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Cultura

Nelson Neves pinta no Luxemburgo uma morabeza com tons europeus

Nelson Neves, cabo-verdiano oriundo da ilha verde de Santo Antão, deixou o seu país com 7 anos e há quatro décadas que vive no Luxemburgo, onde expõe os seus quadros há 20 anos.

Em junho, a autarquia de Differdange vai acolher uma exposição retrospetiva da obra do artista que, em declarações à agência Lusa, afirmou que a pintura faz parte do seu mundo desde criança, quando começou a pintar as imagens da banda desenhada.

Os temas das suas pinturas misturam os seus dois países: Cabo Verde e Luxemburgo.

Da terra onde nasceu pinta o sol, o calor da terra e das montanhas, os vários azuis do mar que rodeia o arquipélago, as suas gentes e a morabeza (arte de bem receber) que as caracteriza.

A estes juntou a história de Differdange, ligada à exploração do minério de ferro e à indústria siderúrgica, conforme contam os edifícios das fábricas agora abandonadas, invadidos pela vegetação, cujo contraste é retratado pelos pincéis de Nelson Neves.

“Está tudo lá. Basta olhar”, disse, encantado com o contraste entre Cabo Verde e o Luxemburgo que as suas telas retratam.

Mas na sua paleta Nelson Matos mistura também os seus princípios, já que “a pintura é uma forma de mostrar o que não funciona na sociedade”.

“Não sou músico, não sou escritor. Eu falo através da tela”, disse.

E acrescentou: “A minha filosofia é tentar, através da pintura, da arte, construir pontes entre diferentes culturas e não construir muros que só servem para dividir as pessoas. Para isso já temos muitos chefes de Estado, como os presidentes dos Estados Unidos e do Brasil”.

É a pintura que o tem levado várias vezes a Cabo Verde, onde já organizou projetos artísticos para crianças com deficiência, adolescentes ou reclusos.

Duas décadas depois, recorda a primeira exposição no Luxemburgo, em 2001, no âmbito da semana cabo-verdiana neste país.Sete anos depois, Nelson Neves expôs pela primeira vez em Cabo Verde, durante a semana Luxemburguesa na Praia, ilha de Santiago.

Autor de centenas de telas, encontra diferenças nas preferências dos cabo-verdianos e dos luxemburgueses. Os primeiros gostam de telas figurativas: o mar, as montanhas, as vendedeiras de peixe. Os luxemburgueses preferem os trabalhos abstratos.

E é essa mistura que gostaria de ver reproduzida na exposição que vai realizar em junho no Luxemburgo e para a qual convidou o guitarrista luxemburguês Remo Cavallini e o violonista cabo-verdiano Ney Évora para mostrar que a arte, seja a pintura ou a música, “não tem fronteiras”.

Nelson Neves diz que tem saudades de Cabo Verde, país com uma cultura “diferente” da do país onde vive. E que sente falta do mar, do sol, mas sobretudo de uma forma muito própria de viver e conviver: a morabeza.

Fonte: Plataforma

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