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Economia

Estudo mostra que hóteis consomem 71% da água na Boa Vista

Os hotéis da Boa Vista consomem 71% da água produzida na ilha e 58% da população não tem acesso à rede pública. Qualidade, armazenamento e a distribuição da água não são as melhores, aponta estudo agora revelado, sobre a relação entre o consumo de água e o turismo.

A análise do consumo entre 2014 e 2018 concluiu que além dos hotéis que absorvem 71% da água produzida na ilha, a restante percentagem é utilizada nos sectores do comércio, da indústria e pelo consumo domiciliar.

O estudo “Turismo e Desenvolvimento Sustentável: Uma análise a partir do consumo da água na ilha da Boavista, Cabo Verde” foi elaborado por Nélida da Luz. Doutoranda em Gestão e Políticas Ambientais na Universidade de Cabo Verde e técnica superior da Direcção Geral do Turismo e Transporte.

Esta sexta-feira, 7, em entrevista à RCV, a pesquisadora revelou que mesmo sendo a Boa Vista a terceira ilha do país em dimensão, é a das que apresentam as piores condições hidrológicas quando comparada às restantes.

“Os dados nos indicam que cerca de 58% da população residente não tem acesso à rede pública de abastecimento de água. E, que parte dessa população recorre aos autotanques, aos chafarizes e a outras formas menos seguras de acesso à água”, explicou Nélida da Luz.

Por um lado, segundo o estudo, de 2014 a 2018 houve um aumento anual médio de 5% do consumo de água na ilha, porque durante esse mesmo período houve, igualmente, um aumento do número de turistas a visitarem a Boa Vista, uma média de 200 mil visitantes anuais.

Isto significa que, há “uma forte relação” entre o aumento da actividade turística e o consumo de água, bem como uma relação directa entre a dimensão dos estabelecimentos e o nível de eficiência de consumo, ou seja, quanto maior o hotel, maior a probabilidade do consumo de “mais água por cama e por hóspede”.

Por outro lado, embora a taxa da procura turística na ilha tenha aumentado de 2014 a 2018, segundo a investigadora, este facto não reflectiu na melhoria do abastecimento e na qualidade da água disponibilizada às populações.

“A falta de qualidade da água é referenciada através do seu nível de salinidade, que é acima dos parâmetros recomendados”. Além disso, os sistemas de transportes, de armazenagem e de distribuição foram considerados “deficientes”, sobretudo nas zonas rurais e nos bairros de assentamento informais.

Das análises e entrevistas feitas às ONG’s e às populações locais, Nélida concluiu que o aumento do turismo certamente trouxe melhorias em vários domínios, como, por exemplo no emprego. Porém, “essas melhorias não tiveram o devido impacto sobre as pessoas”, destacou a investigadora.

A amostra incidiu sobre quatro hotéis, uma residencial e uma pensão, na ilha das Dunas, onde se fez a relação do consumo nestes empreendimentos, entre 2014 e 2018, para perceber as dinâmicas do consumo de água e do turismo na ilha.

Embora “haja outros elementos a se ter em conta em futuros estudos”, concluiu Nélida da Luz.

Vale a pena salientar a crise sanitária provocada pelo novo coronavírus está provocar quebras históricas em vários sectores, principalmente no do turismo, o que terá a sua influência em todas as estatísticas, dentro e fora Cabo Verde.

Carlos Alves

*Estagiário

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