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Covid-19

Associações de apoio às mulheres sentem-se afectadas pela pandemia

As Nações Unidas já alertaram. A covid-19 está a provocar uma queda na igualdade do género em todo o mundo. Em Cabo Verde, as associações de apoio às mulheres já sentem na pele os retrocessos sociais e económicos provocados pela pandemia e receiam que não venham a ser contempladas com medidas  visando a retoma económica. 

A Associação das Mulheres do Planalto Leste em Santo Antão ilustra o cenário de crise por que passa a ilha devido à covid-19. Criada em 2005, a Amupal tem actuado junto às famílias dessa localidade na promoção de actividades geradoras de rendimentos e na melhoria das condições de vida das mulheres chefes de família.

A covid-19 condicionou por completo as acções e actividades económicas promovidas pela Amupal. O escoamento de produtos agro-alimentares, o projecto de turismo de terraço e o da unidade de fabrico de vinho estão no momento condicionados. 

Esse quadro vem dificultando ainda mais a actuação da Amupal seja no combate ao desemprego feminino no Planalto Leste, Ribeirão Fundo, Lombo de Figueiras e Águas das Caldeiras, seja no apoio aos alunos dessas localidades com transporte escolar, alimentação, saúde e intervenções nas habitações.

“O propósito do projecto é melhorar as condições de vida das pessoas dessas comunidades, mas com a pandemia a situação está difícil porque não há escoamento dos produtos; além de termos sido castigados pela seca, há também o problema das pragas e da colheita de frutas”, diz a presidente da Amupal, Josefa Sousa.

Inclusão na retoma económica

Josefa Sousa espera que as associações comunitárias sejam incluídas na retoma económica para dar continuidade aos trabalhos sociais. Para já, os produtos agro-alimentares produzidos pela Amupal já possuem certificado de origem e estão a aguardar o selo internacional IGT para a comercialização dos produtos no exterior.

A Amupal está também com os olhos postos na retoma do turismo, de preferência do turismo de terraço. Para isso, espera contar com apoios para terminar as obras do espaço para acolher turistas que visitam o Planalto e usar da economia para ajudar mulheres chefes-de-família.

Na mesma situação se  encontra a Associação das Mulheres de Lagoa de Ribeira das Patas (Amular) em Santo Antão. Também no ramo de transformação de frutas, a produção está interrompida desde o início da pandemia devido a dificuldades na obtenção de apoios.

A falta de um espaço ideal para a transformação dos produtos tem também dificultado a retoma das actividades da Amular. Sem produzir e nem vender, as dificuldades tendem a aumentar.

“Iniciámos a construção da nossa sede social para proporcionar melhores condições de trabalho, mas sem apoios não é possível. A pandemia tem atrapalhado muito a obtenção de apoios, o que levou a paralisação dos serviços”, aponta a presidente da Amular, Milu Pires, que acrescenta que a maioria das mulheres nesta localidade está desempregada.

Crise com “rosto de mulher” 

Dados do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) indicam que 1096 mulheres beneficiaram de subsídio de desemprego, contra 851 homens no período de Abril a Dezembro de 2020. 

São dados que, segundo o Instituto Cabo-Verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG), provam que a mulher dá  “cara à pobreza”, sendo que a maioria está no sector informal e em áreas de alta vulnerabilidade.

Rosana Almeida, presidente do ICIEG, diz entretanto que a instituição tem estado em “permanente articulação” com as autoridades nacionais no sentido de alertar para uma resposta à Covid que leve em conta as questões de género. 

Entre outras medidas propõe às entidades competentes que diminuam os impostos para as mulheres vulneráveis, com dificuldades de renda, isenção de taxa de inscrição no INPS para mães solteiras, mulheres no setor informal e empregadas domésticas.

Até porque, segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, a crise da covid-19 é uma crise “com rosto de mulher” e que tem acentuado desigualdades enfrentadas por mulheres “apagando progressos” rumo à igualdade de género.

Para este líder mundial, a recuperação da pandemia é a chance de traçar um “novo e igualitário” caminho. Guterres pede que se estimulem, especialmente mulheres e meninas na retoma económica, através do aumento do investimento nas infraestruturas de cuidado.

O representante da ONU defende que se não se levar em conta as questões de género, “não haverá uma resposta acertada” à recuperação económica.

É neste sentido que mulheres, entidades e associações de promoção à igualdade de género têm chamado atenção, cada vez mais, para a inclusão no Plano Nacional de Resposta e Recuperação da Economia de mulheres das diversas áreas, sem esquecer as trabalhadoras informais e domésticas.

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 706, de 11 de Março de 2021)

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