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Caldos de galinha são um veneno com bom sabor

CONTEÚDO PREMIUM

 

O uso crescente dos temperos artificiais, aditivos ou “sumos de panela” na culinária cabo-verdiana e mundial, é um dos motivos para o aumento de “doenças silenciosas”. Os chamados caldos de galinha, ou de carne, dizem os entendidos, são um perigo silencioso para a saúde pública.

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De uma forma geral, os médicos e nutricionistas não recomendam temperos artificiais na culinária. A nutricionista Helena Sapinho é clara:

“Podemos preservar esse bem raro que é a saúde através da alimentação, adoptando hábitos alimentares mais saudáveis e ingerindo alimentos e temperos naturais”.

De acordo com aquela especialista, existem muitos alimentos que em si só são temperos, dispensando por isso os chamados caldos de galinha ou de carne, produtos em cujo fabrico entram vários químicos industriais. “O uso de aditivos só serve para dar um gosto a mais, nada que o sal e outros também não consigam fazer. Recomendamos o uso dos temperos naturais tais como sal (duas gramas por dia para cada pessoa), alho, cebola, tomate, pimentão, coentro, salsa, cebolinha verde, orégão, entre outros, que dão o sabor natural e saúde à nossa comida”.

Com gordura saturada

A utilização diária dos temperos artificiais, nomeadamente caldos Knorr, Maggi, Sázon Goya, Jimbo, ou ainda os caldos de sopa e outros aditivos que servem para dar gosto aos cozinhados, segundo aquela fonte, pode acarretar sérios danos à saúde. É que por trás dos chamados “caldos” estão a gordura saturada, sal e vários outros elementos, alguns dos quais químicos.

“Hoje em dia”, acrescenta Helena Sapinho, “a população que consome maiores quantidades de gordura saturada, sal e aditivos, apresenta um maior risco de desenvolver doenças não transmissíveis e muitas vezes silenciosas”.

Na lista das “doenças silenciosas” constam a hipertensão arterial, diabetes mellitus, problemas renais, hepáticos, gastrites, úlceras, gastro-duodenais, colesterolemia, uricemia, gota, em suma, doenças de carácter nervoso e outros. “Há famílias cabo-verdianas que usam esses temperos diariamente, em substituição ao sal, óleo de soja, azeite de oliva e tomate, por exemplo. Outras confeccionam sopa, feijões, cachupa, apenas com caldo Knorr ou Maggi, sem colocar hortaliças, peixe ou carne. É preciso que se estude melhor esse grupo de família cabo-verdiana”.

O aparecimento de vários tipos de cancro, alguns dos quais até então inexistentes entre nós, pode ter como origem a nossa alimentação, hoje mais moderna, com recursos a produtos industrializados em cuja composição entram elementos não naturais.

As contra-recomendações

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo inferior a cinco gramas de sal por dia, o equivalente a uma colher de chá ou cinco azeitonas. Os temperos artificiais como Sázon Goya, caldos Maggi ou Knorr, Jurema, Kitano, Etti, Arisco, para além de serem ricos em sódio, são também ricos em gorduras, o que prejudica em muito a saúde das pessoas e afecta principalmente alguns doentes.

Adicionar uma tablete ou porção de tempero artificial nos cozinhados pode significar a ingestão de 25 a 74 por cento da qualidade diária de sódio recomendada para uma dieta saudável (duas mil calorias).

O consumo excessivo de sódio provoca o desenvolvimento da hipertensão arterial e de doenças secundárias, como renais e do aparelho circulatório. Além disso, destaca-se a alta concentração de ajinomoto (aditivo que realça o sabor), presente em todos esses temperos.

O Instituto da Medicina, organização que assessora o governo americano, estima que cada pessoa poderia sobreviver com cerca de 450 mg de sal por dia, mas as estatísticas internacionais mostram que a ingestão diária per capita, normalmente, passa de 10 gramas.

Sem temperos artificiais

Eunice Vieira, cantora e pertencente à comunidade Rasta, diz que desde 2004 aboliu o uso de temperos artificiais da sua cozinha. “O livro ‘Nutricídio – A Destruição Nutricional da Raça Negra’, de Imohotep Llaila O. Africa, fala daquilo que nós comemos e que nos pode fazer mal”, afirma. Segundo explica Eunice, para aquele nutricionista americano, cada raça tem o seu tipo de alimentação. “Já está na hora de os africanos compreenderem que há certos produtos fabricados globalmente, pela raça branca, que fazem mal aos negros. A alimentação é a base do nosso bem-estar, como nós temos maior quantidade de melanina no organismo temos de ter uma alimentação própria”.

Eunice confessa que aprendeu que a base do bem-estar humano está na alimentação saudável equilibrada e com produtos naturais. “Esses produtos têm muitos modificadores e colorantes que prejudicam em muito o nosso organismo e, depois, não trazem nenhum benefício para a saúde, a não ser apenas ‘aquele’ gosto a mais que dá à comida, um gosto fantasma, engana-nos, pusemos na nossa cabeça que só assim a comida fica mais deliciosa.”

