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Opinião

A Função Social do Professor Cabo-verdiano

O professor está presente na vida das crianças desde a primeira infância e continua acompanhando as diversas etapas posteriores da caminhada de cada uma.Se, no passado, era comum que o professor fizesse curso somente educação básica, hoje os estudos se prolongam por muito tempo, passando por ensino secundário/ensino técnico, ensino superior, mestrados, doutoramentos e até pós-doutoramentos. Por isso, a função social do professor está ganhando ainda mais destaque na sociedade que vivemos. Ainda que os professores estejam em constante formação contínua e não só atualizando cientificamente, pedagogicamente, moralmente, eticamente para poder assumir os desafios que a sociedade vos impõe, logo o professor tem que ir além de lecionar seus conteúdos ou passar conhecimentos em suas respetivas áreas, mas tem um importante papel na construção do ser, visto que ele faz parte de toda a trajetória do aluno, não só no âmbito profissional, mas nos âmbitos sociais e políticos. Sendo assim é imprescindível o professor dominar os 4 pilares da educação (saber saber, saber fazer, saber ser/estar e saber conviver) propostos pela ONU e no qual foi objeto de um artigo meu que foi apresentado no IV COLÓQUIO CABO-VERDIANO DE EDUCAÇÃO (CEDU 2019), que decorreu no Campus de Cruz-Grande, Santa Catarina entre os dias 3 e 4 de Maio.

A meu ver A Função Social do Professor deve ser trabalhada sobre 4 perspetivas muito importantes que se seguem:

O professor como educador para Valores, Atitudes e Comportamentos

  • O professor como educador para a equidade social
  • O professor como educador para a proteção do Ambiente
  • O professor como educador para a Saúde

 

O professor como educador para Valores, Atitudes e Comportamentos

 A sociedade atual encontra-se em profunda crise moral, que nos remete a pensar em nossos valores, atitudes e comportamentos. Nesse contexto incerto, o pragmatismo é papel do professor, por isso novos recursos e atitudes didático-pedagógicos necessitam ser pensados. O professor pode ascender à sociedade usando o ensino como instrumento de luta e transformação social, levando os alunos a uma consciência crítica que supere o senso comum para que possam não somente ver os acontecimentos, mas enxergá-los de maneira crítica e reflexiva, usando experiências insignes vividas no passado que influenciam o nosso presente e prepara para um futuro promissor.

Temos que pautar por uma educação para valores, porque ela está presente em todas as disciplinas do currículo escolar. Cabe ao professor (a) planificar o seu processo de ensino aprendizagem, integrando atividades lúdicas, reflexivas e conceptuais sobre temas transversais tais como: tolerância, respeito mútuo, diálogo, solidariedade, justiça, igualdade de direitos, dignidade da pessoa humana, autonomia, patriotismo, etc. Os professores são verdadeiros agentes de transformação, por isso temos que voltar a agir de acordo com aquilo que cremos e não em função do que dizem ou fazem os nossos vizinhos ou a sociedade. Só dessa forma acreditando, agindo e nunca esmorecendo, poderemos passar esses conceitos para nossos alunos, garantindo que sejam indivíduos conscientes, firmes e sólidos em suas convicções e crenças de que todos tem direitos iguais perante a lei, bem como deveres.

Os professores tem que educar para valores universais porque é a base da cidadania/sociedade, pois desde cedo possibilita que as crianças saibam respeitar-se umas às outras, com suas diferenças raciais, religiosas e culturais. Implica, também, rever a escola por meio de uma nova vivência do espaço educativo, das relações entre educadores e alunos, das influências do meio escolar na comunidade local e das responsabilidades individuais e coletivas e no amor ao conhecimento. Tudo isso de um ponto de vista não meramente académico, mas compreendido como um processo integral de transformação de valores éticos e atitudes.

