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Sociedade

Praia: Natal consumista… mas não para todos

Entre brinquedos, roupas, bijuterias, relógios e perfumes, sobressaem os livros na lista dos presentes deste Natal. Mas nem todos têm condições de se render ao consumismo natalício e há famílias para quem o Natal é mais um dia no calendário e o que importa mesmo é a “vida ku saúdi”. 
A época natalícia é uma das alturas, senão a altura, mais aguardada pelos comerciantes do Platô e artesãos, para verem as suas vendas dispararem em flecha. O frenesim é evidente nos diferentes tipos de comércio que a zona histórica da Praia tem para oferecer. Mesmo à noite, verifica-se um movimento atípico ao resto do ano, seja na Pedonal, seja nas outras artérias. É que as luzes de Natal e enfeites colocados pela Autarquia superaram este ano as expectativas dos praienses. “Está muito bonito. Dá gosto andar aqui em família, trazer as crianças para brincarem”, é uma frase muito ouvida entre os entrevistados do A NAÇÃO.
Filézia Évora, natural da Boa Vista e de passagem na Praia, para uma consulta com a filha, aproveitou para fazer umas compras de Natal e não só. Até porque, como diz, na Boa Vista há menos ofertas e o que há é muito mais caro.“ Uma coisa que, aqui, custa 800 escudos, se encontrarmos lá, vai custar 1500 ou mais”.
Estudante de Direito e trabalhadora Filézia vai ter de fazer ginástica ao dinheiro para comprar presentes. “Vou gastar mais, porque tenho mais dois afilhados, não porque tenha mais dinheiro. O meu vencimento continua o mesmo. Só que é preciso saber gerir bem a verba disponível”. 
Para as crianças mais pequenas vai apostar em brinquedos tradicionais (bonecas e carrinhos) mas para as maiores, a partir de 10 anos, aposta em roupa e calçado, enquanto para os adultos costuma oferecer relógios e carteiras, mas o importante diz, é viver o espírito natalício com os que mais ama. “O nosso Natal na Boa Vista é simples. Juntamo-nos em família na ceia e saímos depois da meia noite para dar as boas festas a outros familiares e amigos. Depois vamos a alguma festa para dançar até de manhã”.
Enquanto Filézia anda às compras, Ângela Rodrigues espera vender, e bem, este ano. Artesã de profissão, Angela é uma das profissionais que integram a feira de artesanato local e economia solidária da Câmara Municipal da Praia, na Praça Alexandre Albuquerque. “Na rua pedonal era melhor”, diz Angela, reforçada por outros colegas das barracas vizinhas, que garantem que “lá há mais movimento”. 
Mesmo assim, já que estão aqui, agora é esperar para que as vendas aumentem à medida que o Natal se aproxima. “As pessoas ainda estão à espera de receberem os seus salários para gastarem. A experiência é que na Noite Branca e entre os dias 22 e 24 as vendas aumentam sempre”, revela expectante. 
Vendas prometem 
Mas, quem não se pode queixar até agora é o espaço Art Gallery, uma loja que reúne um colectivo de nove artesãos. “Para já as vendas estão melhores, pois, as pessoas este ano começaram a comprar antes, em vez de deixarem as compras só para as vésperas do Natal”, revela uma das funcionárias. 
Enquanto o consumo da Art Gallery vai de boa saúde, a realidade de Fátima Gomes Moreira, vendedeira de rua, em frente ao Tribunal da Praia, contrasta com toda a azáfama de consumismo natalício constatado nos últimos dias em vários pontos da capital, em especial no Platô. Mãe de cinco filhos, é a única que trabalha para colocar sustento “na mesa”. 
“Não tenho dinheiro para presentes e tenho um filho doente”, conta sem avançar mais pormenores, mas também consciente de que a vida é assim, e que o mais importante para ela, e para a sua família, é que o “Natal é para Deus dar vida com saúde…” Sem presentes e sem mesa farta, ou uma ceia típica de Natal, esta chefe de família garante que vai ter uma noite “normal”, e vai servir o jantar “de sempre”. “Ou arroz com peixe, ou galinha…o que houver”.  
Mas, nem por isso Fátima deixa de sorrir e desejar a todos um bom trabalho e um Feliz Natal. Fátima será certamente o rosto de muitas mães por estas ilhas fora, para quem o Natal não passa de mais uma data no calendário, e o importante é mesmo continuar a ter o que colocar na mesa para dar aos filhos e se desenrascar no seu dia a dia. Sem stress e preocupações de compras e de que presentes oferecer, ou enfeites de Natal para decorar a casa. Mesmo assim, o Natal faz circular a economia, com mais ou menos solidariedade. 
GC
(Leia mais no A NAÇÃO impresso, nº 642, de 19 de Dezembro de 2019)

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