUI JAZZ JOÃO MANUEL VARELA. ERA UM GAJO FODIDO.”
 
Em vez de teres-te recusado a ir ao Sal, para a exposição da Cimeira da CPLP, não teria sido mais produtivo e eficaz teres feito um retrato de um ditador (tens uma série dedicada a este tema) e o expores? Se calhar terias sido censurado?
Talvez tivesse sido censurado, sim. O clero e a nobreza já não mandam para a fogueira, mas têm toda essa merda da falsa moral e do poder do seu lado. Têm também a alcateia, uivando com bandeiras e genuflexão.
 
 
É inevitável falarmos do assunto. Cá vai. Numa terra em que crianças e jovens são abusadas todos os dias, não é o cúmulo da hipocrisia achar que uma pintura erótica ofende, ou fere, a sensibilidade pública? Que “sensibilidade” é esta? Não será a velha máxima, “Vícios privados, públicas virtudes”?
Exacto! Inculturação, deturpação de valores, hipocrisia. Em casa vêm pornografia, violam inocentes, batem nas mulheres, e na rua são gente de bem? Nas culturas Hindu, e outras, que nada têm a ver com a trindade religiosa do médio oriente, retratar o sexo em esculturas e pinturas era e é natural. Nas três em que menciono o sexo e a nudez, é pecado? Se a roupa fosse a salvação do mundo ninguém nasceria nu. Tão pouco reproduziríamos através do coito,  não é?
 
Logo a seguir à cena da retirada dos quadros do Parlamento houve uma certa procura por aquelas obras. O que é que as pessoas queriam comprar ao certo? As obras ou a polémica? Ou melhor, as obras com a polémica “no topo do bolo”?
Até hoje cruzo-me com pessoas na rua, e elas fazem um sorriso amarelo… “Ah é você que…” Reconhecem-me como o gajo que se atreveu a representar um homem e uma mulher num ato de amor, fazendo sexo. Para não dizerem foder, porque nas suas mentes é isso mesmo, foder! Vendi um dos quadros. Quem comprou foi alguém que vem colecionando as minhas obras, dias há.
 
O escândalo é bom marketing ou nem por isso?
Não houve escândalo, houve censura. Não necessito de marketing. Fiz o meu caminho e vou caminhando na minha vida como artista que não se vende nem se rende. Um artista que faz isso, é melhor ir vender meias ou fazer política, que é maneira fácil neste país de se enriquecer.
 
Como é que correu a exposição no Palácio Ildo Lobo, logo a seguir? Com toda aquela publicidade, tudo levava a crer que do ponto de vista financeiro iria correr bem. Foi assim, ou foi um flop?
Flip flop, flip flop, mas cá vou de novo expor. A Arte é eterna mas a vida é curta.
 
A crise financeira que varreu o mundo em 2008 mostrou-nos o lado pobre e podre do capitalismo selvagem, mas nada mudou. As guerras sucedem-se a um ritmo de relojoaria, para assegurarem que o negócio das armas, vivendo da crise e da miséria alheias, não entre em crise. Sobre as alterações climáticas é o que se sabe, agravado pela existência de meia dúzia de lunáticos, imbecis, negacionistas no poder, um pouco por todo o mundo. As desigualdades não dão sinal de diminuir. Como ter esperança no meio disto tudo?
O ser humano é um bicho que, na sua evolução, teve um curto-circuito algures. Ele é um animal complexo, que pode compor a Nona Sinfonia de Beethoven, mas também sujar a sua casa e com uma bomba destruir os seus semelhantes. É difícil ter esperança, mas quando vejo uma pintura, leio um poema ou outros criadores fazendo Arte, vejo uma lanterna no meio das trevas.
 
A arte tem respostas ou limita-se a colocar questões? E se não tem, afinal para que serve?
Direi que coloca questões, se vires um quadro de Francis Bacon há nela toda uma questão sobre a existência, Guernica, sobre a Guerra. A resposta é quando estas questões fazem as pessoas, neste caso o espetador, refletir e, talvez, despertar para a mensagem, caso haja. Existem artistas de pincel sem qualquer profundidade, aquilo que em Soncente chamamos de Buldonhe.
 