Professor como Educador para a Equidade Social

Num mundo em constante transformação, é indispensável o envolvimento de todos os seus membros para que o progresso seja efetivo e que se reverta a favor dos seus cidadãos e cidadãs. Nesta lógica, a participação do professor é de extrema importância visto que, deve estimular os alunos, pais encarregados de educação, sociedade civil a que cada um dê o seu contributo para o desenvolvimento da sua comunidade fazendo com que o crescimento da sociedade só se torna efetivo a partir do momento em que todos os seus membros estiverem em condições de participar ativa e efetivamente no seu progresso. Por esta razão, questões ligadas à equidade estão na ordem do dia e constituem preocupações de todas e quaisquer sociedades democráticas, já que nestas o exercício da cidadania exige participação responsável de todos os cidadãos.

O professor tem o papel fundamental na sociedade para que a equidade deixa de ser uma crença e passa a ser uma prática quotidiana desenvolvendo aptidões, atitudes e de outras formas de conduta suscetíveis de provocar a erradicação das desigualdades sociais, para que as crianças não podem ser responsabilizadas pelas condições que nasceram. O professor deve incutir nos alunos dois princípios fundamentais: o primeiro é o principio de oportunidades iguaisem que suas conquistas devem ser determinadas principalmente pelos seus talentos e esforços e não por circunstâncias pré-determinadas como etnia, género, histórico, social, familiar ou país de nascimento. O segundo princípio é a prevenção da privação de resultados, especialmente em saúde, educação e níveis de consumo.

Deve trabalhar a igualdade de género fazendo com que todos entendam que deve haver uma igualdade de direitos e de valor das mulheres e do homem na sociedade.

No que tangue à educação inclusiva o professor tem um papel importante no sentido, que ele deve criar condições para a efetivação da equidade no acesso à educação, bem como, a qualidade de ensino, elaborar projetos educativos e curriculares que assentam na inclusão e na equidade, com a participação dos próprios professores, dos alunos, familiares e a sociedade; desenvolver atividades que contribuem para dar resposta à diversidade dos alunos e por fim estimular nos alunos uma cultura de ensino e aprendizagem centrada em metodologias ativas no envolvimento da comunidade educativa e no recurso às novas tecnologias de informação e de comunicação.

O professor deve ter uma boa organização da sala de aula, exigindo a presença de regras claras, quer no que respeita ao que é e o que não é um comportamento aceitável, quer no que respeita à forma de execução das tarefas e atividades de aprendizagem, base para que o professor seja capaz de ensinar sem dificuldades e os alunos possam melhorar as suas aprendizagens. No entanto não é possível esquecer que todo esse processo de organização e funcionamento deve passar pelo respeito mutuo, pela aceitação e compreensão das necessidades do outro, por um processo aberto e dinâmico de negociação onde o aluno se sente responsável e participante. Responsável e participante nas questões que tem a ver com a gestão dos comportamentos na sala de aula, com a construção de um clima social favorável às aprendizagens e na determinação dos próprios objetivos de aprendizagem.

Responsável e participante na formulação dos programas e conteúdos de aprendizagem e na avaliação dos seus próprios progressos, verificando, através dos critérios cooperativamente construídos entre professor e alunos, se os produtos da sua atividades se ajustam às aprendizagens a realizar e que previamente foram negociados.

Enfim o professor tem que ter a consciência que ser portador de deficiência não é sinónimo de incapacidade, mas sim, de necessidades educativas especiais, nunca ignora-los nem subestima-los. Deve adotar uma prática pedagógica que tenha em conta as especificidades individuais dos seus alunos.

 

Professor como Educador para a Proteção do Ambiente

Como deve saber, uma das grandes preocupações da humanidade, na atualidade prende-se com a conservação do meio ambiente e uma gestão equilibrada dos recursos naturais. Para isso é necessário o professor trabalhar a consciência do aluno de modo a fazê-lo compreender a necessidade de todos se empenharem e se comprometerem nesta missão. O papel do professor é de vital importância. Através dele, mudanças, práticas, estratégias e didáticas interdisciplinares são traçadas, promovendo um desenvolvimento integral e em equipa, criando métodos para o exercício prático da cidadania, sintetizando as dimensões do processo socio-ambiental.

