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Economia

2020, o ano do tira-teimas

A fazer fé nas projecções no Banco de Cabo Verde (BCV), a economia cabo-verdiana deverá registar um recuo em 2020, para 5% do Produto Interno Bruto, relativamente aos 5,2% projectados para 2019. Fora isso, a economia, quer em termos micro, quer macro, vai sobrevivendo fortemente alavancada no turismo, quase numa espécie de perigosa “monocultura”. Mas este é também o ano do “tira-teimas” entre o que diz o Governo e a realidade dos factos.

Dados revelados recentemente pelo Banco de Cabo Verde prevêem que o crescimento económico do país deverá recuar em 2020 para 5% do produto interno bruto (PIB), face aos 5,2% aguardados para 2019. Isto, depois de em 2018 o crescimento ter ficado na ordem dos 5,1%.  

Conforme o Relatório de Política Monetária e as Projeções Macroeconómicas para Cabo Verde 2019-2020, o PIB cresceu, em volume, 5,7% no primeiro semestre, impulsionado pelas exportações líquidas e pelas despesas de consumo final, enquanto a inflação média anual fixou-se nos 1,2%, até Agosto.

“Em termos de perspectivas, as actuais projecções do Banco de Cabo Verde apontam para a manutenção do ritmo de crescimento económico em torno de cinco por cento em 2019 e 2020 e para o aumento dos preços no consumidor, em termos médios anuais, em 1,2% para 2019 e 1,3% em 2020”, refere o relatório do BCV. 

Já dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que o PIB cresceu em volume 5,7% no primeiro semestre de 2019, impulsionado, principalmente, pelas dinâmicas de administração pública, impostos líquidos de subsídios, comércio, imobiliária e outros serviços e construção, não sendo conhecidos para já dados mais actuais.

Também o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em alta a previsão de crescimento económico de Cabo Verde em 5,2% para 2019. 

A meta das receitas fiscais ficou, no entanto, “aquém” do que era desejado, conforme informações prestadas por esses responsáveis numa colectiva de imprensa no passado dia 16 de Dezembro.

A economia cabo-verdiana continua, ainda, demasiado alavancada no turismo e serviços, o que tem constituído motivos de preocupações para certos analistas. Ainda assim, de uma forma geral, são as pequenas e médias empresas que mais empregam no país. 

Dados do INE apresentados em 2019, com base ano económico de 2018, mostram que a taxa de desemprego situou-se em 12, 2%, valor semelhante ao verificado no ano anterior, deixando transparecer que o crescimento económico teve pouco reflexo na diminuição do desemprego em termos práticos. 

O desemprego jovem e a inserção dos licenciados no mercado de trabalho para além dos estágios profissionais continuam a ser grandes desafios da economia para 2020.

Turismo

Também o turismo cabo-verdiano enfrenta grandes desafios em 2020, o mais importante dos quais o de trabalhar para subir no ranking da competitividade turística, depois de ter caído este ano cinco posições na tabela ao passar da 83ª posição para a 88ª posição, num total de 140 países avaliados. 

Cabo Verde continua muito focalizado na meta de aumentar quantitativamente o número de entradas de turistas no país e tem descorado a qualidade do destino e o chamado valor acrescentado no sector. 

Mesmo assim, em 2019, e focalizando nos últimos dados disponíveis, o país registou no terceiro trimestre de 2019, um aumento do número de hóspedes na ordem dos 6,8%, face ao trimestre homólogo do ano passado. No mesmo período, as dormidas cresceram 1,9%, relativamente ao mesmo período do ano 2018.

Dados do INE, mostram que, de Janeiro a Setembro, tal como se tem verificado há vários anos, o Reino Unido continua a ser o principal país emissor de turistas e os turistas ingleses foram os que permaneceram mais tempo em Cabo Verde, com uma estadia média de 8,9 noites. 

Como tem sido corrente também, a ilha do Sal foi a mais procurada, representando cerca de 53,0%, das dormidas nos estabelecimentos hoteleiros. Ao que tudo indica, este deverá ser o quadro que irá fechar 2019 em termos estatísticos para o turismo.

