PUB

Convidados

Economia circular vs crescimento económico: Por um desenvolvimento sustentável

Por: Pedro Ribeiro

Começo a reflexão por analisar e examinar a economia linear que hoje temos, e perspetivar o futuro e o que, realmente, precisamos para uma economia verdadeiramente circular.

Cada vez mais o Governo e as Empresas estão realmente preocupados com as crescentes pressões sobre os nossos recursos globais devido às atividades humanas.

A nossa economia e o nosso sistema de produção e consumo, estão danificando os sistemas naturais. Usam enormes quantidades de matérias-primas e energias para criar bilhões de produtos que sustentam nossas vidas.

Ao mesmo tempo, enviamos enormes volumes de recursos para atmosfera, água, terra e ecossistema que são vitais para a nossa existência. Quanto mais ricos somos, geralmente mais poluímos.

Um desafio global é que bilhões de pessoas em países menos desenvolvido têm o mesmo direito de viver vidas longas e confortáveis que as pessoas nos países mais avançados.

Mas se todo o mundo consome recursos, e emite recursos, ao nível que os países desenvolvidos fazem atualmente, então nosso planeta será simplesmente incapaz de atender às demandas.

Problemas da economia linear

O problema subjacente reside nas nossas economias lineares-, estas têm materiais excessivamente elevados e consumo de energia, e ejetam grandes proporções de materiais como desperdício.

A economia linear aliada ao aumento da população mundial tem causado uma procura crescente por matérias-primas, muitas delas escassas e finitas.

Para além da dependência de alguns países, a extração e a utilização destas matérias-primas aumentam o consumo de energia e as emissões de O2 com um grande impacto no ambiente.

Algo tem que mudar! Uma coisa a ser feita é tornar o crescimento económico muito mais circular – para que possamos alcançar mais usando menos. Propõe-se instrumentos em cinco prioridades, a saber: estimular leis e regulamentos, desenvolver diretrizes de design de produtos, desenvolver incentivos de mercado inteligente, estabelecer contratos públicos circulares, novos modelos de financiamento, empreendedores circulares e startups, conhecimento e inovação, monitorar fluxos de materiais, através de cadeia de valor nacionais e internacionais, e cooperação internacional estratégica.

Mudar de economia linear para economia circular

Mudar de uma economia linear para uma economia circular requer mudanças fundamentais nos sistemas de produção e consumo atuais. Temos que mudar a forma como os materiais são usados, como nossos produtos são concebidos e precisamos de novos e melhores modelos de negócios.

Mas a economia circular também precisa de condições de capacitação. As condições de capacitação consistem do quadro politico apropriado que irá remover barreias existentes em operações circulares que permitem o aumento da circularidade material na economia.

Mas o que o Governo pode fazer para aumentar a economia circular? Quais as ferramentas e como utilizá-las?

De facto, existem uma vasta gama de instrumentos políticos que podem ser utilizados para atingir um determinado objetivo, e os mais utilizados distinguem-se por administrativos, económicos e informativos, e esta pode ser de natureza obrigatória ou voluntária.

Estes instrumentos administrativos ou regulamentares podem ser, por exemplo, proibições, normas, licenças e acordos voluntários entre o governo e as industrias.

Os instrumentos económicos podem ser tributos, subsídios e encargos, e instrumentos informativos pode ser, por exemplo, rotulagem, requisitos de relatórios, sistemas de certificação e campanhas de sensibilização.

Atributos da economia circular

A economia circular sendo um sistema económico onde produtos e materiais são mantidos em seu valor máximo e funcionalidade, o ponto de partida é tomar uma perspetiva de produto em vez de uma perspetiva de material, e o objetivo é configurar loops fechados em que a complexidade e funcionalidade de um produto é conservado pelo maior tempo possível, em vez de dividir um produto em materiais básicos para cada ciclo de utilização. Pois é na funcionalidade e complexidade dos produtos que reside a maior parte do seu valor.

A ação deste novo sistema requer uma mudança sistémica: uma rutura e hábitos existentes, uma mudança do comportamento dos produtores e consumidores. A imagem do que uma economia circular é, ou poderia ser, está se tornando mais clara à medida que a vida real emerge.

A economia circular pode ajudar-nos a fazer muito mais, como muito menos. Podem ajudar a reduzir os encargos causado pelo consumo de material e energia. Pode ajudar a proteger bens ecológicos, poluição e resíduos que geramos.

