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O bairrismo e o  racismo em Cabo Verde

Por: Elsa Fontes

A Sociologia na sua vez, pelos seus métodos de investigação científica, procura entender e esclarecer a estruturação da sociedade com fenómenos, estes desenvolvidos e/ou a desenvolver.

Analisa relações históricas e culturas criando conceitos e teorias a fim de estudar relacionamentos sociais,

1.     Manter relações que estabelecem o poder. 

Justificação do tema:

Consciente ou inconscientemente entre pessoas que vivem numa comunidade, num grupo social ou mesmo em si, isto é, individual e/ou coletivo, o capital humano,

Lutam conforme Fanon[1], para viverem em harmonia uns com outros, estabelecendo fronteiras e procurando ampliar/reduzir neste caso o espaço em que vivem para o caos.

Percebo a fragilidade da sociedade caboverdeana em construir soluções para o desenvolvimento contínuo, o conhecimento, a aprendizagem ao longo da vida, tornando das minhas opiniões criticadas e outras aceites não numa sociedade amenizada de conflitos, mas sim habitável.

Concordo com a teoria evolucionista em Herbert Spencer, um dos pioneiros da sociologia. Influencia bastante o pensamento não só na Inglaterra, como também na França e nos EUA.
Os autores africanos e outros do decolonial afirmam que qualquer pressuposto comportamental de uma pessoa que está ligado à sua estrutura biológica (o fenótipo) é inerentemente racista, não importando se a ação é intencionalmente prejudicial ou pejorativa, porque preconceitos necessariamente subordinam a identidade individual, a identidade de grupo. José Madureira Pinto, estuda a possibilidade de utilização pela sociologia e psicologia, algumas definições que incluem apenas as formas conscientemente malignas de discriminação, o bairrismo negativo (ver livro de Fontes, 2006).

O exemplo da América do Norte com movimentos de extrema-direita, centro e esquerda tanto dos conservadores e republicanos; assim como o da América Latina, em que na população caribenha de cerca de 12.000 pessoas, como exemplo, onde se encontram «beats»[2] ou «bestas», desde pelo menos o ano de 1930, criando o grupo Klu Kluz Klan, trajados de branco com máscaras de branco e tochas feitas para fogueiras de casas de palha dos sucessores, aos escravos e/ou indígenas, falo de judeus, negros e uma camada que teima em vingar a sua existência.

Já na Idade Romana, nos anos de cristo e a seguir os templários, também os da Cruz Soástica. Da minha abordagem, racismo existiu na mesma idiossincrasia judaica, cristã, ortodoxa, muçulmana e adventista, para além de outras como a das ciências… A sociologia das Religiões é importante para estudar o bairrismo e o racismo.

A teoria evolucionista emprega um método comparativo, como de dados etnográficos, eu acrescento fenótipo e genótipo para comparar a génese do Bairrismo e Racismo ou seja a biologia. Desenvolve a teoria organicista. Comparando grupos sociais históricos para descobrir o que tem de comum.

A evolução social não depende da vontade humana, mas sim da gnose. Seguidor de Comte para ele todos os domínios do universo – físico, biológico, social – desenvolvem princípios semelhantes. O estabelecimento das fronteiras entre regiões, províncias, municípios e a distribuição dos respetivos podem entre estas unidades políticas não ser simplesmente neutras em termos étnicos.

A interação entre genótipo e fenótipo pode ser resumida da seguinte forma:

genótipo + ambiente → fenótipo

Uma versão um pouco mais detalhada seria:

genótipo + ambiente + variação ao acaso → fenótipo

O Racismo em CV, sujeito do estudo é assim segundo Amílcar Cabral uma forma da resistência e não do suicídio de classes, dix it Onésimo Silveira.

«Muito está por ser lembrado e apropriado, para uma nova práxis, do que vem da continental luta de libertação dos africanos em meados do século XX. Inclusive ao nível teórico. Ouvimos falar dos argelinos e dos sul-africanos: de entre os primeiros, Fanon (Frantz Fanon) e Memi (Albert Memmi- filósofo), difundidos pela força do pensamento sartriano; quanto aos segundos, Bico (Steve Biko) e Mandela (Nelson Mandela), pela potencialidade da comunicação anglo-saxã. No entanto, o colonialismo português – para além do francês e o inglês – também fez germinar, em suas colônias africanas (hoje, 5 países: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe), grandes líderes e referências para as recentes discussões descolonizadoras do poder e do saber.