Ainda segundo o INE, de Janeiro a Setembro de 2019, os estabelecimentos hoteleiros registaram mais de 595 mil hóspedes e, cerca de 3,7 milhões de dormidas, movimentos que se traduzem em acréscimos de 7,5% e 3,9%, respetivamente, em relação ao mesmo período do ano anterior. 

Esses números que deverão certamente subir entre Outubro e Dezembro deste ano, tendo em conta que se trata de um trimestre de época alta e que também coincide com a elevada procura nas ilhas do Sal e Boa Vista para as festas de fim de ano.

Tal como aconteceu entre Janeiro e Setembro do ano findo, em que a ilha do Sal teve maior acolhimento, com 48,4%, do total das entradas, seguida da ilha da Boa Vista com 29,8% e Santiago com 11,6%, a tendência deverá manter-se até final do ano e também em 2020.

Em termos turísticos, 2019 ficou ainda marcado pela entrada em vigor da Taxa de Segurança Aeroportuária, TSA, (que ronda os 30  e poucos euros) e que veio substituir os vistos praticados à entrada no país (25 euros). Contudo, e passado praticamente um ano, a TSA continua a gerar constrangimentos nos aeroportos, com filas de espera e registos online antecipados que depois quando os turistas chegam no país, não se encontram no sistema e são obrigados a pagar novamente a TSA. Isto conforme relatos de operadores publicados já várias vezes pelo A NAÇÃO.

Importações/exportações 

A economia cabo-verdiana deverá em 2020 seguir a tendência de 2019, fortemente condicionada às importações, e com fraco desempenho nas exportações, centradas nos enlatados de pescado e vestuário. Dados provisórios do Comércio Externo relativos ao 3º trimestre deste ano, avançados pelo INE, indicam um decréscimo das Exportações na ordem de (4,0%) relativamente ao mesmo período de 2018.

Os dados mostram ainda que as Importações diminuíram (5,7%) face ao período homólogo de 2018. O INE explica que se nota um aumento das reexportações em 13,9% comparativamente ao mesmo período de 2018 e que no período em analise, o deficit da balança comercial diminuiu (5,9%) e a taxa de cobertura aumentou em 0,2 pontos percentuais.

Analisando agora os números mais a fundo, no trimestre em apreço, as exportações de Cabo Verde totalizaram 1.742 mil contos, correspondendo a um decréscimo de (-4,0%) face ao 3o Trimestre de 2018 (-72 mil contos).

A Europa, continua a ser o principal cliente de Cabo Verde, absorvendo 97,7% do total das exportações, sendo que a Espanha lidera o ranking dos principais clientes na zona económica europeia, representando, no período em análise, (81,3%) do total das exportações.  

No 3º trimestre deste ano os produtos mais exportados por Cabo Verde foram os preparados e conservas de peixes, representando (64,4%), seguidos da classe dos peixes, crustáceos e moluscos, com (17,1%) do total, enquanto o vestuário ocupa o terceiro lugar com um peso de (9,5%). Tendência essa que se deverá manter até final deste ano.

O continente europeu, continua também a ser o principal fornecedor de Cabo Verde, com 78,0% do montante total, seguido de Ásia/Oceânia (10,3%), América (7,7%), África (1,7%) e o Resto do Mundo (2,3%). Portugal lidera entre os fornecedores, com (45,4%) do total, (7,9 p.p. a mais em relação ao mesmo período do ano anterior), seguido de Países Baixos e da Espanha, com respetivamente, (13,3%) e (8,7%), do total das importações.

No 3º trimestre de 2019, os produtos mais importados atingiram 48,1% do montante total das importações do país (contra os 48,2% alcançados por esses mesmos produtos no período homólogo). 

Os combustíveis lideram o ranking com (11,5%), seguido de máquinas e motores (8,0%), reatores e caldeiras (6,5%), ferro e suas obras (6,0%), veículos automóveis (3,6%), cimentos (3,1%), bebidas alcoólicas (2,6%), milho (2,3%) e leite (2,2%).