És um pessimista, um desiludido ou um desencantado quanto à natureza humana e ao estado do mundo?
Sou realista. Gosto de algumas pessoas, do meu gato, e sei que isto é um inferno, com alguns quartos com ar condicionado e ventoinhas chinesas para o coitado. Outros, nem um leque têm.
 
És um homem de fé?
Deus me livre, sou ateu!
 
Fiquei com a ideia (se errada, corrige pf) que tens alguma relação espiritual com o oriente. Qual a via: hinduísmo, budismo, taoismo?
Nada disso. Mas o budismo e o taoismo são velhos ensinamentos bastante humanistas, se é que esta palavra serve para alguma coisa.
 
Sentes que o teu percurso artístico-literário te proporcionou um crescimento e um amadurecimento não apenas técnico, mas espiritual?
Tenho 1,80cm, mas com a idade dizem que decrescemos. Espiritual soa a religião. Amadurecimento, certamente.
 
Há etapas na tua carreira que podem ser traduzidos em períodos? Consegues distingui-los?
Picasso teve o período azul, o período rosa, eu fiz séries com temas diferentes, “Ditadores”, “War is Stupid”, etc, etc.
 
O que é que do Tchalé inicial permanece hoje no Tchalé maduro e consagrado?
Irreverência, humildade e humor. 
 
E o que é que perdeste e gostarias de ter conservado?
Dez paus num sonho e quando acordei fiquei frustrado.
 
Nunca te autocensuraste, a criar?
Nunca. É melhor não pensar nestas coisas quando se cria. Para censura e critica existem gajos e gajas com muita lábia.
 
Aceitas encomendas ou tens limites ao que te pedem? A haver, que limites são esses?
Não sou um restaurante Take Awey. Se tiver que pintar, por exemplo um mural, não aceito a ninguém ditar o que tenho que pintar.
 
Olhando retrospetivamente para a tua obra plástica, o que é que ela tem de biográfico? Tem mais ou tem menos do que a tua obra literária, onde a tua experiência de vida é evidente?
Tudo, porque é minha!
 

Enquanto criador, continua válida aquela ideia de Marx de que não basta interpretar o mundo, é necessário transformá-lo?
Não se pode mudar o mundo. Mas fazer arte e escrever, acho que faz de mim um canalha a menos neste mundo.
 
Esse teu olhar constantemente irónico, ferozmente crítico, sem esquecer o humor, vai nesse sentido?
Vai sim. Sem utopia esta coisa seria um caixote de lixo.
 
É verdade, não te conheço nenhum autorretrato? É tema que não te interessa?
Não sou narcisista. Para tanto, o retrato de Dorian Grey é tremendo e não sou de todo mauzinho.
 
Estas obras são peças soltas de um puzzle em constante construção a dialogarem entre si, ou são mais um capítulo de um “never ending book” que o artista vai escrevendo?
“Never ending” não existe. Um dia vou bater as botas. Mas enquanto a fonte não esgota , vou pintando estes universos da minha mitologia pessoal.
 
Como funciona a tua “mitologia pessoal”? Ela constrói-se a partir de que ideias, de que elementos, de que figuras?
Fala com Freud. Tudo vem do meu interior, do meu subconsciente.
 
Parece-me que há nesta exposição dois mundos distintos, e que um deles se constitui como mais uma série, na continuação ou prolongamento do que tens feito nos últimos anos (Ditadores, Colonialismo, Erotismo, Guerra). Enquanto ‘série’, este conjunto denso dedicado à violência, pretende-se um documento, um testemunho, uma reflexão..?
Na minha pintura existem vários mundos distintos. Às vezes opto por temas como referes aqui na pergunta, outras são frutos da minha imaginação. É claro que não pinto à toa, aquilo que pinto são mensagens e reflexões sobre a humanidade, a beleza e também sobre a perversidade do ser humano, este macaco numa nave biológica chamado terra, numa viagem cósmica. O mundo que amo também mete medo com os seus psicopatas, muita gente finge ignorar estas maldades, mas sentem.
 