Há uma falta de consciência ou talvez insuficiência de informação do mal que estes temperos podem trazer para a saúde”. As pessoas que usam estes temperos dizem que reduz o custo na compra dos alimentos naturais. “Na minha loja o que sai mais é o Sázon Goya, o resto é comprado normalmente”, revela uma comerciante abordada por esta reportagem.

Contra-recomendações dos temperos artificiais

Americano, estima que cada pessoa poderia sobreviver com cerca de 450 mg de sal por dia, mas as estatísticas interna-cionais mostram que a ingestão diária per capita, normalmente, passa de 10 gramas. As pessoas que não conseguem controlar o consumo destes alimentos, normalmente retêm o sódio no organismo e com isso evoluem para um quadro de hipertensão arterial. A não tomada de medidas de alerta ou mesmo de prevenção podem significar, a prazo, despesas adicionais com a saúde pública ou até mesmo desses consumidores.

E agora que sabe dos malefícios dos aditivos vai continuar a consumi-los?

Um estilo de vida diferente

Cláudia Gonçalves, 32 anos, há mais dez 10 anos que se assume como vegetariana e, sabendo que os condimentos artificiais são feitos de gorduras e outros ingredientes provenientes dos animais, estes não entram no seu cardápio. “Deixei de usar alimentos de origem animal quando descobri que, ao ingeri-los, estamos a consumir as bactérias e as toxinas que estão nesses animais. Está comprovado que, assim que esses bichos morrem, o processo de decomposição começa instantaneamente”, confessa Gonçalves.

Há já um ano que Cláudia Gonçalves mantém, na Cidade do Mindelo, uma loja de produtos naturais e ecológicos. E, combinando com o estilo de vida, atesta que isto só lhe trouxe grandes vantagens para o seu bem-estar físico.

“Desde que me tornei vegetariana notei grandes diferenças na minha pele e quase que não adoeço. Também tinha uma alergia a pó e a cheiros que sempre me chateava e hoje já não sinto qualquer sintoma”, assegura essa psicóloga de profissão que, sempre que encontra uma oportunidade, tenta persuadir outras pessoas a seguirem-lhe o exemplo de um viver mais saudável. A tarefa não tem sido fácil. “Normalmente, quando procuro chamar a atenção das pessoas para os males de uma má alimentação, a maioria delas me ridiculariza”, diz.

PARA ARFA

Aditivos não são prioritários 

O director para a Área Alimentar da Agência de Regulação e Supervisão de Produtos Farmacêuticos e Alimentares (ARFA), engenheiro João Gonçalves, explicou ao A NAÇÃO que existem os decretos-lei nos 3/2009, 24/2009 e 25/2009 que regulam, de forma geral, os cuidados a ter com todos os produtos alimentares.

“A ARFA aprovou uma lista de 30 diplomas relativos ao Sistema Nacional de Controlo de Alimentos e, entre estes, estão relacionados os aditivos (temperos artificiais). A cada ano que passa é necessário que se produza novos diplomas. Os aditivos alimentares, neste momento, não são prioritários”, sustenta Gonçalves.

Mas, de acordo com aquele responsável, colocar os aditivos num outro plano não significa a falta de aplicação da lei. “Mesmo que não existisse um diploma aprovado sobre os aditivos, Cabo Verde é membro da Codex Alimentar e pode, a qualquer momento, aplicar leis relacionadas com os aditivos, em caso de extrema necessidade”, adverte.

Aditivos são venenos para a saúde pública 

Os temperos artificiais ou “sumos de panela” são utilizados por uma parte importante dos são-vicentinos para preparar e temperar os alimentos. Contudo, estes encontram-se na lista negra de médicos e nutricionistas.

Embora não haja nenhum estudo, como comprovou ao A NAÇÃO a delegada de Saúde de São Vicente, mesmo assim, os médicos defendem que é preciso moderação na hora de utilizar os chamados temperos artificiais.

“Não tenho conhecimento de nenhum estudo que possa dizer, com certeza, os malefícios e os benefícios dos aditivos, porque, para isso, teríamos que constituir grupos de controlo em que alguns usariam esses temperos artificiais, outros utilizariam outro tipo de tempero. Todavia, recomendamos aos pacientes que tenham cuidado com esses temperos que têm origem muito pouco natural”, pondera Ariana Monteiro.

Entretanto, a nutricionista-clínica Josiane Custódio vai mais longe ao defender que os temperos artificiais só trazem malefícios em virtude de o seu fabrico ser, essencialmente, à base de sódio e gordura.

“Esses condimentos não têm componentes nutritivos e, normalmente, quando as pessoas os utilizam adicionam ainda mais sal. Sendo assim, ultrapassam as quantidades recomendáveis de sódio nas refeições, o que torna extremamente prejudicial o seu consumo, principalmente por parte dos hipertensos e diabéticos”. Aquela médica aconselha a substituição dos aditivos por outros temperos naturais, como cebola, cebolinha, alho, coentro, orégão, gengibre etc.

