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Santiago

Eco-Centro de São Domingos prepara-se para explorar turismo interno

O Centro de Promoção Ecológica de São Domingos tornou-se, nos últimos anos, um ponto obrigatório para os turistas que passam pela estrada que liga Santiago Sul a Santiago Norte. Entretanto, com a pandemia que afecta o país há sensivelmente um ano e meio, o espaço viu uma das suas principais fontes de renda paralisada. Neste momento prepara-se para uma nova largada, agora com foco no turismo interno e na criação de um jardim botânico.

O espaço agrega vários componentes da nossa biodiversidade de fauna e flora e vem introduzindo, para além de espécies melhoradas, várias novidades importadas de outros países.

No que toca à botânica, oferece uma vasta diversidade de plantas e árvores ornamentais, mas também de espécies frutíferas.

O seu foco é a divulgação, reprodução, preservação e conservação de espécies, com uma forte vertente educacional voltada para questões ambientais, segundo conta o proprietário, José Filomeno Ferreira de Carvalho, mais conhecido como Zeca de São Domingos.

Jose Frederico

“Temos aqui toda uma gama de biodiversidade e estamos a caminhar fortemente para um jardim botânico. Já temos um número bastante elevado de tudo aquilo que é das nossas ilhas e vamos introduzindo novas espécies”, explicou.

Para além do turismo, que faz parte da génese de criação do espaço, as visitas de estudo são muito frequentes, tendo em conta a vasta diversidade encontrada. Pese embora, com a pandemia, essas visitas caíram consideravelmente. “Ainda assim, em datas comemorativas, como o Dia Mundial do Ambiente ou Dia Mundial da Água recebe mos aqui alunos de várias escolas”, declarou José Filomeno.

Botânica

No ramo da botânica o centro oferece um pouco de tudo. Mantém um viveiro com plantas ornamentais para comércio, através do qual garante a sustentabilidade do espaço. Mas há também frutíferas e várias espécies endémicas.

Dentro de duas semanas, garantiu o proprietário, o centro deve receber mudas de coqueiro anão provenientes do Brasil, numa tentativa de reintroduzir a espécie no país. “Será a nossa contribuição para a divulgação de uma espécie que curiosamente chegou ao Brasil através de Cabo Verde. O coco hoje tem um certo peso mesmo no PIB e no agronegócio brasileiro, e nós hoje mal temos coco. Ou seja, estamos a reintroduzir agora uma espécie melhorada do coco verde anão”, explicou, avançando ainda que, para os próximos tempos, devem receber também algumas mudas cítricas para divulgação das espécies, assim como de mangueiras, não só para o centro, mas para fomentar novas espécies e variedades no país.

Para José Filomeno, “é uma vergonha ir a uma loja e encontrar um kg de limão por 400 escudos quando temos condições e clima propício para a produção de limão”, portanto, é neste sentido que deseja introduzir novas espécies na flora nacional.

Fauna

Para além da botânica, José Filomeno mantém um mini zoológico, com várias espécies de animais. “Desde os grandes ruminantes como o burro, o boi, o cavalo, carneiro e cabra, até aves, suinicultura, cunicultura,
entre outros”, especifica.

Há aves para reprodução e alimentação humana e há também aves exóticas. Na área da suinicultura há também espécies melhoradas para reprodução e comércio. “Essa é uma vertente que estamos a pensar em alargar e criar um mini zoológico, bastante apreciado pela criançada”, anuncia.

Tecnologia amiga do ambiente

Enquanto centro de promoção de boas práticas ambientais, o visitante pode encontrar uma série de criações e soluções inteligentes para eliminar ou diminuir os impactos nefastos da ação humana no meio ambiente.

Para além da utilização racional da água, encontram-se algumas “tecnologias amigas do ambiente”, desde a geração de energia fotovoltaica e eólica, até a utilização racional da biomassa. “Ou seja, a utilização de lenha de forma sustentável, através de fogões melhorados e fornos eco-eficientes, tudo no sentido de que quanto menor for a utilização de lenha, menor será a pressão sobre a floresta e o ambiente acaba sempre por agradecer”, como explica o responsável.

Outra criação é um fogão solar, que funciona como um concentrador solar e torna possível cozinhar alimentos com recurso apenas aos raios solares. Há também defumadores que auxiliam na conservação de alimentos através do sistema de defumação.

No centro a produção de lixo é bastante reduzida, graças ao aproveitamento de tudo o que é orgânico, através da compostagem e da biodigestão de excrementos de animais, transformados em gás metano.

“Para nós tudo o que é orgânico não é lixo, desde as folhas secas, restos de cozinha e dejetos de animais”, explica, apontando que o centro segue os princípios do químico francês Antoine-Laurent Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

Aposta no turismonacional

A pandemia da covid-19 quebrou o ciclo de turismo que já fluía no eco-centro e fez o proprietário considerar a promoção do turismo interno. Embora esperançoso de que as coisas podem voltar ao normal em breve, José Filomeno decidiu fazer uma aposta forte no turismo local e nacional.

Neste momento passa por uma transformação de parte do espaço em jardim botânico, já que, segundo diz, “tem, de longe, mais diversidade e melhor organização do que o único jardim botânico nacional”, no
mesmo município.

“O próximo passo é a classificação de todas as espécies e a criação de roteiros internos para captar o turismo interno e arrecadar alguma renda, no sentido de melhorar a sustentabilidade, pois, para além daquilo que geramos aqui não temos nenhuma outra fonte de renda”, adiantou.

Aliás, mais uma vez, se não fosse a pandemia a desacelerar o processo, as obras para a construção de bangalós para 0 acolhimento de turistas já estariam concluídas. “Neste momento estamos a dar acabamento ao primeiro bangaló e vamos construindo outros aos poucos, pois já temos sinais de alguma procura mesmo para o turismo interno. É uma opção para quem quer sair da cidade e passar um final de semana diferente no campo”, explicou.

Roteiro de Darwin com plantas endémicas e gastronomia

Uma das curiosidades do Centro de Promoção Ambiental de São Domingos é a existência de um roteiro turístico baseado nos caminhos do naturalista Charles Darwin, aquando da sua passagem por São Domingos, em 1832, onde teria conhecido várias espécies de plantas e provado a gastronomia local,
durante as festas de Fevereiro.

Para transformar este facto em produto turístico, criou-se o Jardim de Darwin, que serve de lar para espécies endémicas.
“Neste jardim temos as plantas endémicas, que para além da preservação e divulgação, carregam um pouco da história da ciência. Isto porque Darwin passou por Cabo Verde em 1832, mais precisamente pela ilha de Santiago. Na sua visita ao concelho de São Domingos e no seu primeiro contacto com a África, teve a oportunidade de conhecer uma série de plantas, muitas delas ainda sem classificação”, explicou José Filomeno.

A ideia é oferecer um pouco da história dos caminhos que o célebre cientista inglês percorreu no vale de São Domingos, recolhas que fez das espécies biológicas e da própria orografia e cultura do município, já
que foi ali que, diz Zeca de São Domingos, “pela primeira vez na vida Darwin conheceu um terreiro de batuque”:

Ainda dentro dos caminhos do pai da teoria da evolução das espécies, o centro está a ultimar o Menu de Darwin, com os pratos tradicionais que o cientista teria provado na sua passagem por Cabo Verde.

Publicado na edição nº 720 do jornal A NAÇÃO, de 17 de Junho de 2021

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