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Sociedade

Insegurança e inconformismo marcam o ano 2019

O ano 2019 ficou marcado pelo assassinato de várias pessoas, inclusive de um agente da Polícia Nacional, e uma tentativa contra o presidente da Câmara Municipal da Praia, Óscar Santos. Ficou também marcado pela apreensão de grandes quantidades de drogas e dinheiro, nomeadamente, na operação ESER no Porto da Praia e “Operação Troia”, no bairro de Eugénio Lima. A população do Tarrafal (Santiago) e da ilha Brava, à semelhança de São Vicente, saíram à rua para manifestar contra o marasmo e abandono. 
 
A nível social, o ano 2019 ficou marcado negativamente por um pico de insegurança registado essencialmente na cidade da Praia, entre os meses de Outubro e Novembro. 
Neste quadro, destaca-se a morte de dezenas de pessoas, inclusive do agente da Polícia Nacional, Hamilton Morais, e a tentativa de assassinato do edil praiense, Óscar Santos. 
Por sua vez, dezenas de estabelecimentos comerciais foram alvos de assaltos à mão-armada, num nível de violência jamais verificado no país. 
Paulo Rocha, ministro da Administração Interna, admitiu, em Novembro, no Parlamento, que até essa altura tinha-se registado cerca de 30 casos de homicídios, considerando que houve uma redução comparativamente a 2018 (37 casos).  
Entretanto, de acordo com o levantamento do A NAÇÃO, até ao fecho desta edição, estavam registados 33 casos de homicidios, ou seja, quatro a menos do que em 2018. 
14 medidas do Governo 
Face à onda de violência registada, o Governo anunciou “14” medidas para a prevenção e combate à criminalidade, nomeadamente a “Priorização das investigações, dos processos e julgamentos, relacionados com a criminalidade urbana” assim como a “Agilização do tempo de investigação de processos-crime”. 
Nesse mesmo âmbito constam medidas como a “Revisão do regime de aplicação do TIR e de medidas cautelares em casos de crimes cometidos em flagrante delito e de forma reincidente”, o “Agravamento da pena na reincidência”, a “Revisão da lei de armas e Reforço do patrulhamento e de pressão policial (PN e PJ) nos locais de maior índice de violência”.
Outros casos 
João Spencer, natural de Pedra Badejo, Santiago, e emigrante em Portugal, saiu de casa na noite de 8 de Abril, depois de receber uma chamada telefónica. Quatro dias depois foi encontrado sem vida perto da “Praia dos Amores”, que fica situada entre os concelhos de São Miguel e Santa Cruz. Os meandros do seu desaparecimento e morte continuam por esclarecer.
No mês de Maio, em menos de uma semana, foram assassinadas três pessoas. Os mecânicos Luís “Badoku” Correia e Nelson “Pikinho” Duarte foram baleados, no dia 9 daquele mês, na localidade de São Pedro. As duas vítimas encontravam-se dentro de uma viatura quando foram surpreendidas por encapuzados. 
No dia 14 de Maio, o jovem Alinio Pereira também foi morto à facada no Bairro de Ponta d’Água, arredores da cidade da Praia.
No dia 29 de Julho, o Presidente da Câmara Municipal da Praia foi atingido com um tiro, por volta da 5h30 da manhã, quando se dirigia para um ginásio que frequenta no Palmarejo Baixo. À sua espera estavam dois encapuzados que, depois do disparo, se puseram em fuga. Até hoje ignora-se o desfecho do caso. 
Em finais de Outubro, foram registados três casos de homicídios na cidade no espaço de três dias. No dia 26, um sábado, Marlice da Luz Monteiro, de 37 anos, foi encontrada morta, numa encosta do Monte Babosa, nas proximidades de um condomínio onde trabalhava como empregada doméstica.
 A vítima tinha saído de casa, na sexta-feira, 25, de manhã, para ir trabalhar e nunca mais voltou a casa. O seu corpo foi encontrado sem vida e sem roupas. No local também foram encontrados vestígios de sangue. 
No dia 29 de Outubro, o agente da Polícia Nacional, Hamilton Morais, foi atingido com um tiro no pescoço em Tira Chapéu durante uma operação policial. O suposto agressor, Eliseu Sousa, que também é agente policial, encontra-se preso a aguardar pelo julgamento na cadeia de São Martinho. 
A forma como as autoridades policiais (e não só) foram posicionando-se em relação a este caso mais que contribuiu para aumentar o clima de suspeição em torno dos meandros desse acontecimento com grande repercução dentro e fora do país.
Um outro assassinato registado foi o do jovem Anildo Semedo morto à facada, na noite de 30 de Outubro, no bairro de Safende, na sequência de uma briga com um outro jovem. Anildo Semedo, natural de Figueira das Naus, Santa Catarina, residia há vários anos na Praia.
Novembro 
Gilson dos Santos, “Gí de Anália”, de 26 anos, que residia em Achada Mato, foi encontrado morto no dia 2 de Novembro, em Cobom Mendes, arredores do bairro de Jamaica.
Já, no concelho de Santa Catarina, a jovem atleta Eveline Vaz, “Tunuca”, foi morta à facada, a 22 de Novembro, na localidade de Nhagar quando tentava separar um desentendimento entre um casal. Ao fazê-lo, a jovem de apenas 20 anos acabou perdendo a própria vida. 
Na cidade da Praia, também a atleta Maria Silva, “Sakis”, foi morta à facada, a 1 de Dezembro, no bairro do Brasil, Achada Santo António, onde residia. “Sakis” foi esfaqueada quando também tentava separar uma briga entre os jovens. 
No dia 23 de Novembro, Juvelino Gonçalves foi assassinado a tiro, na localidade de Ribeirão Chiqueiro, no concelho de São Domingos. Juvelino, que se encontrava dentro  de uma viatura, foi alvejado com vários tiros, quando saía de um fontenário.
A cidadã italiana Marilena Corrò, 52 anos, foi assassinada a 26 de Novembro, na ilha da Boa Vista. O corpo foi encontrado no reservatório de água dentro da sua pensão, em Sal-Rei. A malograda terá sido espancada até morrer, supostamente, por um outro italiano que era inquilino da sua residência. 
Anderson Gomes foi baleado, na madrugada de 25 de Dezembro, na localidade de Librão, Santa Catarina, onde festejava o Natal. O jovem de 20 anos, foi supostamente  atingido por uma “bala perdida”, durante um tiroteio.
A vítima residia na cidade da Praia, mais foi passar a festa do Natal com os familiares na localidade de Librão. E no decorrer de um baile na zona, por volta das duas horas da madrugada, começou uma briga entre dois emigrantes. E  ao tentar separar uma briga entre dois emigrantes houve um tiroteio  e Anderson foi atingido.
 