 Há quase quarenta anos, morria assassinado Amílcar Cabral, expoente da luta de libertação nacional na Guiné-Bissau e Cabo Verde. O dia 20 de janeiro é feriado nacional nestes dois países e muito pouco se fala disto e de tal personagem histórica. Penso que entre Guiné Bissau e Cabo Verde houve luta armada, num tempo de caos, onde já Lenin abordava a questão da mobilidade social com todas as classes sociais. A nossa independência nesses moldes, num tempo em que era preciso acima de tudo Segurança alimentar, com a FAO, UN, basta ler Tocqueville, no artigo de Silva (CORREIA, 1990).

Na atualidade os malfeitores, isto é «thugs/ladrões/assassinos brancos ou pretos ou neggers» têm ao contrário: o que black live matter muito manifestou nestes tempos em COVID-19 e pré-eleições presidências, para a alma sufocada de George Floyd, um cidadão claustrofóbico.

Eu como socióloga, observadora e analisando com maturidade, os fenómenos sociais, temo que houve nesta altura um movimento determinante para o empecheament de Trump, assim como prevejo haver no Brasil.

Assim, há pouco tempo, palco de uma cabala com a morte agressiva de George Floyd, questionei, como? E quem é o racista aqui?

Claro Floyd não devia falar!!? Estudei Anatomia Humana… Trump se sentiu poderoso por sua própria armadilha, ao empoderar-se pelo que aconteceu na campanha em que delegou nacionalidade americana a emigrantes, ou seja fez com que a posse de Biden fosse retardada e impaciente pelos «golfos da vida», e tenho para mim, que o acidente no Capitólio é outra forma de não manter a harmonia na sociedade global, sem deixar resquícios, ora mais uma vez racismo!…a acontecer…

George Floyd não falou? Ou foi fake news, transmitido nas redes sociais??

Podia estar ao volante e a falar ao telemóvel com a mãe, pois ouviu-se bradar « i wanna my mom, i wanna my mom!».

Do lado da autoridade podemos ter violência encontrada, no povo que se manifestou logo logo, segundo Fanon é a opinião, a vontade segundo Bourdieu, de possuir o que o poder tem de dourado, não serve só a Escola de Chicago, ou seja, o federalismo, depois o capitalismo…ou quiça a democrata comuna. Estavam a querer despertar consciências. Representar o que de mau estava a acontecer na América de forma resistente e depois ativa. Acabar com o Trumpismo. Foi a gota de água…George Floyd foi a laranja espremida!

Sufocados estavam todos e o azeite na água transbordou num acto social que abrange países para ventos de mudança que trarão mais paz e concórdia (esperemos). Nós, caboverdeanos precisamos de gestos de mudança, simples mas que valem muito por Floydes…, por crianças que desaparecem, por inundações…pela Mãe Natureza!

Sobre George Floyd, não digo mais nada, não!

É outra forma de Aliança, luta armada em pandemia? Do preto para o branco, neve, pó, farinha, jogos, de sorte e azar…até 25 de 12…? Depois ventos e mares se manifestarão.

Por defesa, ou por discriminação.

O racismo e o Bairrismo têm em comum a epistemologia igual ismo, função de dinâmica, ou raça ou bairro em mobilidade ascendente ou descendente.

Para a mobilidade na raça à que recorrer a Marx, o idealista, Diop, além de Fanon. Ela, fala de cidades africanas com desordem conjuntural devido à violência segundo os africanners no seu conceito colonial.

Na América Latina o indígena, para mim, é o determinante composto pelo folclore que dá tom/som ao antropólogo. O tom é cor/música que o senhor não tem, embora, no Brasil por exemplo a raça depende do valor, do material. Esse torna-se e dissipa-se na comunidade do sujeito de pesquisa.

Desta forma comparo o racista do Brasil ao de África, e a China? no caso que estou a trabalhar em Cabo Verde. E o racismo?

Passo a referir uma autora que, como ela concordo plenamente sobre o bairrismo e o racismo em Cabo Verde.

 Esta reflexão em nada busca exaltar as “virtudes” que os cabo-verdianos possuem, mas, sim, chamar atenção a um problema cada vez mais expressivo no seio da nossa sociedade e que muitos recusam-se a ver, a comentar – talvez por acharem irrelevante: o racismo explícito dos cabo-verdianos.

Quando abordo este assunto com alguém, seja na rua, numa conversa aberta e descontraída com um amigo, num debate, ou em qualquer outra circunstância, as pessoas tendem a se desviar do assunto. Fogem com a desculpa “mal dada” de que não entendem bem daquilo que estou falar, ou que preferem não comentar por N razões – quase sempre culpam ” a sociedade”, como se dela não fizessem parte – … outros até fingem que se importam com o assunto concordando com cada palavra que digo, sem nenhum tipo de argumentação.

