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Cultura

Sos Mucci, o homem do “afronaná” e da “positividade”

Criador do “Afronaná”, mistura de Afrobeat (Nigéria) e Funaná (Cabo Verde), o jovem artista Sos Mucci vem conquistando popularidade junto dos jovens. O seu sucesso ultrapassa neste momento os limites de Cabo Verde. Como mensageiro do bem, aposta na “positividade” que a vida nos pode proporcionar.

Sos Mucci, ou simplesmente “Mucci” (quando abordado na rua pelos fãs), é o nome artístico de Jailson D’Almeida.

Este jovem artista conquistou a popularidade pelas músicas “positivas” que tem partilhado com o público enquanto rapper que se adaptou ao novo estilo que chama “Afronaná”, uma mistura entre o Afrobeat e o Funaná.

Uma carreira artística que começou na Bolívia

Ao A NAÇÃO, o jovem natural do Coqueiro, cidade da Praia, contou que a sua carreira começou na Bolívia, no final de 2007, quando estudante em formação superior.

Foi entre a saudade e a nostalgia, por estar longe de casa e dos familiares, que surgiu o seu primeiro single, “Nha terra”.

Na verdade, porém, como também se recorda, “a música se manifestou na minha vida ainda em Cabo Verde. Antes mesmo de ir para o curso, já escrevia algumas coisas.

Só que nessa altura, ainda não tinha muitos conhecimentos de como as coisas funcionavam, não era como agora em que tudo é mais fácil montando um estúdio em casa. Na Bolívia, foi mais fácil dar este passo importante que já fazia parte do meu sonho”.

Na altura, Mucci acabou por surpreender até os amigos e familiares que desconheciam esse seu talento para a música.

“A seguir ao ‘Nha terra’, lancei o ‘N’ta Luta’, que foi um pouco mais longe em termos de sucesso. Como naquela altura ainda estava fora do país, creio, essa música fez o seu percurso, mas o artista que hoje sou não a acompanhei”.

Em 2018, Mucci decidiu dar mais vazão ao artista que morava em si.

“Decidi focar unicamente na minha carreira artística e acredito que de lá é que surgiram os resultados conseguidos nas músicas seguintes, mais concretamente de 2019 até agora”, sublinha.

Primeira produção: mais de um milhão e meio de visualizações

Na primeira produção, lançada em Novembro de 2019, Mucci alcançou um milhão, 677 mil e 244 de visualizações no Youtube, o que por si dá ideia da projecção que acabou por conquistar junto do grande público, que não reside apenas em Cabo Verde.

“Xona”, uma composição sua que contou com a participação de outros artistas, seguiu o mesmo sucesso.

De 2019 para cá, o jovem artista já conta com dezenas de lançamentos. De entre os mais populares aponta “Lisboa”, “Liberdade”, “Nha Amor” e “Mucci”, este último um “solo” que consagrou a sua carreira. O single lançado a 29 de Outubro de 2020, dia do seu aniversário, constituiu uma homenagem à sua pessoa, uma história de superação.

Cantar a positividade

“Este trabalho tem um significado muito grande porque abri-me nela, para as pessoas. Contei a minha história nesta música.

Uma história de superação para inspirar os outros jovens a acreditarem nos seus sonhos e focar nos seus objectivos”, explica o jovem que prefere retratar nas suas composições a ‘positividade’.

“Nos meus temas costumo cantar experiências pessoais ou de terceiros, mas sempre mostrando a ‘positividade’ da vida.

No nosso dia-a-dia lidamos com ansiedades, inseguranças, entre outros problemas, nem sempre fáceis de superar. E, sendo assim, escolhi cantar que em todas as dificuldades que enfrentamos, podemos sempre tirar lições que nos tornam pessoas melhores”, explica.

Em relação às suas letras, o artista diz que, independentemente do público, não compõe músicas que desvalorizem a sua educação e formação humana.

“Não, porque tenho crianças que adoram as minhas músicas, mas porque valorizo a educação que tive. Por isso, presto sempre muita atenção às letras. Isto em respeito àqueles que me ouvem e, sobretudo, para não cantar algo que não possa estar em condições de chegar aos ouvidos da minha mãe, principalmente”.

Novos projectos

Mucci revela que tem em curso o projecto colectivo denominado “Morabeza” que consiste na promoção das dez ilhas de Cabo Verde, sem deixar de fora Santa Luzia. Aliás, conforme avançou esse projecto já está em curso pelo que o pontapé de saída, há uma semana, foi com o lançamento do single “Fica li ku mi”, uma música que contou com a participação de sete artistas de diferentes géneros.

“Fika li ku mi’ foi gravada no Maio, mostrando os principais pontos de referência da ilha, assim como os próximos trabalhos serão nas restantes ilhas do país, inclusive Santa Luzia.

A ideia é grande e temos a intenção de incluir em cada capítulo, artistas cabo-verdianos de renome, residentes e da diáspora, mas também aqueles que estão a iniciar agora”, revela o entrevistado do A NAÇÃO.

Sos Mucci avançou, entretanto, que está a preparar o lançamento do próximo single, “Raskon”, do novo álbum “Raça Zeferino”, enquadrado no seu novo estilo de música, o “Afronaná”.

“Quero misturar estes dois estilos num contexto de ‘badiu’, ou seja, um romance na variante crioulo de Santiago, com linguagem terra-terra, recuperando algumas expressões que já caíram em desuso”, adianta, realçando que temas já lançados, “Nos e morri xinta na stera” e “Nha Amor”, por exemplo, fazem parte do “Raça Zeferino” que deveria sair no dia 28 de Agosto, em homenagem ao seu pai, falecido em Fevereiro deste ano.

Gratidão

Questionado sobre o seu maior sonho, o artista responde que os sonhos que tem hoje não são os mesmos que teve no ano passado.

“Sou muito agradecido a Deus por tudo. Mas, os sonhos mudam. Não vejo-me a progredir sem os outros artistas que fazem parte desta família. Quero que andemos lado a lado para o sucesso colectivo”.

Já para os fãs, “desde os mais pequenos, que gastam todas as megas de internet dos pais, ouvindo Mucci, passando por aqueles que escolheram-me como tema para as suas festas de aniversário, que me abordam na rua com mensagens positivas, aos menos jovens que identificaram com a minha história, as minhas letras e as minhas músicas, quero dizer um obrigado e pedir-vos que continuem a apoiar-me porque por entre as dificuldades, as vossas mensagens positivas é que não nos deixam desistir”, termina.

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 723, de 08 de Julho de 2021)

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