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Ambiente

Agricultores do Colonato preocupados com eventual alastramento da praga de mil-pés

Focos da praga de mil-pés, que ataca essencialmente tubérculos, voltam a ser identificados na ilha de Santiago, mais concretamente em duas residências, sendo uma na cidade da Praia e outra no concelho do Tarrafal de Santiago. Dado o alarme, as autoridades asseguram que vão fazer de tudo para impedir o alastramento da praga na maior ilha do arquipélago que é também o maior celeiro do país.

A existência da praga foi confirmada esta semana pelo ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, que explicou que os dois focos estão interligados, dado que foram encontrados em casas pertencentes ao mesmo dono.

Agricultores do Colonato pedem inspeção e análises

O presidente da Associação dos Agricultores do perímetro agrícola do Colonato, no município do Tarrafal, Micael Sanches Lopes, “Nene”, disse ao A NAÇÃO que os agricultores receberam a notícia com alguma preocupação.

Isto tendo em conta o historial dessa praga em Cabo Verde, desde que nos anos 1980 foi detectada em Santo Antão, comprometendo, desde então, parte importante da produção agrícola dessa ilha. (ver caixa).

“Ficamos a saber através da comunicação social que foram identificados focos de mil-pés no Tarrafal. Mas aqui, no perímetro agrícola do Colonato, não temos informação da existência dessa praga. Esperamos que os responsáveis do Ministério da Agricultura e Ambiente (MAA) local e a nível nacional venham fazer as análises necessárias para tomar as medidas preventivas o quanto antes”, disse Nene.

No que tange às medidas anunciadas pelo MAA no sentido travar o alastramento da praga, nomeadamente proibir que os produtos das zonas afectadas sejam comercializados em outros pontos do país, o porta-voz dos agricultores do Colonato diz entender a situação, apesar da medida afectar a economia dos lavradores, com o risco de ficarem por sua própria conta.

“Nesse caso temos que pensar no bem comum e no futuro. Entendemos que é melhor colaborar para que as autoridades possam combater e eliminar a praga nessa fase inicial antes que se alastre. Até porque, se isso acontecer, os prejuízos serão maiores”, alerta Micael.

De salientar que só em Colonato existem cerca 200 parcelas agrícolas que beneficiam aproximadamente 500 agricultores.

“Situação muito séria, anormal e preocupante”, alerta o Ministro

Gilberto Silva garante, por seu turno, que tudo será feito para impedir que a praga se alastre e infeste outras propriedades na Praia e no Tarrafal, bem como noutros municípios de Santiago.

“Trata-se obviamente de uma situação muito séria, anormal, muito preocupante, pelo que, à semelhança do que aconteceu em 2013, o Ministério tudo fará para, de imediato, circunscrever aqueles focos e eliminar a praga para que a situação volte à normalidade” assegura.

Entre as medidas para conter os mil-pés está-se a proceder à destruição das plantas nas casas identificadas, o tratamento fitossanitário do espaço com produtos químicos e a quarentena de toda a zona onde se identificou o foco desse parasita como medida profilática.

Gilberto Silva acrescentou ainda que uma outra medida tem a ver com a proibição de deslocação de terra, de produtos agrícolas e de plantas em geral para outras localidades da ilha e fora dela.

Aquele governante confessa que ainda está por apurar se os mil-pés que foram encontrados na ilha de Santiago estão relacionados com a praga existente há várias décadas em Santo Antão.

Reforço de inspeção nos portos e aeroportos

Mas, por prevenção, o Governante assegura que vai ser reforçado o sistema de inspeção nos portos e aeroportos, o reforço da equipa técnica da delegação do MAA com especialistas para apoiar e coordenar as medidas definidas no plano operacional e informação e sensibilização dos agricultores e da população sobre a problemática.

“O Ministério e as autoridades vão tudo fazer para impedir que a praga alastre e infeste as restantes propriedades agrícolas, e os agricultores, os comerciantes de produtos agrícolas, a população e a sociedade cabo-verdiana em geral são chamados a colaborar, no sentido de transmitir a informação correcta e impedir que a ilha seja seriamente afectada pelos mil-pés”.

Gilberto Silva considera que essa é uma luta de todos “é fundamental evitar transportar” para as outras ilhas produtos não inspecionados das ilhas onde existem as pragas.

Histórico da praga de mil-pés em Cabo Verde

A praga de mil-pés em Cabo Verde foi descoberta nos anos 1980 em Santo Antão e ataca sobretudo produtos agrícolas, com maior incidência a culturas da batata comum.

Essa endemia representa uma “grande ameaça” para a produção agrícola e para a economia da ilha.

Ao longo dos anos, os agricultores têm clamado, sem sucesso, pela resolução desse problema que tem causado enormes prejuízos para a agricultura e economia de Santo Antão.

O embargo imposto em 1984 tem impedido o escoamento dos produtos hortícolas da Ilha das Montanhas para as outras ilhas com vocação agrícola.

Agastados com a situação, agricultores e operadores económicos ded Santo Antão têm exigido o levantamento do embargo dos produtos.

Transformação dos produtos

Em resposta a esse tipo de apelo, o Ministério da Agricultura tem aconselhado os agricultores de Santo Antão a apostarem na transformação de produtos, facto que, a acontecer, lhes beneficiaria de isenção fiscal total.

Entretanto, apesar dos apelos e medidas combativas adotadas pelo Governo, a praga de mil-pés tem chegado às outras ilhas com vocação agrícola, nomeadamente Santiago e São Nicolau.

Em 2013 foram identificados focos de mil-pés na ilha de Santiago, concretamente na cidade da Praia.

Em 2016, também o Ministério da Agricultura descobriu um foco dessa praga na ilha de São Nicolau, mais concretamente na zona de Lombo Pelado.

Para travar o seu alastramento, fez a destruição dos cultivos afectados e prospeção em todo o vale e em outros locais da ilha.

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