Este processo de trabalho por séries significa o quê? A possibilidade de realizar conjuntos coerentes onde visas “esgotar”, ou tratar intensamente, um determinado tema, o que numa única obra não conseguirias?
Uma única obra seria muita pretensão. Séries são reflexões de um determinado momento.
 
A arte é uma das ocupações mais nobres do ser humano, concordas?
A arte é, certamente uma lanterna nas trevas, mas sem amor e compaixão nada feito. Existem muitos artistas com um ego tão inchado que só pensam em sucesso. Eu acredito que a arte deve ser mais do que vender obras nos indecentes mercados especuladores da arte, que acontece vergonhosamente todos os dias… Toda a profissão é nobre quando é feita honestamente e paga sem sermos explorados. Um varredor e um médico, cada um na sua, são necessários. Necessitamos todos uns dos outros.
 
O que diferencia o olhar de um artista do de um cidadão comum, a inquietação?
Somos todos cidadãos comuns. Todos temos as nossas inquietações. Há pessoas frívolas e outras mais interessadas em valores que podem trazer um melhor equilíbrio à humanidade.
 
És mais um autor de mensagens (políticas, sociais, mas não necessariamente panfletário) ou de sentidos (analítico, reflexivo)?
De tudo um pouco.
 
Quais são as tuas principais “bandeiras” (de luta)? Vão mudando com o tempo ou és fiel a algumas causas?
A minha bandeira é o humanismo, mas é claro que vou evoluindo e aprendi que não se pode lutar com pedras contra tanques de guerra. Faço aquilo que posso fazer para o bem dos outros, e de mim mesmo, e sei que assim sou um filho da puta a menos nesta cloaca. O mundo está cheio deles.
 
É a luz do futuro que nos guia ou é a luz do passado que nos ilumina?
Os budistas dizem que só existe o presente. O ser humano deveria tirar ilações do seu passado tenebroso, mas a merda repete-se sempre no futuro. Com toda a tecnologia está-se criando idiotas, todavia, quando vejo pessoas lendo livros há uma luz que acende em mim e me diz que há esperança.
 
A humanidade está a sair da escuridão ou a afundar-se nela?
Às vezes acredito que o ser humano foi uma falha de construção na sua evolução. Mas quando vejo que existem pessoas que escrevem, que existem bibliotecas com os seus maravilhosos livros, aquilo que, em elevação, mulheres e homens escreveram, vejo fósforos acendendo no labirinto, e esperançoso acredito que havemos de encontrarmos uma saída.
 
Qual a tua relação com a escultura? Nunca te deixaste tentar por ela?
Muitos artistas amigos já me disseram que as minhas figuras (na pintura) poderiam ser interessantes em escultura, mas nunca tive até agora o impulso. Adoro as esculturas de Henry Moore, Giacometti, Calder, Brancusi, Chillida etc …
 
Parte da tua obra, apesar de mostrar o que aconteceu e acontece, pode ser vista como um aviso à navegação ou como um presságio? Vês-te a vestir a pele de um Tirésias contemporâneo?
Ah, ah, ah, ah, não tenho a pretensão de ser Nostradamus. Cassandra avisou da queda de Tróia mas ninguém acreditou. Eu pinto não sou profeta.
 
Há uma longa genealogia de autores na história da pintura ocidental na qual podemos inscrever estas séries sobre a guerra, o horror, a morte, a loucura em estado de exaltação descontrolada: Bösch, Bruegel, Goya, Otto Dix, Picasso, Bacon, Basquiat, e por aí a fora. Revês-te nesta ínclita linhagem ou está a faltar alguém relevante?
Identifico-me com todos esses pintores. Afinal, somos humanos não somos? Infelizmente a história sempre se repete.
 
