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Sociedade

Rádio Nova muda de nome e inaugura estúdio na Praia

A Rádio Nova chama-se agora Rádio Nova de Maria, uma configuração enquadrada na mudança da sua linha editorial, autorizada pela Autoridade Reguladora da Comunicação Social (ARC) há pouco mais de uma semana. Este novo capítulo na história da emissora cristã prevê ainda, para breve, a inauguração de um novo estúdio, na cidade da Praia.

28 anos após a sua criação, no Mindelo, a Rádio Nova muda o seu nome para Rádio Nova de Maria. Trata-se de uma mudança, que segundo o seu director, Frei Valter de Pina, é motivada pelo receio de fechar as portas, devido a dificuldades no que tange à sustentabilidade financeira da estação.

“Para não fechar as portas e vendo que há muitas rádios privadas, que, entretanto, nasceram, os proprietários da Rádio Nova, os Capuchinhos, decidiram associar a Rádio Nova a uma rádio internacional que se chama Rádio Maria. Esta é uma rádio que surgiu na Itália nos anos 80 e que está em 85 países no mundo inteiro. Quiseram tomar esta rádio (Nova), mas o problema é que deveria mudar de linha, de nome e tudo o mais. Então veio o acordo com os Capuchinhos que praticamente doaram a Rádio Nova”, diz Valter de Pina ao A NAÇÃO.

Com esta nova configuração, muda-se também a linha editorial da Rádio Nova de Maria, devidamente autorizada pela ARC, há pouco mais de uma semana. Anteriormente a estação era generalista, mas agora passa a ser essencialmente religiosa. Isto é, 30 % da programação futura será dedicada exclusivamente à parte litúrgica, celebrativa, 30% dedicados à formação em conteúdos da fé cristã, outros 30% sobre a formação humana e os restantes 10% a notícias e entretenimento.

Tratando-se de uma extensão da Rádio Maria, que está presente em vários países, esperava-se que o “Nova” do nome caísse, mas para não apagar a toda a história a volta do nome original da emissora em São Vicente, decidiu-se inovar, dando origem ao nome Rádio Nova de Maria.

Princípios

O processo da criação da Rádio Nova de Maria obedece a alguns princípios fundamentais, nomeadamente, o espírito mariano, conformidade com a igreja católica, espírito missionário, o voluntariado e a confiança da divina providência.

Aos olhos do seu director, o país precisa mais do que nunca de uma rádio com esta vocação, tendo em conta o contexto actual, mas também a vontade popular. “É praticamente uma ‘paróquia no ar’ e temos necessidade disto em Cabo Verde, porque há uma franja da população que quer uma rádio assim. Podes viver a fé e espiritualidade, aprofundar e redescobrir valores que a sociedade precisa”.

Há já um mês que a emissora está a consciencializar as pessoas do novo nome, através das suas emissões. Apesar de uma ligeira estranheza que esta mudança possa causar nos ouvidos dos ouvintes, Valter de Pina diz que é um processo que irá seguir o seu curso natural.

Emissões na Praia

Oficialmente esta nova página da Rádio Nova de Maria ainda não foi inaugurada, dado que a emissora está na parte experimental. Entretanto, o seu director acredita que a inauguração venha a acontecer em breve, devendo coincidir com a inauguração do estúdio na cidade da Praia, dentro de dois meses, após a chegada de alguns equipamentos da Itália.

A criação de um estúdio na Praia deve-se ao facto da rádio ser vocacionada para a igreja católica e sendo Santiago a ilha com maior população, consequentemente, possui a maior comunidade católica e ouvintes.

“É natural que haja um estúdio para que os nossos ouvintes na Praia se sintam parte, se sintam envolvidos e depois para que possam tomar a palavra e fazer programas, ajudando esta rádio a crescer cada vez mais. Temos ouvintes em todas as ilhas e as nossas emissões chegam a diáspora, mas tendo um estúdio na Praia, teremos um estúdio na casa para que todos se sintam parte”, acrescenta.

Sustentabilidade

A sustentabilidade tem sido o calcanhar de Aquiles de quase todas as emissoras de comunicação social privada, facto admitido por Valter de Pina, exemplificando com a situação da Rádio Nova de Maria.

“O Estado ajuda financeiramente o sector publico. Na parte privada os jornais recebem apoios com critérios que talvez não sejam os melhores. Já as rádios, não têm nenhum centavo do Estado e tivemos perdas significativas durante a pandemia”, explica.

Esse responsável fala da concorrência desigual do órgão público no mercado da publicidade, como algo que dificulta, sobremaneira, o sector privado na procura da sustentabilidade. Além der receber avultadas somas do tesouro, o sistema RTC (rádio e televisão) disputa a pouca publicidade aos privados. Para Valter de Pina, já se justifica uma mudança neste paradigma, se se quiser ter uma comunicação social privada mais pujante.

“O governo deveria ajudar as rádios privadas porque seria sempre uma outra voz, um outro conteúdo, outra visão das coisas, um enriquecimento para a democracia. O governo tem de repensar isso”, desafia, em tom de conclusão.

Valter de Pina, 35 anos, é natural da ilha do Fogo. É padre e pertence à Ordem dos Frades Menores Capuchinhos. Formado em filosofia e teologia, há dois anos que está à frente da Rádio Nova de Maria, como director, mas também já desempenhou função de administrador.

Publicado na edição nº 720 do jornal A NAÇÃO, de 17 de Junho de 2021

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