Apesar de serem preliminares, os resultados do quinto Recenseamento Geral da População e Habitação (RGPH-2021), do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), apresentados em Agosto de 2021, dão conta do aumento da pobreza no país.
O inquérito revelou que houve um aumento de barracas, principalmente nas ilhas de São Vicente, Sal, Boa Vista e Santiago (mais na Praia).
Quem vive em barraca, feita muitas vezes de chapas e papelão, obviamente, está longe de ter problemas como a alimentação resolvidos. Oficialmente, 115 mil cabo-verdianos, num universo de meio milhão, encontram-se na pobreza extrema.
Por outro lado, o mesmo inquérito revelou a diminuição da população no meio rural. Com os maus anos agrícolas devido à seca persistente.
que o país enfrenta, homens e mulheres do campo procuram cada vez mais os meios de subsistência nas cidades, rumando sobretudo para Praia, Mindelo, mas também para centros turísticos como Sal e Boa Vista.
Os resultados definitivos do censo 2021 estavam previstos para finais de Dezembro, ou início de Janeiro de 2022, para se conhecer a verdadeira realidade do país em vários aspectos. A esperança é que o inquérito venha a ter impacto positivo na sociedade, sobretudo, na resolução das questões mais críticas que eventualmente indicar. É claro que quando isso acontecer não faltará o habitual puxa-puxa entre os políticos. Há que aguardar.
Governo quer acabar com pobreza extrema que atinge 115 mil pessoas
Cabo Verde, segundo as estatísticas oficiais, possui 115 mil pessoas na pobreza extrema – para uma população total de quase meio milhão – e o desafio passa por tirar esses cidadãos desse quadro ao longo desta legislatura, como diz o Governo. Estar na “pobreza extrema” significa gente que dificilmente consegue o mínimo para se alimentar e sobreviver.
Com a seca e com a pandemia da covid- 19 estima-se que a situação dos pobres no país agravou-se bastante.
O Banco Mundial estima que que em 2020 a pobreza extrema global deverá subir pela primeira vez em 20 anos devido aos impactos da pandemia de covid-19, levando até quase 10% da população mundial a viver com menos de 1,90 dólares por dia. Cabo Verde não foge a essa tendência. Em 2020 o país registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB. O Governo cabo-verdiano admite que a economia possa ter crescido entre 6,5 e 7,5% em 2021, impulsionada pela retoma da procura turística, e prevê 6% de crescimento em 2022.
Apesar do quadro difícil, a coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas na Praia, a portuguesa Ana Graça, afirmou esta semana que o arquipélago tem condições para ser o primeiro país africano a eliminar a pobreza extrema, à luz das 115 mil pessoas identificadas nessa situação, no horizonte de cinco anos.
O Governo e o Sistema das Nações Unidas assinaram em Outubro de 2017 o Quadro de Cooperação para o Desenvolvimento das Nações Unidas em Cabo Verde (UNDAF), orçado em cerca de 92 milhões de dólares (81,3 milhões de euros), cuja execução termina este ano (2018 – 2022), iniciando-se agora o processo para ultimar o próximo quadro, ainda sem verbas definidas.
Por: Romice Monteiro e Lousiene Lima
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 752, de 27 de Janeiro de 2022