Somos um povo que lida mal com o seu passado (temos tantas coisas mal resolvidas no nosso sótão) que a pergunta parece-me inevitável: o teu trabalho é sobre a memória ou contra o esquecimento?
Talvez contra o esquecimento. Mas se referes a Cabo Verde, cabe aos historiadores tirar cá para fora, em livros, os cadáveres da fome e da antropofagia, das catástrofes cíclicas nestas ilhas. Não se pode pretender borrar a nossa história. Escravatura, fome, a luta de libertação, ditadura colonial, pós colonial, neste momento ditadura pseudodemocrática com discrepâncias sociais abismais. Eu sou artista. Neste caso, político, mas fora do esquema político institucional.
 
As obras nascem antes de nascer e vivem despois de concluídas. Contigo é assim?
Para nascerem tem que haver um coito, metaforicamente falando. Depois têm o seu caminho algures na casa de colecionadores, instituições e museus. Mas, juro, custa-me separar dos meus filhos.
 
Parafraseando Arménio, é pela metaforização do horror que a realidade se salva (e nós com ela)?
Sem dúvida. O Arménio é um erudito e poeta. Gosto muito dele. É um intelectual à moda antiga.
 
A vocação da arte é? (mostrar o visível que nos encanta e/ou horroriza, ou mostrar o invisível que, por o ser, assusta e nos recusamos ver?)
As pessoas fingem. A minha arte tem mais a parte que choca. O visível, na maioria das vezes, é máscara e frivolidade.
 
Quando é que uma obra está concluída, se é que alguma vez está?
Quando já não estiver ao meu alcance, caso contrário tenho sempre a tentação de dar mais umas pinceladas
 
Cada obra tem uma energia oculta que cabe ao espetador acionar. Concordas?
Existem pessoas que de forma banal dizem que não entendem, sem fazer esforço de captar a tal energia que referes. Uma vez em Paris fui com uma amiga (uma universitária) ver uma mostra de Rothko e ela disse que não sentia nada. Insisti com ela para se concentrar no quadro, um magnífico Rothko com fundo vermelho e dois retângulos no meio, também em vermelho escuro… Depois de algum tempo, observando-a atentamente, ela ficou num estado de tranquilidade Zen. Captou a tal energia que referes. É preciso saber olhar e também educar, e a melhor maneira é lendo e visitando galerias e museus. É fácil dizer, eu não entendo. Para lermos tivemos que aprender o alfabeto, não é? Com uma obra de arte é igual. Cultura é importante para a nossa libertação.
 
Os títulos são pistas, atalhos ou armadilhas?
Na maioria das vezes, são irónicos, outras, são pistas.
 
Eles condicionam ou não a leitura da obra?
Não! A obra fala por si.
 

Escreves para compensar o que a pintura não dá, ou é o contrário?
Cada coisa no seu lugar
 
A arte funciona como um martelo para partir (fazer parir) a casca de noz da realidade e mostrar a noz do real que ela esconde?
Às vezes, em vez de martelo, uso uma broca ruidosa. Foi o caso do quadro erótico que pôs as beatas e beatos escandalizados ao verem a representação da pixa de um homem e a crica de uma mulher nua. Foi bom ver esta gente escandalizada. Ah, ah, ah, ah! Moralistas pornográficos com as suas religiões de pedófilos e violadores de mulheres.
 
Vivemos num tempo de muitos excessos. Fiquemo-nos pelos das imagens e das notícias. Fico com a ideia de que quanto mais se mostra, menos se vê, que aquilo que devia servir para iluminar e revelar, afinal obscurece e cega. A arte também contribui para este caos. Ela não devia ter o papel inverso, detonar a banalização das imagens, provocar curto-circuitos neste sistema?
Com a minha arte e com a minha escrita vou tentando. Meto chave de fendas na tomada moralista das cabecinhas de alfinetes e … bum! Curto-circuito”! E fico contente que a minha arte serviu para mexer com eles.
 
