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Política

PAICV insta Procuradoria-geral República a investigar os contornos da privatização da TACV

O presidente interino do PAICV, Rui Semedo, disse, esta terça-feira (22), que a privatização da TACV foi um negócio que “não trouxe absolutamente nada” ao país, pelo que a Procuradoria-geral da República deve “investigar” os seus contornos.

“Não nos trouxe mercado, não nos trouxe capital e não nos trouxe experiência nenhuma”, afirmou, presidente interino do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), em conferência, na Cidade da Praia, para reagir ao anúncio do Governo de que vai  “reverter a privatização dos 51% do capital da Cabo Verde Airlines (CVA) que está na posse da Icelandic”.

“É um negócio em que o parceiro estratégico ganha tudo e Cabo Verde perde tudo e em toda a linha a começar por um aluguer (leasing) absurdo, em condições muito desfavoráveis se comparado com os preços praticados no mercado normal de transportes aéreos”, precisou Rui Semedo, acrescentando que o seu partido  já tinha alertado sobre este “negócio lesivo aos interesses do País”.

Segundo este político, o alerta do PAICV foi feito “de forma repetida e continuada porque sabia que tinha do seu lado a razão e a verdade”.

“Mesmo quando o Governo simulou a vinda do avião nas vésperas das últimas eleições legislativas, o PAICV teria alertado a todos que estaríamos perante uma encenação com o fim exclusivamente eleitoralista e que o avião não iria voar para nenhum país”, ressalvou  Semedo, para depois concluir que se está perante uma privatização em que o vendedor “em vez de receber, pagou dinheiro ao comprador e que o mesmo parceiro não pagou nem um tostão com relação ao compromisso assumido”.

Hoje, sublinhou o líder da oposição,  “todos sabemos que o País foi literalmente enganado, mas já não se pode fazer mais nada porque as eleições já foram feitas, os resultados já foram proclamados e o Governo já foi investido”.

Na sua perspectiva, a privatização da transportadora aérea de bandeira levou o país “a perder milhares de contos”, para além da “perda de tempo, de oportunidade e de investimentos rentáveis e credíveis”.

“O episódio mais recente foi a encenação de tentar descolar o avião no Sal, fazendo crer que desentendimentos, descoordenação ou outros problemas impediram aquela operação tantas vezes anunciada e tantas vezes adiada”, lamentou Rui Semedo.

Para o líder da oposição, “o próprio Governo não estava interessado que o avião levantasse voo, pois se fosse sua vontade ver o avião no ar, (…) o avião voava de facto, porque o mesmo Governo que obrigou a ASA [empresa de Segurança e Aeroportos] a investir neste saco sem fundo, pagando até o salário dos trabalhadores, conseguiria de certeza convencer a ASA a autorizar aquela operação”.

No seu entender, a situação da CV Airlines poderia ser resolvida desde que os donos dos aviões retiraram de Cabo Verde todos os seus aparelhos para serem colocados num lugar onde o Governo “não podia fazer absolutamente nada”.

Por outro lado, acusou o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva,  de não revelar aos cabo-verdianos  o prejuízo que significa para Cabo Verde a “reversão tardia desta privatização, que nem deveria ter acontecido naqueles termos”.

“Não nos diz claramente quantos recursos foram investidos naquele negócio falhado e os prejuízos que Cabo Verde irá averbar”, comentou, indicando que “só em avales e garantias o Estado de Cabo Verde já perdeu nos últimos tempos por volta de 20 milhões de euros, apesar de todos os avisos e de todas as advertências”.

Para o PAICV, também “falharam os objectivos de montagem do hub do Sal”, assim como os propósitos de aquisição dos 11 aviões até finais de 2017.

“Falharam os objectivos da conquista dos mercados e falharam os objectivos de não injecção dos recursos do tesouro do Estado de Cabo Verde naquela empresa [Cabo Verde Airlines]”, admitiu o líder da oposição, afiançando que  o PAICV continua a defender que negócios desta natureza devem ser feitos “com transparência, rigor, envolvimento dos sujeitos políticos e  firmeza na defesa dos interesses nacionais”.

Instado sobre uma eventual investigação por parte da Procuradoria-geral da República sobre os contornos dos negócios que envolveram a privatização da TACV-Cabo Verde Airlines, Rui Semedo admitiu que há “dados suficientes que permitem as autoridades investigarem isto”.

Em Março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV  por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no sector da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).

c/ Inforpress

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