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Sociedade

Praia: Disparo “acidental” na Esquadra da ASA levanta problema da segurança nas zonas de residência

O Jardim Infantil “Pimpão”, na Achada de Santo António (ASA), na Cidade da Praia, foi atingido por um tiro saído da Esquadra da Polícia Nacional (PN), situada à frente do referido jardim. A PN diz que se tratou de um disparo acidental, mas o incidente deixou os responsáveis do jardim e internautas preocupados com o problema da segurança das áreas residenciais e outras nas proximidades das esquadras.
O tiro, que partiu do quintal da Esquadra da Polícia Nacional, na ASA, perfurou um portão de chapa metálica, atravessou uma rua de mais de 10 metros de largura e penetrou numa vedação do jardim em contraplacado, indo parar numa das salas. 
O incidente, só não teve um fim trágico, porque ninguém se encontrava no percurso da bala disparada, segundo a directora do Jardim “Pimpão”, Maria Rodrigues, carinhosamente conhecida por  “Tia Maria” que, visivelmente indignada, pede mais responsabilidades aos agentes da PN, que trabalham naquela esquadra, sobretudo, quando manuseiam armas de fogo. 
Ainda por cima, como diz, “o agente que veio até ao jardim estava mais preocupado em encontrar o projéctil do que outra coisa”. 
“A primeira coisa que fez foi apanhar o projéctil e meteu-o no bolso. E quando comecei a falar com ele, percebi que estava mais preocupado com a tábua perfurada do que em procurar saber se as crianças ou se alguém tinha ou não sido atingido…”
PN diz que tiro foi acidental
O director nacional da Polícia Nacional (PN), Emanuel Estaline Moreno, disse que o disparo que atingiu o Jardim Infantil “Pimpão” foi acidental. Admitiu, contudo, tratar-se de uma situação “inadmissível” e que o episódio aconteceu quando um agente da PN fazia a inspecção rotineira da arma que recebe ao iniciar o turno.
Conforme Estaline, o agente em causa “não acautelou todos os procedimentos recomendados e exigidos e daí surgiu o disparo acidental que infelizmente atingiu o referido jardim tendo o projéctil caído dentro de uma sala”.
Aquele responsável garantiu, entretanto, que será aberto um inquérito para que a PN possa assacar as responsabilidades e tomar as medidas correctivas necessárias. 
“De facto, é necessário precaver e acautelar todos os procedimentos relativos à inspecção da arma, nomeadamente verificar se não há nenhum projétil na câmara antes da inspecção propriamente dita. Portanto, não se trata aqui de uma questão de formação ou de outra índole”, disse. 
Internautas preocupados
O incidente em causa deixou vários cidadãos preocupados com o nível de preparação dos agentes da PN. Na página do A NAÇÃO no Facebook foram vários os comentários a respeito. 
Se para uns é preciso mais meios de segurança e preparação dos agentes, para outros é preciso pensar a localização das esquadras e outras instituições que lidam com armamentos. 
Francisca Santos diz que, em ordenamento do território e na legislação aplicável, há uma coisa que se chama “servidões administrativas de equipamentos e infraestruturas públicas”. 
Como explicou, se esse preceito fosse aplicado, evitaria situações como as da esquadra da ASA. Porém, alerta que na ausência do cumprimento das normas, “é rezar e agradecer a Deus pela proteção”. 
Um outro internauta, CJ Rodrigues, diz que as inspecções técnicas preliminares ao armamento fazem-se com “o cano introduzido num dispositivo de segurança chamado de Bulletcatch, normalmente instaladas nas paredes da Sala de Armamento e Tiro das Esquadras, para evitar ricochetes e outros incidentes”. 
Segundo Rodrigues, em zonas a céu aberto e sem tráfego aéreo, “deve-se evitar fazer inspecção para o ar, pois, em caso de haver uma percussão e disparo, o projectil em queda livre também pode provocar danos humanos, se atingir zonas frágeis como a nuca de uma criança”, alerta. 
Por outro lado, esse mesmo cidadão diz também que as Esquadras e Unidades Militares e Policiais devem ser construídas em zonas não muito próximas de áreas residenciais, estudantis e industriais, devido ao elevado risco e exposição a material explosivo, inflamável, radioactivo e tóxico, não só, também vulnerabilidades de conflitos armados, etc. 
Outros “acidentes” com armas de fogo da PN
Em Abril do ano passado, Odair “Oda” Ribeiro, de 23 anos, faleceu na esquadra da ASA, alegadamente, vítima de um disparo acidental por parte de um agente. 
O jovem tinha sido detido durante uma rusga no bairro da Achadinha e aguardava para ser apresentado ao Ministério Público. E, na sequência, o agente Nuno Sequeira, suposto autor do disparo, foi encontrado morto na manhã do dia seguinte nas traseiras da escola Secundária Pedro Gomes. 
Um outro alegado disparo acidental, que culminou com a morte do agente Hamilton Morais, ocorreu em finais de Outubro 2019 no bairro de Tira Chapéu, na cidade da Praia. 
No incidente está envolvido um outro agente que responde por Elizeu Sousa cuja arma, supostamente, disparou acidentalmente durante a operação.  Dias depois, o superintendente Emanuel Moreno afirmava à comunicação social que a morte de Hamilton resultou de um “acidente”. 
Em ambos os casos foram abertos inquéritos para apurar a verdade dos factos. Só que até hoje os resultados não foram divulgados.      
SM
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 651, de 20 de Fevereiro de 2020)                 

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