Havendo tantas falhas no sistema das artes em Cabo Verde (não há políticas nacionais que vá para além de exposições; as políticas locais raramente vão para além do básico, rotundas e chafarizes; não há galerias, nem museus, nem instalações condignas para expor; não há instituições públicas ou privadas que apoiem as artes numa base regular; o mercado é exíguo; não há feiras, encontros ou uma bienal – no entanto sobram festivais de música em regime de copy paste, sem valor ou mérito, mas para onde são canalizados milhares todos os anos), no entanto da parte dos artistas e das suas organizações não há um mínimo de ação, de indignação, de protesto? Como se percebe isto?
Uns, porque não têm colhões ou ovários. Outros, porque contentam-se em pedir migalhas aos governos.
 
Falar-se de uma comunidade de artistas em Cabo Verde é pura ficção. É cada um por si, certo?
Nunca gostei de comunidades. A minha carreira sempre foi a solo. Houve correntes na história da arte que reuniram artistas e foi bom. Mas eu nunca me interessei por comunidades. O caminho se faz andando. Pata clubismos, gosto do ‘Mindelense’ e do ‘Arsenal’ e é suficiente. Comunidades, dispenso.
 
E qual é o papel da SOCA no meio disto tudo? O que é que faz?
Sei lá!!! Gosto de ‘soca’, uma música bem dançante de Trinidad e Tobago.
 
Sejamos sérios, qual tem sido o contributo dos artistas para a dinâmica daquela organização?
Não sei, não estou informado e não me interessa.
 
Este marasmo e esta indiferença interessam a quem, afinal?
A mim, certamente que não.
 
“Nenhuma obra de arte nasce de algo que não seja a experiência de vida do artista”,disse o Pedro Cabrita Reis. Concordas?
Toda a obra e autobiográfica.
 
Olhando para a tua obra duas perspetivas parecem impor-se: um olhar global (o dos grandes temas, traduzido em séries) e um olhar local (em que pões a nu a sociedade urbana contemporânea, com os eus vícios, tiques, tipos, resistindo à tentação regionalista). Se o tiro foi ao lado, corrige?
A minha obra é universal. Mas vivo num bairro chamado Cabo Verde e com olhos de lince observo o quotidiano, pinto, escrevo e falo sobre aquilo de que gosto e de que não gosto.
 
A presença recorrente de símbolos africanos, como a máscara, ceptro/bastão, lança, também no traço rígido e escultórico de algumas figuras, é uma influência inconsciente, é a celebração de um reencontro com as nossas raízes ou é uma tomada de posição (statement)estética e política, se é que para ti as duas coisas estão separadas?
Máscara e ceptro são símbolos que encaixam bem na minha visão deste continente e do mundo. A cultura africana, não escrita pelo ocidente, é riquíssima. Estudei várias obras de arte africana tradicional e ali fui beber… Máscaras todos temos, e ceptros simbolizam grandes e pequenos poderes dos homens, de déspotas. A mascarada, neste carnaval, existe, é a condição humana.
 
O nosso diálogo cultural com áfrica continua paupérrimo. Se excetuarmos alguma música e pouquíssimos compositores, a CPLP que não funciona ou funciona mal no papel, a literatura, as artes visuais, a dança, o teatro, tudo junto, o que temos é um deserto. Continuamos hipnotizados pela Europa, onde, com exceção da música, ninguém nos liga nenhuma. Sei que não há uma varinha mágica, nem tens uma bola de cristal, mas como és um dos nossos poucos artistas a abrir caminho lá fora, como é que se muda este estado de coisas?
Dakar é só a 500 km. Vou lá todos os anos expor e apreciar a sua dinâmica cultural. Têm uma Bienal, e nós aqui? À Europa vou também graças ao meu esforço e contactos. O Governo de Cabo Verde deveria criar contactos com a bienal de Dakar, Joanesburgo, Bamako e abrir novos horizontes aos artistas deste país.
 