Conforme os últimos dados disponíveis do INE, as importações por grandes categorias de bens mostram que, no 3º trimestre deste ano, os Bens de Consumo continuam a ser a principal categoria económica de bens importados por Cabo Verde, com (47,2%) do total das importações tendo uma evolução positiva de 5,9%, face ao mesmo período de 2018. Os bens intermédios, bens de capital e combustíveis evoluíram negativamente (-10,9%), (-25,2%) e (-8,4%), respetivamente, em relação ao mesmo período de 2018.

 

PIB cresce 6,7 % no 3º trimestre de 2019

No 3º trimestre de 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) registou, em termos homólogos, um aumento de 6,7%, em volume. Estes são os últimos dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística em 2019, de 27 de Dezembro. 

Esta evolução, diz o INE, resultou do maior contributo das despesas do Consumo final e das Exportações. Esse instituto revela ainda que do lado da oferta, o Valor Acrescentado Bruto (VAB), a preços de base, apresentou uma evolução homóloga positiva de 7,5%, destacando para o efeito as actividades dos transportes aéreos e construção. Os impostos líquidos de subsídios apresentou uma evolução homóloga de 2,1% no período em análise.

 

Taxa de desemprego cai para 10,7% 

A taxa de desemprego em Cabo Verde caiu de 12,2%, em 2018, para 10,7%, no primeiro semestre de 2019, representando uma redução de 1,4 pontos percentuais relativamente ao ano passado, enquanto que de subemprego aumentou 7,0 pontos percentuais (p.p.). Os últimos dados do mercado de trabalho de 2019 revelados pelo INE relativos ao primeiro semestre do ano passado mostram ainda que existem 24.843 pessoas desempregadas no país. 

Já a população empregada é estimada em 206.300 pessoas. Estes números aumentaram em 11.300 pessoas, face a 2018, contribuindo assim para um aumento da taxa de actividade de 55,6% para 57,1% e da taxa de emprego/ocupação de 48,8% para 50,9%, face aos mesmos indicadores estimados em 2018.

Se analisados os dados por meio de residência, o INE aponta para uma diminuição da taxa de desemprego no meio urbano em 2,1 p.p., passando de 12,4%, em 2018, para 10,3%, no primeiro semestre de 2019. Já no meio rural, registou-se um aumento em 0,4 p.p., fixando o desemprego em 11,9%.

Relativamente à taxa de desemprego masculino no primeiro semestre de 2019 registou-se, segundo o INE, uma diminuição de 2,8 p.p., fixando em 9,8% no primeiro semestre de 2019, quando em 2018 tinha ficado nos 12,7%. Em sentido contrário, regista-se um ligeiro aumento da taxa de desemprego entre as mulheres, que passa de 11,6%, em 2018, para 11,9%, no período em apreço.

Seguindo a tendência anterior, os dados mostram que a maior taxa de desemprego é fixada na população jovem entre os 15 e 24 anos, com 25,7%, tendo, por seu turno, diminuído 2,1 p.p. relativamente ao ano 2018 (27,8%). Depois segue-se o grupo etário de 25 aos 34 com 11,2% que, regista contudo uma diminuição de 3,8 p.p. (15,0% em 2018).

De notar ainda que enquanto no meio urbano existiam 17.440 desempregados no primeiro semestre de 2019, no rural o número é de 7.403. Estes dados apontam para uma diminuição no meio urbano de 14,4% (2.923) e um aumento no meio rural de 11,1%, equivalente a 738 pessoas.

Porém, enquanto o desemprego diminui, a taxa de subemprego aumentou 7,0 pontos percentuais no primeiro semestre de 2019, sendo que no período em análise, o subemprego afectou 21,7% da população, contra os 14,7%, em 2018. Os trabalhadores do meio rural, diz o INE, foram os mais afectados com o sub-emprego ao atingir 30,1% dessa população, especialmente as mulheres (27,2%).

GC
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 644, de 02 de Janeiro de 2020)

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