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Natal em tempos de crise: entenda como comemorar sem abrir mão de seus sonhos

Por: Evandra Martins Neves*

Não é novidade que 2020 está sendo um ano atípico. Logo no primeiro trimestre, precisamente no vigésimo nono dia do mês de março, entrou em vigor o primeiro Estado de Emergência em Cabo Verde, seguido de outras medidas que mudaram por completo a vida de muitos cabo-verdianos.

Para além da introdução de novos hábitos, como o uso de máscaras e outros cuidados para evitar a disseminação da doença, o isolamento social culminado com a redução do rendimento, obrigaram muitas famílias a repensarem seus planos. Muitos sonhos foram adiados, outros simplesmente foram esquecidos.

Com a chegada das épocas festivas e de confraternização familiar, como Natal e Fim de Ano, a preocupação de muitas famílias é ainda maior uma vez que os gastos costumam ser significativos.

A importância dos sonhos

Apesar de todos os cuidados em relação a esse momento vivido, estamos no período de fim de ano e é importante reforçar para as famílias neste momento a importância de continuar a sonhar. O conceito de “sonhos” foi introduzido na pauta da educação financeira pelo PhD. Reinaldo Domingos, mentor da Metodologia DSOP de Educação Financeira que se baseia em quatro pilares: Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar.

Segundo Domingos, os sonhos são agentes motivadores que mostram o caminho e o verdadeiro sentido da vida. Para que essa motivação seja contínua é preciso ter sempre no mínimo três sonhos: de curto, de médio e de longo prazos.

Os sonhos movem o SER, ou seja, sem eles não vivemos! Partindo desse pressuposto, cada indivíduo deve encontrar respostas para as seguintes perguntas:

Qual é o meu sonho?

Quanto ele custa?

Em quanto tempo posso realizá-lo?

Quanto vou guardar por mês?

De onde pretendo tirar esse dinheiro?

É evidente que o dinheiro é um meio indispensável para a realização de alguns sonhos. Entretanto, é preciso ter em atenção aquilo que se configura como um bem de valor e o que se revela ser um bem sem nenhum valor. Isso permitirá avaliar melhor o que é um sonho vantajoso, aquele que vale mesmo a pena, e o que não é.

Sonhar é o agente motivador da educação financeira. E quanto aos sonhos daqueles que estão ao nosso redor?

Falar sobre dinheiro com seus filhos

Em tempos de crise, convém abrir o jogo e falar abertamente sobre dinheiro com seus filhos. Afinal, dinheiro não tem segredo. Tendo em consideração que a maioria dos pais não teve essa oportunidade, é natural que não saibam qual a melhor maneira de introduzir esse assunto no dia-a-dia da criança.

Então fica a dica! Neste fim de ano, comece por proporcionar momentos em que a criança tenha contato com o dinheiro, para que este possa fazer parte do seu mundo desde cedo. Idas às compras, por exemplo, são ótimas oportunidades para conscientizar a criança acerca do valor do dinheiro e introduzir disciplina financeira.

Se a família registou uma diminuição no seu rendimento, talvez seja o momento ideal para explicar algumas coisas e responder alguns porquês. Porquê não podemos fazer isso? Porquê não podemos comprar tal produto? Porquê não podemos ir a tal lugar?

O cofrinho pode ser um ótimo presente neste fim de ano e é o segundo elemento que deve ser apresentado para a criança quando falamos em educação financeira, trazendo junto o conceito de poupar que consiste em guardar, reter, proteger e salvar. Poupar significa carimbar o dinheiro guardado e, para isso, é necessário algumas coisas que chamamos de sonhos. Lembra deles?

Estimular os filhos a sonhar, sabendo que eles podem alcançar o que desejam, é um exercício que promove a ação positiva de poupar.

Também é recomendável que, para 2021, se pensa na instituição da mesada, sendo esta outra forma de proporcionar a familiaridade com o dinheiro. De forma simplificada, a mesada é um montante de dinheiro que você dá para seu filho com o objetivo de que ele pague por conta própria pequenas despesas.

Mas, não é só isso, é importante explicar aos filhos que parte do valor da mesada deverá sempre ser guardada para a realização dos sonhos. Para além disso, é necessário combinar as regras do sistema de mesada como periodicidade, valor, etc.

Talvez seja interessante abrir uma conta-poupança em nome dos seus filhos para que eles possam ter sempre em mente o investimento em seus sonhos. Investir é potencializar o dinheiro poupado, ou seja, é fazer o dinheiro render.

Em época festiva é comum nos depararmos com algumas ações que podem “atrapalhar” ou “facilitar” a realização dos nossos sonhos. Uma delas são as promoções.

Analisar as promoções

No período de festas somos bombardeados por promoções, que são técnicas de marketing que têm como objetivo incrementar as vendas, por isso cuidado. Algumas promoções consistem na redução do preço de um produto ou serviço a fim de aumentar as vendas, outras buscam alavancar a venda de um determinado produto com base em outro que possui uma maior saída.

No seu livro “Por que enfrentamos crises e não estamos preparados?”, Reinaldo Domingos elenca um conjunto de questões denominadas “perguntas básicas do consumo consciente” que devem ser colocadas sempre que se está perante uma promoção. São elas:

Eu preciso disso?

Eu tenho dinheiro e não fará falta para outras necessidades e desejos?

O que isso vai agregar de valor e melhoria de vida?

Isso é mais importante que meus sonhos?

Isso me trará custo de manutenção?

Eu tenho esse recurso dentro do meu orçamento financeiro para bancar essas manutenções?

Esse dinheiro vai fazer falta para minha aposentadoria sustentável?

Eu tenho reserva financeira para, no mínimo, seis meses?

Depois dessa análise, talvez não queira gastar agora todo seu dinheiro e começar o ano de 2021 sem dinheiro e sem poder realizar seus sonhos. Se tem mesmo que comprar alguma coisa, faça uma lista e pesquise os preços com antecedência.

*Educadora Financeira DSOP e CEO Founder da Fin Academy – Academia de Educação Financeira

https://web.facebook.com/finacademycv

 

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 693, de 10 de Dezembro de 2020

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