Temos um problema mal resolvido com África ou é África que tem um problema connosco?  A verdade é que, o intercâmbio é pouco mais do que nulo. Ninguém sabe o que por lá se passa (ao menos tu, de vez em quando, lá vais a Dakar e a uma ou outra paragem), mas eles também não se parecem muito preocupados com o que aqui andamos a fazer, certo? É como se fossemos irmãos desavindos sem saudades uns dos outros. É do que te apercebes quando lá vais?
Quando lá vou, sinto-me amado, apreciado, respeitado. O Crioulo que é um complexado e não aceita a sua parte africana, não tem a mínima ideia quão rica é a dinâmica cultural destes nossos irmãos, que são “demasiados pretos” na visão da maioria dos Cabo-verdianos. Até ao dia em que o crioulo vai até à América, ao Brasil e à Europa e se apercebe que nestes lugares somos todos pretos. Uns com mais melanina, outros com menos, mas pretos na mesma. Existe uma dinâmica cultural entre as ex-colônias francesas e a França, entre os anglófonos com a Inglaterra e até com os alemães, que não existe entre Portugal, Brasil e nós. A CPLP é pura treta.
 
Por que razão é tão raro, ou quase nunca, se vê um artista visual cabo-verdiano a participar nos grandes eventos, encontros, mostras feiras de arte, que há por esse mundo fora, em todos os continentes, e em alguns em países com quem até mantemos boas relações, casos do Brasil, Portugal, Espanha, etc., etc?
Creio que os únicos, sou eu e o Alex. Já estive na ‘Arco Madrid’ com a galeria ‘Novo Século’, de Lisboa, com a ‘Perve’ em Istambul e Paris e irei no próximo ano a Nova Iorque. Trabalho com galerias e, como sabes, para um artista trabalhar com uma galeria tem que ter requisitos estéticos que estas exigem. Por outro lado, cabe ao governo ter estes contactos importantes e investir num stand nestas bienais e feiras. É preciso realçar que existem júris nestas feiras e se estes acharem que os artistas não têm qualidade, não são aceites.
 
Está a faltar-nos um museu dedicado às artes visuais. Transformar o Arquivo Histórico ou adaptar a antiga Central Elétrica, através de uma intervenção arquitetónica icónica, seriam duas boas opções? Ou estarei a sonhar alto?
Todos estes dois sítios podem servir. Mas primeiro necessitaríamos de um grande arquitecto (não tem que ser as grandes estrelas, Herzog, Cisa, etc.) que conceba a restauração do espaço, depois um curador profissional, para criar um museu moderno dinâmico e rentável, que possa atrair pessoas.
 
E uma bienal de Arte, está a fazer falta ou não?
Cultura faz falta sempre. Uma Bienal atrai milhares de pessoas. Constatei isso em Dakar. Mas para isso o estado tem que intervir, criar uma comissão permanente, um escritório com pessoas qualificadas na área e curadores. A União Europeia poderia ser o mecenas e a ajuda da mão-de-obra de vários curadores africanos.
 
Como é que um sampadjudu, mindelense de gema, de Rua de Praia, no coração de Mindelo, consegue adaptar-se à badia Praia? Foi difícil? O que te custou mais?
Não custou muito. Se vivi 15 anos na Europa, Praia não seria o desterro. Cabo Verde é o meu país e, com amor, tudo é mais fácil.
 
Então a razão da mudança foi…
Amor!
 
A propósito desta exposição, bem, de uma parte dela, quando a utopia se veste com as cores da distopia o resultado é um Requiem ou uma Marcha Fúnebre?
Prefiro a nona de Beethoven, ah, ah, ah…
 
A poesia ainda é possível depois de Auschwitz, Pol-Pot, Kosovo, Ruanda…?
Certamente que nesses países que referes existem hoje poetas, e das memórias da podridão do mundo há sempre esperança. A flor do lótus é tão bela, mas nasce em águas sujas.
 
