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Santiago

Órgãos: Condutores suspendem transporte escolar nas zonas altas por causa de dívida de seis meses

Alunos das zonas altas de São Lourenço dos Órgãos estão indo para a escola a pé e alguns estão mesmo a faltar às aulas porque a Câmara Municipal deve seis meses de salário aos condutores. A situação foi denunciada ao A Nação pelos próprios condutores, que estão decididos a não transportar os estudantes até que a dívida referente ao ano lectivo anterior seja liquidada.

Segundo contam, nos dois últimos trimestres do ano lectivo anterior transportaram os estudantes sem receber o salário, mas com a promessa de que a mesma seria liquidada.

No início deste ano lectivo, continuam, foram chamados para uma reunião, onde a autarquia prometeu liquidar a dívida até sexta feira da semana passada. Uma semana depois da data limite, continuam sem receber.

Péricles Mendes, um dos condutores, transporta alunos da zona de Boca Larga, na chamada Montanha de Órgãos, para o Liceu Luciano Garcia.

“Faço o transporte de estudantes há cerca de nove ou dez anos, mas a situação desta vez está muito complicada. Há seis meses que não recebemos”, denuncia o jovem.

Perinha, como é conhecido, e que falava em representação de vários outros colegas, recorda que os condutores que fazem o transporte de estudantes não conseguem fazer outro tipo de frete, por causa do compromisso com os alunos. “Depois para chegar no final do mês e não receber. Temos família, temos os nossos filhos, além do próprio carro que precisa de cuidados para poder transportar os alunos”, sublinha.

Gilson, outro trabalhador do ramo, faz o transporte de Fundura e Boca Larga para o centro de Órgãos e diz estar na mesma situação, pela primeira vez em oito anos.

“Já aguentamos muito, mas a partir de agora o serviço está suspenso até que a dívida seja liquidada”, garante este condutor, que faz um percurso de uma hora em cada volta.

Gilson diz que desde o início das aulas tem transportado alguns estudantes, mas que são os próprios a pagar pelo serviço. Infelizmente, refere, há famílias com mais de dois alunos em casa e que enfrentam dificuldades para custear o transporte de todos.

Na zona de Matinho Riba, garantem, há alunos que estão mesmo a faltar às aulas.

Ao contrário dos colegas, que têm contrato apenas com a Câmara Municipal, Ângelo Semedo diz ter assinado com a Câmara, mas também com a delegação escolar local, ambos em dívida.

Ângelo diz que desde o início deste ano lectivo tem transportado os estudantes, uma vez que, no seu caso, são alunos do primeiro ciclo do ensino básico. Entretanto, já esgotado com a  demora, decidiu suspender o serviço a partir de sexta-feira, 24.

 Delegação do ME esclarece

Procurado, o delegado do ministério da educação em São Lourenço dos Órgãos, José Maria Pina, esclareceu que a comparticipação da delegação para com este condutor só aconteceu no âmbito da covid-19, já que era necessário diminuir o número de estudantes em cada volta.

Garante, no entanto, que a dívida da delegação é de apenas três meses e que só não foi paga até o momento, porque o próprio condutor não entregou a factura em tempo útil.

“Primeiro trouxe o valor errado. Depois trouxe uma factura proforma, que não foi aceite, já que o serviço já foi prestado. Pedimos então que entregasse uma factura/recibo, que foi entregue há cerca de 15 dias”, explicou.

Quanto aos restantes condutores, José Maria Pina afirma que trata-se de um contrato à alçada da autarquia.

Encarregados esperam solução

 Maria Augusta, residente em Montanha Baixo, é mãe de duas crianças para as quais , no momento, está a pagar o transporte todos os dias..

Esta encarregada, que aufere um salário mínimo, diz estar a conseguir assegurar o transporte dos filhos, mas que há outras pessoas que não gozam da mesma possibilidade.

“Há muitas mães aqui que não trabalham. Ainda no meu caso, eu trabalho, ganho um salário mínimo, me esforço  pago o carro todos os dias, mesmo que o dinheiro venha a fazer falta. Mas há outras pessoas com problemas maiores”, explica.

O preço diário, de ida e volta, para cada aluno varia entre 80 a 100 escudos, dependendo da distância entre a escola e a localidade de residência. O somatório no final do mês era pago pela câmara municipal, com uma comparticipação de 500 escudos da parte dos pais. A dívida acumulada, segundo os condutores, já ultrapassa os 200 mil escudos.

Este jornal tentou entrar em contacto com o vereador responsável pela pasta dos transportes escolares, mas o mesmo alegou não ter disponibilidade para prestar esclarecimentos.

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