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Economia

 Santa Catarina: Primeiro Parque Agro-industrial vai nascer em Fundo de Torril

O primeiro Parque Agro-Industrial de Cabo Verde, a localizar-se no concelho de Santa Catarina, já está a ser montado em Fundo Torril, redondezas da Ribeira da Barca. Com capital nacional e estrangeiro, a área abrangida é de quatro hectares e promete revolucionar a agricultura em Santiago Norte e no país.

O presidente da Associação Comercial, Agrícola, Industrial e de Serviços de Santiago (ACAISA), Felisberto Veiga, mostra-se confiante no sucesso do Parque Agro-industrial de Santa Catarina, que começou a ser desenhado há cinco anos e está a ser implementado em Fundo de Torril, na zona da Ribeirão Areia.

A ideia, como deixa a entender ao A NAÇÃO, é revolucionar a actividade agrícola nessa zona de Santiago Norte, particularmente no concelho de Santa Catarina.

“A ideia do projecto surgiu em 2016 por iniciativa de um emigrante, associado da ACAISA.

E, dentro da nossa política de transformação do mundo rural, decidimos incubar o projecto dentro da nossa associação e os resultados têm sido promissores”, assegura.

 

Zona com enormes potencialidades e desafios

Este dirigente associativo, conhecido empresário em Santa Catarina, refere que essa zona de Santiago possui vales, planícies e planaltos “interessantes” que permitem instalar bons projectos agrícolas.

“Essas características naturais do concelho, por um lado, representam potencialidades e, por outro, enormes desafios”, afirma.

“As ribeiras são profundas e os planaltos situam-se à volta de 500 metros acima do nível da água do mar. Isso quer dizer que qualquer intervenção é custosa.

Neste caso em concreto, o maior desafio foi a mobilização da água subterrânea. Já fizemos as perfurações e testes de água e a exploração do furo também já foi autorizada. Portanto, a nossa expectativa é grande”, sublinha.

Além de recursos internos, a ACAISA conta com a parceria da Associação para o Desenvolvimento e Promoção Rural (ASDEPR), dos Açores, na implementação do projecto.

A mesma fonte adianta que, nesta fase inicial, o empreendimento está a ser implementado numa área de quatro hectares de terreno, mas que o parque agro-industrial irá abranger toda a área de Ribeirão Areia.

 

Instalação de campoescola estufas e rega gota-a-gota

“Neste momento, estamos focados na instalação do campo de formação com estufas e sistemas de regas gota-a-gota, justamente para trazer os agricultores que estão mais abaixo para virem conhecer novas experiências no ramo da agricultura”, adianta.

Além da parte produtiva, o Parque Agro-industrial terá um campo-escola de formação e demonstração, no sentido de incentivar os agricultores a cultivar no perímetro agrícola de Ribeirão Areia, zona esta a montante da barragem de Saquinho, que, por sinal, já está com o ordenamento agrícola feito, uma vez que já existem reservatórios e sistemas de regas instalados.

“Acreditamos que, com agricultores formados e com o apoio do Governo, há possibilidade de montar um projecto estruturante em cerca de 500 hectares de terreno, o que não será nada mau.

E, com isso, teremos uma área considerável para a agricultura moderna e com rendimentos para as famílias e o mercado de Santa Catarina.

É nessa perspectiva que estamos a fazer de tudo para que esse projecto-piloto tenha sucesso e levar essa iniciativa para outros lugares, nomeadamente o concelho do Tarrafal”.

 

Investimentos avultados

Conforme Felisberto Veiga, em termos de investimentos, nesta primeira fase, para uma área  irrigada de quatro hectares, já foi feito um investimento considerável.

“Só o promotor tem um investimento à volta de 20 mil contos. E, a nível da cooperação com os Açores, em termos de equipamentos e outros trabalhos, estamos a falar de quase 80 mil contos.

No total, contamos ter um investimento acima de um milhão de euros, tenho a certeza absoluta”.

A nível da produção, aquele empresário avança que, juntamente com os técnicos do Ministério da Agricultura e Ambiente, vai-se estudar quais os tipos de cultivos que se adaptam melhor ao solo e ao clima da região, além de cultivos em estufas.

Jovens na linha da frente

O arquitecto urbanístico Ider Sanches, natural de Santa Catarina, é um dos jovens que, desde a primeira hora, abraçou o projecto de Fundo Torril. O mesmo conta que foi convidado pelos promotores da ideia para desenhar o projecto do Parque Agro-Industrial e, estando no terreno, percebeu que há potencialidades e oportunidades para investir fortemente na agricultura.

“Durante estes cinco anos a trabalhar no processo de montagem do parque surgiu essa proximidade com agricultura e também tive oportunidade de participar numa formação nos Açores para conhecer as experiências aplicadas no campo-escola”.

Actualmente, como refere, há poucos jovens a apostar neste sector e, por isso, acredita que com a instalação de campo-escola, através do Parque Agro-industrial, este cenário pode mudar para melhor.

“Já temos um furo com um bom caudal de água disponível e, neste momento, estamos na fase de testagem de cultivos para saber qual vai adaptar melhor nessa região, tendo em conta o clima e o solo.

Também estamos a preparar a montagem de uma estufa moderna que vai ser uma espécie de campo-escola para troca de experiências não só com os parceiros nos Açores, mas também agricultores nacionais e técnicos do Ministério da Agricultura e Ambiente”, salienta.

Novo impulso para Tabugal

Felisberto Veiga avança que a ACAISA quer trabalhar, juntamente com os parceiros, para dar um novo impulso no sector agrícola na bacia hidrográfica do Tabugal, tendo como pivot os jovens e os operadores rurais.

“Boa parte do investimento público na região já foi feita”, afirma.

“Existe uma barragem com boa quantidade de água e pode-se mobilizar ainda mais a nível subterrâneo.

Agora, também o lado do empresariado tem que entrar e descobrir que existem oportunidades de investimento no sector da agricultura”.

Veiga assegura que a ACAISA, dentro do seu papel de fomentar o empresariado, está disponível para ajudar os operadores, nomeadamente os proprietários agrícolas, sobretudo jovens, a desenhar projectos e incubar dentro da ACAISA e implementar.

“Tendo os projectos incubados vamos procurar financiamentos de forma mais viável possível.

Também queremos dialogar com a empresa Água de Rega (AdR), no sentido de disponibilizar água aos agricultores”.

Como trata de vincar, está-se a falar de uma região com cerca de 20 mil pessoas, sendo Santa Catarina um dos celeiros de Cabo Verde.

“Então, é propício que surjam agora empresas agrícolas capazes de trazer desenvolvimento e transitar de uma agricultura de subsistência para uma agricultura de rendimento. Esse é o caminho que queremos seguir”, conclui.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 727, de 05 de Agosto de 2021

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