Também pode a ajudar a limitar a nossa procura geral por recursos per capita para que haja o suficiente para o bem-estar de todos. Pode ajudar a garantir recursos suficientes para que a nossa sociedade funcione e se desenvolva.

Pode ainda trazer benefícios como a redução da pressão sobre o ambiente, maior segurança no aprovisionamento de matérias-primas, procura da inovação, o estimulo ao crescimento económico-, aumento adicional do PIB, e consequente criação de emprego.

Também pode fornecer aos consumidores produtos mais duradouros e inovadores, assegurando melhor qualidade de vida, e permite poupar dinheiro a longo prazo.

Compromissos para se alcançar a economia circular

Para se alcançar uma economia circular, precisamos de compromissos da sociedade. Torna-se necessária muita invenção, criatividade e inovação. Também exigirá criação de novas formas de negócios, novas tecnologias e processos, e novas formas de governança.

Tais mudanças oferecem o potencial de gerar valor para a sociedade. Estimulação de emprego e do aumento da procura de colaboradores qualificados, por exemplo. Contudo, essa evolução também precisa de novas reflexões, dos nossos sistemas sociais, de novas formas de compromisso e novas instituições e empresas (learn oganization). E isso exige uma sociedade evoluída, obviamente.

A economia circular tem sido mote recorrente nas agendas internacionais, designadamente na UE. Trata-se  um conceito estratégico que assente nos princípios da redução, reutilização, recuperação e reciclagem materiais e assumindo-se como um elemento chave para promover o crescimento económico.

Esta mudança de paradigma de modelo de crescimento económico potencia a maximização do valor, procura do produto e serviço, e assume-se como um desafio para os diferentes setores de atividades da nossa economia.

Precisamos de diferentes produtos e serviços, de um novo quadro legislativo e de uma interação mais forte entre as pessoas.

E as novas tecnologias nos permite fazer isso, nos permite fazer coisas que não poderíamos fazer antes-, conceber e produzir coisas de maneira diferentes, gerir de forma mais sustentável, reutilizar, reparar e compartilhar (um carro Europeu medio é usado por apenas 29 minutos por dia, no Reino Unido e nos EUA os itens que as pessoas usam menos de uma vez por mês ascendem a 80% de todos os itens, e 30% das roupas compradas pelas famílias Britânicas nunca são usadas, 99% do conteúdo do material em mercadorias torna-se lixo no prazo de 6 meses).

Economia circular precisa de novos modelos de negócios

Uma economia circular precisa de produtos duradouros que possam ser reparados, reutilizados, remanufaturados (pode prolongar a vida útil de um produto, mas há riscos associados) e reciclados, e usam menos materiais.

O design do produto é fundamental para habilitar a circularidade, por exemplo, design para reparo e para reciclagem são estratégias que integram princípios de economia circular.

O objetivo é maximizar a funcionalidade dos materiais e, sempre que possível, mudar para outros materiais menos escassos com menos impacto ambiental.

Alguns produtos até podem ser completamente desmaterializados e vendidos como serviços, por exemplo, streaming de musica, telefones celulares.

A economia circular precisa de novos modelos de negócios para traduzir estratégias circulares em vantagens competitivas atuais, resiliências das empresas e novos modelos de receitas. Os modelos de negócios atuais se concentram nas vendas de produtos e/ou prestação de serviços, o que é desafiador integrar mais uso e reutilização na abordagem ao mercado.

O contexto politico também precisa ser adaptado para apoiar a economia circular. As políticas atuais estão enviesadas na gestão de resíduos, mas em economia circular a própria noção de resíduos é gradualmente eliminado uma vez que os produtos são desenhados e concebidos para evitar resíduos, e estes são transformados em novos recursos. As políticas de resíduos e as políticas de produtos tornam-se vinculadas entre si, as novas políticas resultantes precisam facilitar os fluxos circulares de materiais e apoiar a criação de empresas circulares.

A transição para uma economia circular exigirá mudança na forma como vivemos-, novos padrões de interação entre pessoas, e mudará a maneira como nós possuímos e consumimos produtos. É necessário tomar medidas a todos os níveis da sociedade, leia-se indústria, cidadãos, decisores políticos e investigadores.

Simplificando, a sociedade precisa de economia circular para garantir que os nossos recursos estejam disponíveis. Ademais, a poluição e danos à natureza devem ser consagrados como crimes no novo Código e Processo Penal!

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 771, de xx de Junho de 2022

PUB

PUB

PUB

To Top