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O efeito económico e financeiro da Guerra Rússia vs. Ucrânia

Por: Pedro Ribeiro

A economia global ainda está a lutar contra a pandemia. O momento critico tem a ver ainda com a recuperação económica que vem da crise de 2008/2009. A instabilidade pela guerra entre os dois Países, eleva, obviamente, preços e reduz expetativas de crescimento económico-, um efeito devastador na economia, pois o conflito alimenta a pressão inflacionista. As estimativas da National Institute for Economic and Social Researcch (NIESR) apontam para que a guerra na Ucrânia possa representar uma perda de um Bilhão de Dólares para a economia mundial. Como se sabe, a Rússia é um dos grandes produtores de petróleo, e além disso, sanções impostas pelos EUA e pela UE, também pressionam o preço de energia, direta e indiretamente. Hoje, pela primeira vez, em mais de 7 anos, o preço do petróleo supera US$100. Atualmente o Brent, que é a referencia europeia para o petróleo, já ultrapassou os 110 Dólares por barril (99 euros por barril), e o Crude, que é a referencia norte-americana para o petróleo, está agora a transacionar a 109 Dólares por barril (98 Euros por barril). Uma valorização de 15%.

Ademais, o preço dos alimentos subirá inevitavelmente, e esta invasão atinge Cabo Verde como sendo pais dependente, e iminentemente, importador da UE. Se olharmos para as estatísticas fundamentais de economia e das conjunturas internacionais, o país depende dos serviços de turismo, pois não há uma economia produtiva interna para a competitividade e sustentabilidade fiscal. É de se observar que a Ucrânia vende 17% do milho do mercado mundial (quinto maior exportador mundial do trigo), um peso relevante.  

Embora fique atrás dos EUA, Brasil e Argentina. A Ucrânia e a Rússia exportam 30% do trigo comprado pelo resto do planeta. O trigo atingiu o valor mais alto desde 2008 devido aos crescentes receios de escassez global à medida que a guerra na Ucrânia avance, e afeta mais de 25% das exportações mundiais da matéria-prima que serve de base a alimentos como pão, farinha ou massa. Falta de cereais faz aumentar o pão, a carne e o leite, objetivamente. Registar-se-á o aumento dos preços para o cultivo e transporte dos produtos, e alimentação animal estará em causa. Maior subida de preços de matérias-primas, desde 1974. Uma valorização de 40%. Entretanto, uma subida de vários preços, o que, só por si, não constitui inflação já que esta é a subida continua e sustentada do nível de preços. As subidas tanto podem representar um ajustamento de preços relativos entre vários setores, produtos e serviços, um ajustamento pontual do nível de preços ou o inicio de um processo recorrente de subida, que, esse sim, será inflacionada. Com as empresas a enfrentarem o aumento dos imputs (custo de energia), o aumento esperado dos salários e a verem uma retração da procura inerente a pandemia e o clima de conflito na Europa, temos uma estagflação, isto é, recessão com inflação. O aumento brutal do custo de energia conduzirá a uma inflação estrutural (endémica) e a um desequilíbrio das contas públicas e da balança comercial (défice da balança comercial a aumentar). A divida pública já elevada tornar-se-á insustentável, pois as taxas de juros aumentarão inelutavelmente. O impacto da inflação poderá ser substancial, pois uma boa parte dessa subida decorre do choque da crise pandémica e do seu impacto nos circuitos económicos (decorrente da disrupção das cadeias logísticas e de aprovisionamento e do aumento da procura). Com a inflação ganham as empresas e os acionistas. Registará, e intensificará a saída de capital. As bases industriais e as unidades de negócios podem ser deslocadas. O impacto já se faz sentir também nas bolsas. As bolsas mundiais fecham no vermelho. Entretanto, haverá sempre empresas a beneficiar com a guerra, nomeadamente as de armamento.

Contudo, sempre que há uma crise politica grave como a que se regista, os papéis comerciais, designadamente, as ações são afetadas. Vender ações agora é perder dinheiro. Em tempo de incerteza, os investidores tendem diminuir apetite pelo risco, optando, e bem, pelas chamadas ativos-refúgios, como o Ouro ou Divida. E é o que acontece, historicamente, em situação de stress.

Os investidores devem adiar novos projetos ou expandi-los, o que reduziria a oferta de emprego. A cotação em Dólar, sendo moeda internacional de referencia, o Ouro e o Petróleo cai, e continuará no vermelho nos próximos meses. O Rublo em mínimos de 2003. Contudo, o Ouro é sempre uma reserva de valor. No entanto, sensível ao que acontece com as taxas de juros. As taxas de juros deverão subir, e isso vai aumentar os encargos para as pessoas e empresas endividadas, e risco será inevitável mais cedo ou mais tarde. Uma inflação elevada anuncia um aumento das taxas de juros, o que, teoricamente, poderia prejudicar os preços de Ouro. E estabilizar caso não se assista a uma espiral de salario e as expetativas em torno a inflação possam    regressar aos valores ulteriores. 

Exige-se aos investidores uma visão a longo prazo, e que diversifiquem o portfólio por regiões e classes de ativos, e que utilizem o Dólar e as Commodities, e sobretudo que evitem a venda generalizada de títulos. Regista-se, ainda, o pânico no sistema financeiro, e consequente transtornos bancários e seguradoras, pelo que o BCV deve anunciar, o quanto antes, necessárias e urgentes intervenções para conter queda, obrigando ajustes rápidos da politica monetária, embora importada de Portugal (UE). Zona Euro é a economia mais afetada pela guerra. Este conflito vai trazer consequências para as empresas, sobretudo por via indireta, pois a Rússia e Ucrânia, não são mercados relevantes nas poucas ou quase nulas exportações nacionais. Agudiza-se a crise sanitária, económica, financeira, social, ambiental, e objetivamente a crise diplomática. O impacto sobre a confiança económica pode ser grande e se estender a meses ou, quiçá, anos. A confiança do consumidor está nos mínimos, e a expetativas futuras também diminui. Urge respostas! Os efeitos da subida de preços na economia real são evidentes, e poderão significar que a anterior projeção para o crescimento económico acaba por não concretizar. Haverá um abrandamento da economia fruto da subida de taxas de juros e a necessidade de controlar preços, que também acabam por afetar o crescimento através de uma menor possibilidade de consumo. E isto parece-me evidente.

O Governo, através dos Fundos do Turismo, Ambiente e/ou Rodoviário deve reduzir faturas de eletricidade e água, e apoiar diretamente as empresas. Pois a recuperação económica é relativamente fraca e o emprego esta a aumentar, pelo que se torna necessário uma reflexão profunda quanto a velocidade e forma de uma normalização gradual. Deve garantir medida para mitigar o efeito da subida dos combustíveis, designadamente subsidiar os preços de combustíveis! Deve agir rapidamente contra a inflação pois esta inflação não é transitória-, um rever em alta das previsões para os próximos tempos. As famílias e empresas continuam a aumentar a pressão e exigem respostas as sucessivas subidas dos preços, que engole grande parte dos já baixos salários. A competitividade ganha-se com produtividade, inovação e qualidade! 

Urge um ajustamento gradual perante essas incertezas, e uma cautela na despesa publica e apoios investimentos públicos torna-se necessários! Também é necessário o redesenho do nosso sistema fiscal, uma reforma profunda na AP, o que se exige a promoção de uma discussão pública aos problemas económicos, e introduzindo um novo vetor estratégico de desenvolvimento. Porém, acredito, e tenho fé que a paz vai prevalecer e que vivamos o estado de normalização!

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 758, de 10 de Março de 2022

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