A busca do prazer

Maria Adelaide Delgado, nutricionista de profissão, acredita que existe uma certa relação entre o uso dos temperos artificiais e a busca do prazer pelo ser humano. “As pessoas usam esses temperos porque conferem mais gosto aos ali-mentos e, assim, na hora de comer, podem extrair maior prazer, que é uma das coisas que o Homem está sempre à procura”, afirma.

Adelaide Delgado realça que é preciso precaução, isto é, não abusar dos chamados caldos de galinha ou de carne, nem de outros tipos de aditivos. “Há que conhecê-los, saber aplicá-los, reduzir ou substitui-los por temperos naturais, que são baratos e acessíveis a qualquer pessoa”, recomenda. Contudo, aquela nutricionista alerta para uma situação grave que ocorre nos dias de hoje. “As famílias de baixa renda têm utilizado temperos, como Knorr, Maggi e outros, no lugar de carne ou de peixe e, quando isso acontece, a fonte de proteína destes tipos de alimentos não está presente e a alimentação fica pobre, o que pode provocar muitas mazelas à saúde”, reitera Adelaide Delgado, alertando para as reacções alérgicas que esses condimentos podem provocar a certas pessoas. Isso para não falar do risco da anemia ou mesmo desnutrição.

Autênticos venenos

Repudiando o uso dos temperos artificiais, o médico cardilogista Fernando Lopes também chama atenção para o perigo do sal, uns dos principais componentes dos caldos de galinha ou de carne. “Esses temperos são autênticos venenos carregados de químicos e sal.

E, para o cabo-verdiano, isso é muito perigoso, porque somos um povo muito propenso à hipertensão e temos que ter muito cuidado com a quantidade de sal que utilizamos no nosso dia-a-dia”, assevera.

Para Fernando Lopes, os aditivos são invenções do Ocidente, cujas indústrias do sector tudo fazem para que as pessoas troquem alimentos saudáveis por este tipo de químicos, sem benefícios à saúde dos seus consumidores.

Apertado o cerco nos países industrializados, não é por acaso que as principais marcas de caldos de galinha e de outros produtos apostam fortemente no chamado Terceiro Mundo, especialmente África e Ásia, onde o controlo sanitário e alimentar é de longe menor.

A nossa fonte entende que, no caso de Cabo Verde, medidas mais severas e drásticas deviam ser tomadas, além de campanhas de sensibilização, por parte das autoridades públicas. Afinal, conforme salta à vista, há campanhas contra o uso abusivo do álcool e do tabaco, mas não há nada contra o uso abusivo dos aditivos alimentares. “No caso dos caldos de galinha ou de carne, o ideal seria uma campanha para erradicar esses temperos artificiais das nossas cozinhas, tal o mal que causam à saúde dos seus consumidores”, aconselha.

Utiliza temperos artificiais nos cozinhados?

Médicos, nutricionistas e cidadãos que se preocupam com o bem-estar alimentar já lançaram o alerta: os temperos artificiais ou aditivos, fazem mal à saúde e não trazem nenhum benefício à comida que se confecciona. Estes ainda são uma minoria. A maioria entende que os “caldos” ou “sumos” industriais dão mais sabor aos seus cozinhados.

Paulo Pereira

Artista

-Utilizo, porque temperam melhor a carne, peixes e outros alimentos. Não sei se fazem mal ou bem a saúde, só sei que dão mais sabor à comida. Não sei do que são feitos e quando vou comprar só vejo para os que são de carne ou de peixe. Na hora de cozinhar, coloco os temperos artificiais e, se vejo que ainda está um pouco insosso, coloco sal.

Simone Dias Delgado

Livreira

-Já não uso esse tipo de tempero há algum tempo, desde que soube que é feito de pele de galinha e que tem muita gordura. Os temperos artificiais não fazem nada bem à saúde e, por isso prefiro utilizar temperos naturais.

Otelinda da Cruz Lima

Empregada doméstica

-Uso os temperos artificiais nos pratos que faço porque dão mais sabor à comida. Acho que não fazem tão bem à saúde, mas coloco-os na panela porque, sem eles, a comida fica sem gosto. Não sei do que são compostos, só sei que uns são para temperar carne e outros para temperar peixes.

 

Rosalina “Zezinha” da Silva Barbosa

Comerciante

-Uso todos os tipos de temperos artificiais porque tornam a comida mais saborosa. Contudo, hoje tenho mais consciência de que esses aditivos fazem mal à saúde porque fui a uma formação na Delegacia de Saúde da Praia onde a nutricionista Dra. Helena Sapinho explicou os malefícios desses aditivos e que não trazem nenhum benefício à comida. Desde então utilizo com maior moderação esse tipo de tempero, sobretudo no arroz do que noutro tipo de cozinhado.

Carla Gonçalves e Letícia Neves

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 227, de 05 de Janeiro de 2012

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