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Cultura

“Dia Nacional do Batuco não precisa ser só uma conquista de Santiago. É também de Lisboa, Boston, Roterdão…” –  José Tavares

Assinala-se neste sábado,31 de julho, o Dia Nacional do Batuco, que coincide com o Dia da Mulher Africana. A efeméride aprovada no parlamento em Março deste ano vai ser comemorada pela primeira vez, a nível nacional e na diáspora. Para o historiador José Soares, que levou a proposta ao Parlamento, esta é uma conquista, não só de Santiago, mas de toda a diáspora onde o batuco representa a alma e tradição do povo. 

A lei que estabelece o 31 de Julho como Dia Nacional do Batuco começou a vigorar no país a 6 de Maio, sendo que foi publicada no Boletim Oficial de 5 de Maio de 2021, com intenção de valorizar este gênero musical “filho de Santiago”, enquanto um dos mais antigos de Cabo Verde.

A proposta foi apresentada pelo ex-parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD) na legislatura passada, José Manuel Soares Tavares. Na altura, houve outras datas sugeridas por outros parlamentares, mas, no fim,  acabou por ser escolhido o 31 de Julho, também Dia da Mulher Africana.

Em entrevista ao A NAÇÃO online, o também estudioso e historiador José Soares, explico a motivação que esteve por detrás da iniciativa.

“Entendi que devia levar para o Parlamento, em sintonia com os meus colegas, esta iniciativa, feita com grado das batucadeiras, pelos grupos parlamentares, para que também o batuco tenha um dia especial, no mesmo dia da mulher africana, que são também as cabo-verdianas, quem na sua maioria canta e dança o batuco”.

Valorização daquilo que “é nosso”

José Soares diz que esta sua proposta em ter um dia dedicado a este gênero, foi para valorizar aquela que é uma das manifestações culturais mais antigas de Cabo Verde, para ele, “a alma do povo destas ilhas”. Além disso, porque também tem na sua origem o batuco.

“Eu sou filho e geração do batuco porque sou de Chão Bom de Tarrafal, vizinho de Maninha Borges, ouço batuco dos tempos do Ntoni Denti D´oro mas também conheço a história de Nha Bibinha Cabral, Nha Nácia Gomi, todas naturais do Tarrafal, pelo que o batuco faz parte daquilo que é a nossa tradição”, explicou sublinhando que a sua “humilde” colaboração era neste sentido.

Na altura em que fez a proposta, Soares diz que falava-se que o ambiente político e social em Cabo Verde precisava de alguma “acalmia” antes as eleições, algo que acredita ter conseguido já que “com consenso de todos os parlamentares …foi muito bom para tranquilizar as almas e de certa forma, dar à sociedade civil cabo-verdiana aquilo que é a nossa alma, o batuco”, frisou.

Oficializado em efeméride, o historiador acredita que, agora, já não falta nada para o reconhecimento deste gênero, além de valorizar o que se conseguiu até agora.

“As batucadeiras já batucam, os amantes assistem e a Madonna já disse que o batuco é importante tendo criado até um. A Gláucia Nogueira veio do Brasil e abraçou também este gênero” disse, reconhecendo também os contributos do Orlando Pantera, Princezito, Beto Dias, Lura, Dino d’ Santiago, Bob Mascarenhas, entre outros cabo-verdianos que abraçaram este gênero.

Conquistas e novas gerações do batuque

Soares diz que o importante é valorizar esta conquista a nível nacional, e na diáspora, pois “o batuco é importante tanto quanto outros gêneros cabo-verdianos nomeadamente, o funaná, a coladeira, a morna e outros.

“Ela não precisa ser só da ilha de Santiago. É também do Maio, de São Vicente, de Lisboa, de Boston de Roterdão, entre outras ilhas e concelhos, cidades, países e continentes”, sublinha.

Essa fonte aplaude e regozija-se com a juventude que não deixa morrer a tradição.

“Eu como sou de Tarrafal, Chão Bom, digo que o Pó de Terra revolucionou o batuque. Grupo este que na década de 2000, levou o batuco do terreiro para o palco. Depois veio a Tradição de Terra, Cultura Esperança, Delta Cultura entre outros que deram continuidade. Portanto, acho que este gênero é o pulsar do cabo-verdiano genuíno que vai passando de geração em geração cada um com a sua marca mas sem perder a originalidade” explica.

Por fim, Soares acredita que, enquanto familiar de batucadeiras, de uma comunidade que tem muita tradição cultural,conseguiu fazer a sua parte que foi “ganhar um dia para este gênero”. Segundo diz, cabe agora às batucadeiras, no país e na diáspora, aproveitar o dia e elevar cada vez mais o batuco, cumprindo com a sua parte.

“Merece até uma missa de Acção de Graças”

Para assinalar o Dia Nacional do Batuco, o nosso entrevistado disse que em princípio vai pôr nas redes sociais um “post” destacando os principais nomes deste gênero e talvez, “uma missa de Acção de Graças em honra às batucadeiras” que é “católico de muito boa-fé”.

Escreveu também para este dia, a crónica  “Ah Batuco! GÊNERO MUSICAL – UNIÃO DA ALMA CRIOULA” .

A nível nacional, as actividades para assinalar a data acontecem mais em Santiago. Em Santa Catarina, o artista Bob Mascarenhas vai estar em conversa aberta sobre o Batuco, no Centro Cultural Norberto Tavares. Outras actividades serão também realizadas na Praia, Santa Cruz e Tarrafal, todos em nome do primeiro Dia Nacional do Batuco.

 Batuco – origem e publicação 

O B.O, que reconhece 31 de Julho, como Dia Nacional do Batuco, descreve o batuco como sendo um gênero musical cabo-verdiano, tradicionalmente executado por mulheres, que se baseia na percussão e no canto e dança, um patrimônio cultural de Cabo Verde, especialmente na ilha de Santiago.

Ainda segundo a mesma fonte, o batuco, é segundo dados históricos, “um gênero musical originário da ilha de Santiago, com características padrões, desde o século XVIII, sendo provavelmente o gênero mais antigo de Cabo Verde”.

De relembrar que o Dia Nacional do Batuco tem como objectivo reconhecer a sua importância como Patrimônio Nacional, além de louvar os intérpretes e aqueles que ajudaram na criação do universo cultural diversificado que expressa, no batuco, a alma cabo-verdiana, e o reconhecer dos direitos humanos, os direitos dos cidadãos, das populações e das mulheres, no canto e na dança preconizados.

A intenção é que a efeméride seja assinalada por toda a nação cabo-verdiana no país e na diáspora.

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