Maior apreensão de droga  
Em finais de  Janeiro de 2019, a Polícia Judiciária apreendeu 9,570 toneladas de droga no Porto da Praia, no interior de um navio cargueiro internacional. 
Nesta que foi a maior apreensão de sempre realizada no país foram detidas 11 pessoas, todas de nacionalidade russa. Os detidos estão a aguardar o julgamento na cadeia se São Marinho. 
Já, no dia 3 de Julho, durante a “Operação Troia”, a Polícia Judiciária (PJ) aprendeu 11.878 quilos de cocaína e seus derivados, e cerca de 16 mil contos em dinheiro, além de armas de guerra de diferentes calibres e viaturas, no bairro de Eugénio Lima. 
Na sequência das diligências foram detidos indivíduos de nacionalidade cabo-verdiano que estão a aguardar o desenrolar do processo em regime de prisão preventiva. 
 
 
Manifestações sociais 
Durante o ano findo, e à semelhança do que aconteceu em São Vicente (ver pgs-E8-E9), a população de vários concelhos do arquipélago saíram às ruas para demonstrar o seu desagrado em relação ao estado de abandono das suas comunidades e descaso das autoridades. 
Os jovens do concelho de Tarrafal (Santiago) realizaram uma marcha a 11 de Janeiro para exigir o desenvolvimento, mais transparência na governação local e emprego jovem. 
Centenas de jovens abraçaram a iniciativa do Movimento “Corda Tarrafal”, protagonizando uma marcha de protesto pelas ruas da  Cidade de Mangue contra a situação em que se encontra aquele município do interior.
Por seu turno, a população da pacata ilha Brava saiu às ruas de Nova Sintra, numa manifestação pacífica liderada pelo “Movimento Basta”, como forma de chamar atenção do Governo sobre a situação que a ilha atravessa. 
Os participantes, na maioria trajados com t-shirts negras com a expressão “Basta” estampada no peito, empunhavam cartazes e dísticos, ao mesmo tempo que lançavam palavras de ordem exigindo mais e melhor saúde, barcos no porto com maior frequência, assim como a presença assídua de uma equipa da televisão pública na ilha. 
Também em São Nicolau, no dia xxxx, um grupo de cidadãos saiu à rua para reclamar a situação de transportes de e para a ilha. 
 
Morte de D. Paulino Évora 
O ano 2019 ficou ainda marcado pelo desaparecimento físico do Bispo Emérito de Santiago, Dom Paulino Évora, falecido no dia 16 de Junho, na residência das Irmãs Franciscanas em Achada Santo António, na Cidade da Praia. 
Dom Paulino foi o primeiro bispo cabo-verdiano e tomou posse na Diocese de Santiago de Cabo Verde em 1975.
 
 
 
Seca
A população do mundo rural foi afectada mais uma vez por um ano de seca severa e consequentemente mais um mau ano agrícola. 
Para além da falta da chuva registou-se também a invasão de pragas de gafanhotos que dizimaram os campos agrícolas de alguns concelhos do interior da ilha de Santiago. Uma situação que se arrasta desde 2017. 
 
 
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº643, de 26 de Dezembro de 2019)
 

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