É triste, ver que nesta nova geração, onde grande parte dos jovens – que constituem a maioria no nosso país – tem acesso à escola, a grandes tecnologias e afins, continuam com o pensamento oco e deprimente em relação à própria África, em relação à pele outra, em particular.

Após mais de 500 anos de dominação colonial, sujeitos a todo o tipo de tratamento atroz, juntamente com os nossos demais irmãos africanos, os cabo-verdianos continuam a exaltar os “brancos”, como se eles fossem a raça “superior”.

Um Caboverdeano sente-se honrado por falar com um “branco”. Sente-se, por vezes, superior ao outro, apenas pelo simples facto de ter estado em contacto com este. Falar a língua então, é o supremo. Já, com um “negro” o cabo-verdiano evita ser visto.

O “branco”, na nossa sociedade”, é visto como um ser inteligente e algo que, para o meu povo, não compõe o leque de “atributos” de um “negro”, infelizmente. O “negro” ou seja, outro, nunca vai passar de um pobre coitado.

E os atendimentos públicos? Nem é preciso falar muito… a diferença de tratamento para com um “branco” em relação a um “negro” salta logo à vista. O modo de falar, o tom de voz, muda de um para outro com a maior facilidade e descaramento.

Somos mais atenciosos, quando de um “branco” se trata. Somos impacientes quando de um “negro” se trata. E assim vamos construindo uma sociedade hipócrita e medíocre…

Quando falo deste assunto, umas das primeiras coisas que me vem à cabeça é a palavra “mandjaku”. É que, em Cabo Verde, basta se ser da África – isto porque os cabo-verdianos não se consideram africanos – para ser um “mandjaku”, mesmo que não o seja. O “mandjaku”, ao contrário daquilo que realmente significa, é usado de forma pejorativa pelos “berdianos”, para “identificar” esses nossos irmãos africanos.


Passamos a vida a humilhar os demais africanos, sem um motivo contundente só por causa da sua cor da pele, como se os cabo-verdianos fossem brancos europeus e como se não fossem africanos. Aos desinformados, Cabo Verde faz parte da África, quer queiram, quer não.

Penso no Sal e nas minhas viagens a essa ilha e para quem nunca teve a oportunidade de visitar, grande parte dos comerciantes são os referidos imigrantes africanos que “comem o pão que o diabo amassou” para poder ter um tostão para enviar aos familiares em suas terras que dependem deles para sobreviver (mas os cabo-verdianos não sabem disso porque simplesmente não se importam… se fosse com um “branco”…); e há também os italianos que escolheram o arquipélago, propriamente o Sal, para fazerem as suas vidas. A maioria destes podemos encontrar na cidade turística de Santa Maria. Os chamados “mandjakus”, na sua maioria, têm pequenos ateliers, onde expõem as suas pinturas e outras artes plásticas; os italianos, por sua vez, são conhecidos pelos seus bares, restaurantes, pizzarias, etc.

Para vender os seus produtos, estes imigrantes da costa africana, saem às ruas e pedem que as pessoas (principalmente os turistas) entrem em suas lojas para comprar um produto. Acredito que para muitos, isto seja até um pouco constrangedor porque muitos deles pegam nas mãos das pessoas e quase que os “obrigam” a entrar para comprar. Acaba por ser um pouco invasivo.

Até aqui, ok… eu também ficaria meio desconfortável. Mas há incontáveis casos de italianos e de outros “brancos” que fazem pior, com seus comentários machistas, insultuosos e retrogradas, comportamentos infelizes e recebem um grande sorriso. A alegria é tanta quando são abordados um por “branco” que só lhes falta beijar-lhe os pés e cantar.

Um “branco”, seja ele residente ou apenas um turista, quando pede alguma informação para um cabo-verdiano, é tratado com pompa e circunstância… há casos em que as pessoas até se oferecem para guiá-los até o lugar pretendido. O “branco” dá um “bom dia” e é respondido com um sorriso até a orelha. Os dentes amarelos tornam-se brancos como que num passo de mágica. E assim as coisas acontecem, não só naquela cidade turística, mas em todo o país, e as pessoas fecham os olhos e preferem acreditar que “tá favorável”.