Esta exposição, que é um up to datedas temáticas mais recorrentes da tua obra, reúne a tua produção mais recente (2018-2019). Se não estamos perante um discurso estético autocentrado (género “Tomem lá mais Tchalé!”), então é o quê, uma tentativa de dialogar com o público (o que por vezes é frustrante), mais um teimoso exercício de escuta?
Quem tem olhos enxerga! O pior é oferecer uma lanterna a um cego. Eu não creio que este país esteja totalmente às escuras,
 
O papel da arte (de toda a criação em geral) é, fundamentalmente, este, pôr-se teimosamente à escuta. À escutado tempo e dos outros, sendo que a escuta é uma forma nobre, silenciosamente ativa, de diálogo. Concordas?
Se não escutam hoje, talvez amanhã outros o possam fazer. O importante é criar.
 
A recente crise dos refugiados, tema esmagador, ainda não entrou na tua obra (indiretamente sim, como consequência de muito do que mostras na tua obra), ou estarei distraído?
Não! Há muitos anos atrás pintei uma obra enorme sobre os náufragos e refugiados. Numa grande piroga, gritavam de forma dramática.
 
Não te cansas de olhar a miséria humana?
Canso e protesto. Se tivesse que fazer três desejos seriam: acabar com, a tristeza, a miséria e o sofrimento no mundo.
 
Queres comentar essa máxima de, que no fundo é um desejo utópico, de que  “Todo mundo é um artista.” disse Joseph Beuys. É assim?
Conheço esta frase e estive com este senhor no ‘Kunstmuseum’ onde a performance dele foi lavar os pés as pessoas. Acho esta frase provocativa. Beuys foi é um grande artista.
 
Conheces, ou já te associaram à pintura do belga/holandês Guillaume Cornelis van Berverloo, do peruano José Tola e do inglês Chris Ofili?
Não conheço essa gente, mas já me falaram de similitudes com o Belga Ensor. No começo da minha carreira fui influenciado pelo artista suíço Martin Disler. Quem fala de Picasso na minha obra não entende patavina de pintura.
 
Qual o papel do pintor Manuel Figueira na tua obra?
Nenhum. Somos de escolas completamente diferentes. Eu sou da geração dos ‘Neue Wilde’ e da ‘Transvanguardia’ italiana.
 
O que é que está a faltar para que se ‘legalize o pensamento’? Esta é uma frase tua.
Nada é novo, tudo é esquecimento
 
Há uma década ou duas atrás eram uma dúzia de artistas plásticos. Hoje são centenas e todos querem um lugar ao sol. É isto que se chama democratização da arte?
Se querem um lugar ao sol tem que estar atentos a insolação, mas todos têm o direito de sonhar.
 
Sentes ódio, raiva, desprezo por algo, ou alguém?
Palavras fortes. Não! Desprezo o fascismo e tudo o que é contra a evolução da humanidade. Ódio não, compaixão, sim.
 
O realizador Abel Ferrara disse recentemente que “Não foram as drogas e o álcool que fizeram de mim um realizador.” Acreditas que o álcool e/ou os estupefaciente são bons estimulantes para a criação?
Bukowski o fez bebendo toneladas de álcool. O que é bom para uns nem sempre é bom para outros, cada um tem o seu tubo de escape.
 
Já funcionaste assim alguma vez?
Não. Tentei, mas não consegui. Principalmente com a pintura. Mas na poesia uma garrafa de bom vinho ajuda.
 
És proibicionista ou legalizacionista no que respeita às drogas?
Eu não faço leis. As droga são algo fora do meu universo. Nos USA já vendem canabis como medicina, Se cura, porque não? As drogas pesadas, não creio que curem, pelo contrário, matam!
 
Se fosses Dante, quem seria o teu Virgílio? Um poeta, um músico, um escritor, um artista plástico? Com quem gostarias de visitar o Inferno?
Aqui é o inferno. Dante é fruto da religião e o inferno deles é uma maldade com gente queimada num fogo eterno. Porra! Depois da morte neste inferno, um gajo se vai ao tal inferno (baboseiras), fica toda a eternidade a queimar, sofrendo? Que horror!
 
