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Economia

Empreendedorismo Jovem cria primeira plataforma de venda de alimentos online no Sal

Randi Cardoso, 25 anos, trocou as voltas à covid-19 e ao desemprego, arriscando na criação da primeira plataforma de venda de alimentos online no Sal, ilha mais turística do país. Para já, o investimento está a valer a pena.

O projecto de Randi Cardoso é a prova de que mesmo em situações adversas há sempre um lado positivo, uma janela de oportunidade a não desperdiçar. Licenciado em Engenharia Mecânica e Mestrado em Engenharia Industrial, em Bragança, Portugal, Randi regressou ao Sal, em 2019, longe de ima

ginar, como toda a gente, que ia ser apanhado pela teia económico-social da covid-19, em 2020. “Devido à pandemia, não foi possível encontrar emprego durante este período. Por isso decidi criar a salensecv.com para ajudar a prevenir aglomerações em lojas e servir de intermediário entre minimercados e a população no geral”, explicou ao A NAÇÃO. “Comecei a criar o Salense há quatro anos atrás, quando ainda me encontrava na licenciatura em Bragança, no decorrer de uma formação intensiva de empreendedorismo ministrada pelo Instituto Politécnico. Mas, nessa altura, tive que deixar o projecto de lado porque era necessário dar mais atenção ao curso. Os anos foram passando e após a minha chegada à ilha do Sal, em 2019, iniciei um estágio profissional Numa empresa de renome, que foi suspensa uns meses depois devido à pandemia Covid-19”, recorda. 

Solução para o desemprego

Em casa, sem trabalho e com as economias a “enfraquecerem”, Randi conta que teve que procurar uma solução. “Lembrei-me do projecto que havia iniciado há quatro anos, que se encaixava perfeitamente na conjuntura que se vivia na altura e que se faz sentir até hoje”. Até porque, o comércio digital já estava a ser amplamente aplicado lá fora há muitos anos, mas em Cabo Verde, “as inovações tendem a chegar de forma tardia e aqui na ilha do Sal não havia sinais de que iriamos ter um negócio digital tão cedo”. Contudo, explica também, a pandemia mostrou que o comércio digital é uma “mais-valia” para a sociedade. As regras de distanciamento social e a proibição de aglomerações em locais públicos, principalmente em mercados, mostrou ser então o ambiente propício para a criação da plataforma Salense. “Veio para dar aos salenses uma alternativa. Passou a ser possível efectuar compras de produtos de supermercado, através do website salensecv.com com o adicional de entrega ao domicílio”, esclarece, orgulhoso. Desde o início, Randy passou a contar com mais dois parceiros, Adilson Tavares e Zevy Fonseca, e juntos, garantem que têm trabalhado “incansavelmente” para tornar o Salense numa “ferramenta indispensável no dia-a-dia das pessoas”.  Olhando para trás, Randi não tem dúvidas de que o empreendedorismo foi a solução para o desemprego. “Se não tivesse tomado a iniciativa de criar algo que trouxesse valor às pessoas, provavelmente eu iria estar em casa sem perspectivas de retoma do estágio ou até mesmo, de encontrar um emprego”.

Créditos bancários não ajudam

O investimento de capital realizado para a criação do negócio online, não foi um entrave, dado que recorreu ao “low-cost”. “Aliás, esta é uma das vantagens do e-commerce, as barreiras de entrada no mercado, a nível financeiro, são muito baixas”.  Ainda bem, porque se dependesse de créditos bancários seria bem mais complicado. Fora isso, houve outros constrangimentos igualmente superados, especialmente por ser algo novo. “Por ser um conceito novo, as pessoas tendem a desconfiar da seriedade no negócio e da qualidade dos produtos. A população está acostumada a fazer as compras pessoalmente e fica com um pé atrás quando o assunto é confiar em pessoas estranhas para satisfazer essa necessidade”, admite. Esse tipo de constrangimento tem sido colmatado à medida que a empresa vai amadurecendo. “Temos conquistado a confiança e o carisma dos salenses, cliente após cliente, por isso esforçamos ao máximo para dar uma experiência excelente a cada pessoa que optar por usar a plataforma Salense”, conclui.  

Repensar agricultura no Sal

A produção agrícola na ilha do Sal praticamente não existe. Daí que para trabalhar directamente com os produtores, a salensecv.com tem de funcionar, neste momento, como intermediador entre os fornecedores e os clientes.  “Expomos todos os produtos dos fornecedores, mercado Família e Morabeza Fresh, na plataforma Salense, o cliente faz a sua encomenda, nós vamos ao fornecedor para fazer a recolha e levamos os produtos à residência do cliente”, explica Randi Cardoso. A nível informático, a empresa conta com a parceria da empresa cabo-verdiana Enterstarts, liderada por Ayrton Gomes, e que, segundo Randi, “dá todo o apoio e suporte na plataforma Salense”. Na prática, trabalham todos no modo “home office”. “Cada um fica em

sua casa e quando surge uma encomenda, envio a lista dos produtos por Messenger para os parceiros e saímos de casa para recolher os produtos e levá-los ao cliente”. Como refere, os seus fornecedores possuem “preços competitivos”, dada a realidade da ilha, e que quando reunirem condições para terem o próprio stock de frescos, irão “garantir preços ainda mais competitivos de modo que as pessoas possam comprar ainda mais produtos”.  Randi diz acreditar que a ilha do Sal tem muito potencial para a produção agrícola, mas, na sua óptica, é um sector “mal explorado” e que “precisa de ser repensado de maneira pragmática e inovadora”. 

Futuro em expansão

Para o futuro, Randi Cardoso garante que os projectos são muitos e começam pela necessidade de se introduzir muito mais produtos na plataforma, de modo a que o cliente “possa encontrar tudo o que precisa” no Salense. Também, a nível de frescos, a ideia é que a salensecv.com passe a ser uma ponte entre produtores agrícolas da ilha do Sal e a população. “É algo que pretendemos concretizar visto que o nosso objetivo máximo é valorizar tudo o que é da ilha do Sal e de Cabo Verde no geral”.  Dar a possibilidade aos restaurantes que têm opções “take-away” de terem um espaço na plataforma para exporem os seus produtos para que os utentes possam encomendar, é também outra das inovações que será posta em prática, “muito em breve”. Estes jovens empreendedores estão ainda a explorar o envio e o recebimento de mercadorias inter-ilhas, um mercado que se mostra “bastante atractivo”.

Também, graças ao sistema de pagamento online e da parceria entre o Salense e a SISP, Randi Cardoso diz que irá “atrás de novos horizontes, nomeadamente os salenses na diáspora”. Pois, passou a ser possível aos imigrantes efetuarem compras na plataforma para entregarem a familiares residentes na ilha do Sal. “Por exemplo, recentemente, fizemos a primeira entrega de uma encomenda feita por uma emigrante salense residente nos EUA, que brindou à sua mãe residente em Santa Maria com umas compras”, congratula-se. Apesar de ser uma empresa jovem e de o mercado digital estar só a começar em Cabo Verde, Randi acredita que o projecto é uma aposta ganha. “Ainda temos muito para aprender e evoluir, mas estamos convictos de que este é o caminho certo. É só uma questão de tempo, até as pessoas começarem, massivamente, a adoptar esta nova forma de “ir às compras”.

(Publicado na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 693, de 10 de Dezembro de 2020)

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