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Economia

Santa Catarina: Falta de mão-de-obra atrasa monda

Os agricultores de Santa Catarina estão com imensas dificuldades para encontrar gente disponível para a primeira monda. A falta de mão-de-obra que se verifica actualmente no campo, deve-se à perda da população jovem devido à emigração, nomedamente para Portugal, e migração para a cidade da Praia. Com a procura em alta, o preço de um dia de trabalho já subiu para 1200 escudos.

A faina agrícola está em alta no interior de Santiago, principalmente no concelho de Santa Catarina, graças à boa quantidade de chuva caída na semana passada.

Os camponeses mostram-se esperançosos num bom ano agrícola, mas, neste momento, a sua grande preocupação é a falta de mão-de-obra para poderem fazer as primeiras mondas atempada- mente.

Muitos dos agricultores, sobre tudo os que têm grandes parcelas agrícolas, estão há mais de uma semana à espera de gente dispo- nível para mondar a suas propriedades antes que a palha cresça e venha a obstaculizar o desenvolvimento cultivos.

Esta falta de mão-de-obra no campo deve-se essencialmente à perda de população no interior, devido à migração para cidade da Praia e emigração dos jovens para Portugal.

Centenas de jovens viajaram para Portugal

Nos últimos tempos, centenas de jovens do interior de Santiago viajaram para Portugal, uns para seguir os seus estudos, através de vagas concedidas pelas Câmaras Municipais, e outros através de contratos de trabalhos feitos por empresas portuguesas.

Eduíno da Moura é um agricultor da Achada Tossa, que há mais de uma semana procura gente para mondar duas das suas propriedades agrícolas que lhe restam.

Em conversa com o A NAÇÃO, esse cidadão confessa que não tem sido fácil encontrar pessoas disponíveis para pagar.

“Neste momento estamos com dificuldade em encontrar gente disponível para pagar e mondar. E, com a queda das chuvas, mui- tas das pessoas que ainda não tinham semeado nas zonas onde há invasão de macacos e galinhas do mato foram semear. E agora, com chão molhado, todos procuram mondar as suas próprias par- celas e só depois ir às mondas pagas, os “biscates”. Felizmente, consegui mondar o terreno maior antes da queda das últimas chuvas”, regozija-se.

Aumento do preço da jornada de trabalho

Por outro lado, o nosso inter- locutor explica que os poucos jovens que estão livres já não querem trabalhar por 1000 escudos.

“Mesmo desocupados, exigem entre 1500 e 2000 escudos, mais almoço, para um dia de monda. Isso é impensável. Estamos ainda no início da azágua e não sabemos como é que o ano agrícola vai ser. Porque é preciso ainda muita chuva e ausência da praga. É por isso, que alguns jovens estão sentados na rua porque não querem trabahar por 1000 escudos ou 1200 escudos”, lamenta.

Por sua vez, Otilio de Brito, emigrante em França que encontra-se em férias, diz que há mais de uma semana anda à procura de pessoas para mondar as parcelas agrícolas da sua mãe em Barreira e Carapate, ambos no concelho de Santa Catarina.

“Comecei a mondar na terça- -feira, 17, com 10 pessoas, mas de- vido às chuvas tive que suspender os trabalhos. Depois disso, as pessoas tinham outros comprimissos e muitas foram mondar os seus próprios campos. Algumas já me deram a palavra de que no próximo sábado estarão dispo- níveis. Mas tenho que lhes pagar 1200 escudos, mais o almoço e bebidas”, conta.

Início das aulas pode agravar a situação

A falta de mão-de-obra para a agricultura no interior de Santiago pode agravar-se ainda mais, nas próximas semanas, com o início do ano lectivo em Cabo Verde e Portugal.

Muitos dos estudantes selecionados através de vagas das câmaras municipais começam a viajar para prosseguirem os seus estudos dentro e fora do país. Por outro lado, em Cabo Verde, com o início das aulas previsto para 13 de Setembro, muitos dos adolescentes deixarão de ajudar os pais nos trabalhos de campo, particularmente a remonda.

 

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 730, de 26 de Agosto de 2021

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