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Cultura

5 de Julho: Artistas entre o regozijo e a insatisfação

Em 46 anos como país independente, Cabo Verde averbou importantes ganhos no setor da cultura, da música à literatura, passando pela tradição oral e outras formas de expressão. Contudo, a satisfação está longe de ser plena neste dia de balanço e reflexão, aqui na voz de alguns criadores ouvidos pelo A NAÇÃO.

O escritor Germano Almeida, prémio Camões em 2018, autor de uma vasta obra literária, tinha 30 anos aquando do 5 de Julho de 1975. Hoje, olhando para os 46 anos desse marco histórico, não tem dúvidas: “Se comparado ao que tínhamos antes da independência, Cabo Verde teve um percurso brilhante na área cultural”.

Contudo, ressalva, “poderíamos ter feito mais se houvesse meios, mas tendo em conta a natureza do nosso país, a ausência de apoios, que tem de vir do Estado, porque o privado não tem dinheiro, sem dúvida, que a nossa cultura deu um salto muito importante”, acrescentando que houve muitas criações literárias ao longo desse período.

Uma vez mais, Germano Almeida aproveita para deixar um repto aos decisores políticos, particularmente o Governo através do Ministério da Cultura, no sentido de criarem prémios e concursos literários para estimular a escrita no país, investir na leitura e numa boa política do livro.

“Desses concursos poderão sair novos valores, o que sempre é importante para a renovação da nossa literatura, E só lendo é que haveremos de ter uma comunidade de leitores, cada vez mais importante para o avanço da literatura”, conclui.

“A tradição está-se a perder”

Crítico em relação aos 46 anos da independência nacional, o guitarrista Voginha diz que logo no início, do pós-independência, surgiram várias “boas composições”, mas agora está-se aquém do esperado.  

“A área cultural evoluiu muito nos primeiros tempos do após Independência, houve muita criatividade e várias boas composições, mas, nos últimos anos, a música estagnou-se um bocado”, diz, ajuntando que os géneros tradicionais têm perdido o seu espaço na sociedade cabo-verdiana.

“As músicas tradicionais não são tão valorizadas como antes, perderam-se um bocado no tempo. Temos o exemplo da Morna, que é Patrimônio da Humanidade, mas hoje praticamente não se ouve Morna em Cabo Verde. As televisões e as rádios têm a sua cota parte de responsabilidade nisso porque já não tocam esses ritmos com frequência”, alerta o músico mindelense.

Apesar desse cenário, o nosso entrevistado diz que é inegável que após 5 de Julho de 1975, Cabo Verde alcançou vários marcos.

No que toca ao teatro, o ator e líder do grupo teatral Juventude em Marcha, Jorge Martins, conta que houve um avanço significativo mas ainda está-se longe do sonhado.

“Em termos de aperfeiçoamento, de qualidade dos agentes teatrais, tivemos um avanço significativo, mas ainda há falta de atenção e estímulo para quem faz ou deseja fazer teatro. Precisamos de mais formação, mais salas de espetáculos, salas de ensaios, entre outros incentivos”.

Jorge Martins diz que sente que nesses 46 anos “muita coisa poderia ter sido feita se tivéssemos valorizado mais o que temos, o que é nosso, mas agora o pensamento deve centrar-se no futuro, não vale a pena estar a reclamar do passado”, defende.


Alguns marcos culturais pós independência

1975 – Korda Kaoberdi e o batuko no palco de teatro

1978 – Nasce o primeiro laboratório de pesquisa e criação de artesanato, Cooperativa Resistência, mais tarde Centro Nacional do Artesanato

1978 – Ilhéu de Contenda, o primeiro grande romance do novo país, de Henrique Teixeira de Sousa

1980 – Bulimundo, principal divulgador do funaná

1984 – Baía das Gatas, o primeiro festival de música

1995 – Mindelact, referência em África e na Lusofonia

2009 – Arménio Vieira, prémio Camões

2019 – Morna Património da Humanidade

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