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Política

Caso Alex Saab ganha novos contornos: Gil Évora e Carlos Anjos alvos de buscas da PJ

Gil Évora e Carlos Anjos, dois envolvidos no “caso” Alex Saab, foram estes dias alvos de busca da Polícia Judiciária cabo-verdiana. Isto numa altura em que surgem notícias de movimentações da armada norte-americana no sentido de evitar uma operação iraniana para resgatar o alegado testa-de-ferro de Nicolás Maduro. Enquanto isso, Saab é nomeado vice-embaixador da Venezuela na União Africana.

Quatro meses após a abertura de uma instrução criminal contra Gil Évora e Carlos Anjos, por, supostamente, se terem deslocado à Venezuela com a missão de encetar contactos com o presidente Nicolás Maduro, enquanto alegados emissários de Cabo Verde, o Ministério Público (MP) resolveu fazer buscas aos escritórios e residências do ex-PCA da Emprofac e do antigo director geral do Turismo, respectivamente.

Nessas buscas realizadas por inspectores da Polícia Judiciária (PJ), sob a orientação do procurador Vital Moeda, foram levados para perícia os computadores pessoais e respectivos telemóveis dos dois empresários. Contudo, conforme A NAÇÃO pôde apurar, Gil Évora e Carlos Anjos ainda não foram constituídos arguidos.

Em comunicado emitido em finais de Agosto, o MP referiu que, ao tomar conhecimento pela comunicação social da suposta missão de Évora e Anjos à Venezuela, alegadamente com a missão de encetar contactos com o Presidente daquele país, enquanto emissários do Governo cabo-verdiano, assim como do comunicado do Governo de Cabo Verde alegando não ter enviado ninguém nem qualquer missão ao mencionado país, determinou a abertura de instrução criminal.

Em causa estavam, segundo a Procuradoria Geral da República, factos susceptíveis de, por ora, integrarem a prática de um crime de usurpação de autoridade cabo-verdiana, previsto pelo artigo 312º do Código Penal e punido com a pena de prisão de 1 a 5 anos. E concluída a investigação, de acordo com o MP, será tornado público o sentido do despacho de encerramento da instrução, que decorrerá em segredo de justiça.

A notícia da viagem de Gil Évora e Carlos Anjos à capital venezuelana foi divulgada no dia 19 de Agosto, pelo jornal ‘El Nuevo Herald’, publicação sediada em Miami (EUA), dedicada a temas da América Latina.

Na sequência, o Governo cabo-verdiano desmentiu ter enviado qualquer emissário à Venezuela, tendo de seguida demitido um dos visados, Gil Évora, do cargo de presidente do conselho de administração da Empresa Pública de Importação e Distribuição de Produtos Farmacêuticos (Emprofac).

Alex Saab, 48 anos, foi detido na ilha do Sal, a 12 de Junho, no cumprimento de um mandado internacional, emitido pela Interpol, a pedido das autoridades norte-americanas. Desde então, tem havido pressões do lado da Venezuela no sentido da libertação do seu alegado enviado especial e do lado dos Estados Unidos da América (EUA) que pedem a extradição de Saab, por crimes ligados ao narcotráfico e branqueamento de capitais.

Manobras de resgate… ou de diversão?

Esta semana, o caso Alex Saab ganhou contornos ainda mais preocupantes, do ponto de vista político e diplomático, com a notícia do New York Times (NYT) dando conta que os EUA recearam uma operação iraniana para resgatar Alex Saab na ilha do Sal.

Embora não seja a primeira vez que notícias do género surgem na Imprensa internacional, desta feita é um dos mais importantes e influentes jornais dos EUA a darem conta de mais uma suposta missão de impedir o resgate de Alex Saab a partir de Cabo Verde.

Conforme o NYT, as autoridades norte-americanas enviaram um navio de guerra equipado com mísseis e sofisticado sistema de radar para patrulhar as águas ao largo de Cabo Verde e assim impedir uma possível operação de resgate de Alex Saab, tido como arquiteto de uma rede económica que tem ajudado a manter no poder o regime de Nicolás Maduro na Venezuela.

O NYT noticia também que no mês passado, a pedido dos EUA, dois países africanos – não identificados pelo jornal – rejeitaram autorização de aterrissagem a um avião iraniano a caminho de Cabo Verde.

“Entidades oficiais disseram ser possível que o avião transportava espiões iranianos, comandos ou mesmo só advogados envolvidos nos esforços para se impedir a extradição de Saab”, escreve o NYT que acrescentou que o avião “regressou a Teerão”.

Questionado pelos jornalistas sobre esta notícia avançada pelo NYT, o ministro Luís Filipe Tavares desvalorizou a informação, afirmando que “existe muita especulação da imprensa Internacional sobre o caso”. Garantiu, por outro lado, que quando existem situações do género, “são tratadas em fórum próprio”.

Esse governante garantiu, também, que as relações diplomáticas de Cabo Verde com o Irão e EUA são “excelentes”, pelo que diz não haver motivos para preocupações maiores em relação ao caso Alex Saab.       

Nova cartada para salvar Alex Saab

Depois de gorada a tentativa de libertação de Alex Saab através de uma decisão do Tribunal da CEDEAO, a Venezuela acaba de lançar uma nova cartada diplomática, com vista a garantir a “imunidade” do seu “enviado especial”.

Conforme escreve o Notícias do Norte, o governo de Caracas nomeou Alex Saab, esta segunda-feira, 28, vice-embaixador daquele país na União Africana (UA), reforçando, assim, o estatuto de diplomata e a inviolabilidade pessoal do empresário colombiano, como forma de provar a ilegalidade da sua prisão pelas autoridades cabo-verdianas ao abrigo de um Alerta Vermelho da INTERPOL.

Numa missiva em inglês endereçada à União Africana, em Adis Abeba, com carimbo de recepção dos serviços da UA, a que o Notícias do Norte diz ter tido acesso, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela requer o necessário “agréement” para que Alex Saab possa figurar como diplomata venezuelano junto da organização.

Com esta diligência, segundo a mesma fonte, o governo venezuelano introduz um elemento de maior complexidade no processo de Alex Saab, uma vez que, a ser aceite a acreditação pela União Africana, a justiça cabo-verdiana passa a tratar com um diplomata devidamente reconhecido e a ter, nos seus cárceres, alguém que goza formalmente de imunidade efectiva, garantida pelo Direito Internacional.

Pelos actos, quer dos EUA, quer da Venezuela, a permanência de Alex Saab já se transformou numa batata escaldante nas mãos das autoridades cabo-verdianas. O simples facto de os EUA terem colocado uma embarcação nas cercanias de Cabo Verde para evitar um suposto resgate de Saab ilustra a dimensão do problema.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 696, de 31 de Dezembro de 2020

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