Pintar é, de certa forma, encenar o mundo?
Pintar é reflexo daquilo que vivi, vivo e li em livros.
 
“El arte que me interesa tiene raíces en la metáfora” disse Àngels Ribé, ea tua arte?
Tem raízes na metáfora, sim. Metáfora é uma figura de linguagem que produz sentidos figurados, é o caso da minha pintura.
 
“Crear te convierte en una persona sin miedo, te da fuerzas para inventar cosas y para hacerlas.” (Àngels Ribé) Concordas?
É preciso ter colhões e ovários para não ter medo e criar sem nos preocuparmos com os mentecaptos e os moralistas.
 
A arte ou é plágio ou é revolução, dizia Gauguin. É assim?
Definitivamente, revolução, quando não é plágio. Infelizmente, existem mais fotocópias do que originais.
 
No teu processo criativo és o mesmo Tchalé, o do café, do convívio, ou estás totalmente absorvido, desligado do que te rodeia, a viver uma espécie de transe?
Transe é para yoguise budistas. Eu pinto com alegria, escutando música clássica.
 
Toda agente tem manias, rituais, superstições. Quais são as tuas?
Devo ter. Francamente não sei responder.
 
Começas a pintar diretamente na tela ou é pelo desenho, pelos esboços?
Depende. Às vezes vou à casa de banho peidar e fico esboçando na minha cabeça… Nunca faço esboços. Desenho na tela e pinto. Tudo vem de dentro.
 
És um animal de hábitos?
Caramba! A rotina mata.
 
Qual o teu horário de trabalho?
Não tenho escritório.
 
O que consideras um dia bom do ponto de vista produtivo?
Quando pinto é para mim produtivo.
 
Não havendo uma receita para estas coisas, quanto tempo levas normalmente para concluir um trabalho? Quanto tempo demorou a concluir o mais rápido e, já agora, o mais demorado?
Tudo o que faço, rápido ou demorado é fruto de 40 anos de trabalho criativo, muita leitura e paixão.
 
Conhecendo a tua relação de fascínio com a obra de Max Beckman, pergunto se as espadas que aqueles monstros empunham e as caveiras são uma forma de citação do pintor alemão ou é uma homenagem?
São símbolos que estão presentes em várias pinturas em diferentes culturas. Mas, também gosto de Beckman.
 
A propósito de um dos trabalhos mais icónicos desta exposição li isto do escritor alemão Ralph Rothmann: “A verdade é que quando eu era criança, e também durante a juventude, sonhava que estava a ser fuzilado.Nunca percebi porque tinha este sonho. Eu nunca tinha passado por uma situação de guerra.” Calculo que ainda não tenhas lido o livro do alemão (“Morrer na Primavera”) e que ele não te conhece. Achei uma coincidência incrível as duas cenas. Que las hay, las hay (as coincidências)!
Não li, não. Coincidência. Não acredito em bruxas
 
“I have found that if we think like kids, the world would be a much better place to live in.” sinceramente, não sei se concordo com Emeka Udemba. E tu?
Aqueles que não perderam uma certa inocência das crianças, creio que em adultos são menos infelizes, menos máquinas, menos certinhos. Mas olha que também existem crianças perversas. Basta ver as lutas nas caixas de areia dos parques. Controlo de território, liderança, etc. O reptiliano no humano não se esconde.
 
Uma coisa não tem necessariamente a ver com a outra, por isso cá vai: Coincidem os autores que mais te influenciaram com os autores de que mais gostas?
Nem por isso. Mas uns e outros foram e são parte da minha aprendizagem neste ofício de vendedor de sonhos e utopias.
 
Se tivesses que escrever o teu epitáfio, qual seria?
Desta ninguém escapa, seus sacanas!
 
José E. Cunha
 
* Uma reversão reduzida desta entrevista foi publicada no jornal A NAÇÃO nº 642, de 19-12-2019.

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