Partindo de um processo permanente, a educação ambiental consiste em um planeamento constante, refletindo a prática cotidiana numa aprendizagem significativa que conduzirá a mudanças no comportamento dos educandos e na sociedade, estabelecendo correlação com o meio ambiente, aprendendo a pensar de forma crítica a importância de utilizarmos de forma adequada os recursos existentes na natureza.

O docente precisa estar aberto às mudanças compreendendo que a educação no mundo contemporâneo não pode permanecer no interior da escola, mas ao contrário, deve envolver a comunidade, atendendo às suas necessidades, assumindo a responsabilidade como cidadãos críticos, participativos e inseridos no contexto social.

Simultaneamente, é necessário agregar novos valores e atitudes, desempenhando o papel de cidadão em uma sociedade com inúmeros problemas socio-ambientais; desflorestação, poluição atmosférica, destruição da camada de ozôno, urbanização, industrialização, aquecimento global, dentre outros que constrangem o mundo, forçando a sociedade a refletir sobre educação ambiental e desenvolvimento sustentável.

Desenvolver a cultura da sustentabilidade representa utilizar os recursos escassos, disponíveis de forma que não comprometa o futuro das próximas gerações.

Dessa forma, o papel do educador é interagir com diferentes temas atuais sem perder de vista as relações entre os aspetos socioeconômicos, políticos e naturais, tendo a certeza de que, quando se ensina, há sempre alguém que aprende. A definição ampla do ambientalismo demanda maior prudência pela educação, devendo haver diálogo entre teorias e práticas incentivando a participação social.

A relação professor-aluno deve partir do conhecimento das condições sociais, culturais, econômicas dos alunos, suas famílias e seu contexto, sendo permeada pelo gosto permanente que aviva a curiosidade, que traz a eficácia de estudar com definição, em que o educador ensina e estimula o aluno a investigar, a apreciar com prazer o que lhe é oferecido.

 

O professor como Educador para a Saúde

A capacitação para a educação em saúde de professores, fundamentada na Promoção da Saúde, deve fazer parte da formação acadêmica desses profissionais, estando incluída no currículo. Porém, para a efetivação dessa capacitação é necessário que haja a incorporação de valores e conceitos positivos de saúde. Para tanto, é imprescindível que, após o primeiro contato com a fundamentação teórica sobre Promoção e Educação em Saúde, ocorrida durante a formação acadêmica, o professor esteja inserido em um processo que possibilite sua atualização, compreensão e aperfeiçoamento de conhecimentos sobre o processo de nascer, viver, envelhecer, adoecer e morrer.A Educação em Saúde, como uma poderosa ferramenta da Promoção da Saúde, tem por objetivo capacitar os educandos para atuarem como agentes transformadores e defensores da preservação e da sustentabilidade do meio-ambiente, para lutarem por melhores condições de vida e saúde, para ter maior acesso às informações em saúde, à cultura e ao lazer baseados nos seus direitos determinados e garantidos pela Constituição da Republica de Cabo verde.

A educação em saúde na escola deve trazer aos alunos um enfoque integral de saúde em todas as etapas de seu desenvolvimento. Trabalhando com a autoestima das crianças e jovens, com a capacidade de adquirir hábitos de higiene e adotar formas de vida saudáveis, a educação em saúde não se limita a transmitir informações de uma matéria específica, mas deve buscar o desenvolvimento de conhecimentos, hábitos e habilidades que contribuam para a adoção de um modo de vida mais saudável bem como para a capacidade reflexiva perante os acontecimentos da vida.

Em suma o professor deve em especial ter a capacidade, despertar o interesse dos pais pelo futuro de seus filhos, oferecer a oportunidade de acesso à cultura, à informação, à tecnologia, oportunizar a reflexão de questões relativas ao respeito ao próximo, suas culturas, etnias e orientação sexual, ao desenvolvimento sustentável, à preservação do meio ambiente, entre outros. A função social do professor é garantir a aprendizagem de conhecimentos, habilidades e valores necessários à socialização do indivíduo, deve formar cidadãos críticos, reflexivos, autônomos, consciente de seus deveres e direitos, capazes de compreender a realidade em que vivem e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e coesa.

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