Analisemos a seguinte situação: aqui, em Cabo Verde, quando vemos uma cabo-verdiana de mãos dadas com um “branco”, quase que passa despercebido, e as pessoas aplaudem e dizem “sim, senhora. Esta já está arrumada na vida. Faz ela muito bem”. Há quem comece logo a imaginar a cara dos futuros filhos do “peculiar casal”, que ainda nem pensa em juntar os trapos. “Cabelos loiros, finos, olhos azuis”, mesmo que o coitado nem olhos azuis tenha.

Começam a imaginar a casa que o casal vai construir, a decoração… as viagens. E nem se preocupam em saber da situação financeira do “branco”. O gajo pode estar a morrer de fome, mas desde que seja “branco” é rico… simples como a água.

Agora, analisemos o contrário: uma “branca” de mãos dadas com o denominado “mandjaku”. Uuuuiii que escândalo. Todos comentam: “credo, coitada. Com aquele ‘preton’. Que nojo. O quê que fez esta mulher linda, branca e rica deixar o seu país para vir para este fim de mundo namorar com um gajo como aquele. ‘Preton d merda’”. Não se espantem! É a mais pura verdade. Vamos nos despir de certos tabus e certas hipocrisias com os quais estamos habituados. Fartei-me de ouvir comentários do género.

E vejam isto: segundo um estudo financiado pela União Europeia, em Cabo Verde, os africanos são os que mais sofrem com a discriminação. De acordo com os dados apresentados no documento, esta marginalização é de natureza racial e xenófoba (83%).

Mas o pior de todos, com certeza, é o racismo “mais que explicito” para com os próprios cabo-verdianos “negros”. E isso é possível perceber, principalmente, com o “badiu” que é, muitas vezes, insultado e inferiorizado pelos “demais cabo-verdianos” que se sentem superiores a este. Neste caso, não poderia ficar sem falar de uma boa parte dos sampadjudos – não que sejam os únicos, pelo contrário – mas são os que mais demonstram “publicamente”, se assim posso dizer.

O sampadjudo (nem todos, pois não há regra sem exceção) tem um sério problema com o “badiu”. Porquê? O “badiu” foi aquele que mais preservou, até agora, as nossas raízes africanas. O “badiu” é, na sua maioria, de pele negra. E claro, há também outras causas que podemos encontrar na história, como a eterna insatisfação dos sãovicentinos pelo facto da capital do país não ter sido Mindelo. (vidé Fontes, 2006, 2020)[3].

Mas o problema, para o cabo-verdiano, está em África… na África negra. O mesmo cenário com o “manjaco”, repete-se, parcialmente, com o “badiu”.
Os chineses, talvez, são a única “raça branca” discriminada no nosso arquipélago, chamado por muitos de “paraíso”. “Porcos”, “selvagens”, “brancos di m….”. Já aqui, não é a questão da pele…acredito que seja por outros motivos, por mim desconhecidos. (o comércio, o poder económico? Quiçá?)

Agora, atenção! Os cabo-verdianos quando se sentem vítimas do racismo… não há quem os aguente.

O nível de ignorância do Caboverdeano, por vezes, é tão grande que, para a maioria, em África só encontramos negros. No entanto, fazemos parte deste tão grandioso continente berço. Desprezamos esta nossa herança, desprezamos tudo isto, só para não termos o “azar” de sermos chamados africanos e vistos como “negros” quando, na realidade, existem mais cabo-verdianos negros do que brancos.

E sabem o que torna tudo isto mais deprimente? É que nós, cabo-verdianos, somos, também, africanos. Mas recusamos a nossa identidade, como se fosse “descartável”. E “descartamos” aqueles que ajudaram a construir a nossa história, a nossa identidade.

Mas aí, questiono-me: não terá o Governo a sua quota-parte de responsabilidade? Tomemos como exemplo as nossas escolas, onde as crianças e adolescentes têm mais contacto com a cultura e história europeia do que com a africana. O ensino da história cabo-verdiana já é deficiente, imaginem então do resto de África. É como se não fizéssemos parte de nada que envolva este continente. E as consequências, são visíveis. Os cabo-verdianos não têm o mínimo interesse pela história do continente do qual fazem parte. 

… já dizia alguém: “o cabo-verdiano só se torna africano quando vê-se de frente com um prato de cachupa ou quando fantasia-se de ‘mandinga‘. Depois disso é europeu”.[4]

 

 [1] Fanon, Franzt, «Os condenados da Terra»

[2] Lima, Redy Wilson, «Di kamaradas a Irmãos: o Racismo em CV». (…)

[3] Fontes, Elsa, «O Bairrismo em tempo de pandemia de COVID-19», junho 2020.

[4] In Monteiro, Carmen «Cabo-Verdianos: um povo racista sim» DTUDO1POUCO, 2017

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