PUB

Economia

Situação financeira da empresa que detém complexo “Djeu” agrava-se : Macau Legend Development, de David Chow, à beira da falência

A empresa fundada por David Chow, que detém o investimento do complexo “Djeu”, na cidade da Praia, está à beira do colapso financeiro. Não consegue pagar dois empréstimos aos bancos Luso e CMB Wing Lung, o que poderá ditar, a qualquer momento, a sua falência. Mais difícil se torna cada vez mais a concretização do complexo da Gamboa.

2 023 está a ser um ano difícil para a Macau Legend Development Ltd., empresa fundada pelo macaense David Chow, com negócios em Cabo Verde, nomeadamente, o mega empreendimento turístico no ilhéu de Santa Maria, na Praia, mais conhecido por complexo “Djeu”. De sócio maioritário, Chow tornou-se minoritário, mas, mesmo assim, continua a ver o seu nome associado àquela firma, com interesses em casinos e outros negócios em Macau e Hong Kong.

Incumprimento

Conforme avança o jornal “Hoje Macau”, desta quarta-feira, 14, a Macau Legend Development Ltd. falhou o pagamento de dois empréstimos aos bancos Luso e CMB Wing Lung. A 30 de Junho, o grupo tinha empréstimos de 2.373 milhões de dólares e precisa de pagar 237 milhões nos próximos 12 meses. Isto, apesar do grupo apenas ter disponíveis 66 milhões de dólares de Hong Kong.

“Ao dia 30 de Junho de 2022, o grupo quebrou algumas cláusulas de um certo contrato de empréstimo, e ao dia da aprovação do relatório e contas encontrava-se a tentar negociar uma reestruturação com o banco credor”, avança a mesma fonte, que cita a auditoria revelada num relatório sobre os resultados dos primeiros seis meses deste ano.

“O não cumprimento do contrato constitui uma situação de incumprimento, e os bancos podem exercer os seus direitos e notificar o grupo para que devolva imediatamente todos os empréstimos bancários, incluindo o pagamento de juros”, realça o “Macau Hoje”.

O facto é que, no primeiro semestre deste ano, com juros em empréstimos bancários e outros custos de financiamento a Macau Legend despendeu 49,1 milhões de dólares de Hong Kong, um aumento de 19,5 milhões, em comparação com o ano passado, quando tinha pago 29,5 milhões. Mas, no que toca a perdas, entre Janeiro e Junho, estas rondavam os 485,5 milhões de dólares de Hong Kong. Estes números, segundo a mesma fonte, “são uma melhoria face ao período homólogo, quando as perdas tinham sido de 688,6 milhões de dólares de Hong Kong”.

Mas, provavelmente, insuficiente para salvar a Legend da falência.

Medidas de mitigação

Para tentar contornar a situação, quando a própria empresa admite existirem “dúvidas” sobre a continuidade das operações, além de recorrer a reestruturações dos empréstimos com os bancos, o mesmo periódico revela que a Macau Legend está a recorrer a financiamento através da injecção de capital, na forma de empréstimos, pelos principais accionistas.

Só este ano, os accionistas já foram responsáveis por injecções de capital no valor de 200 milhões de dólares. A empresa tem ainda planos para vender títulos de dívidas que tem em sua posse para poder encaixar, também, 200 milhões de dólares.

Apesar das medidas em curso, a mesma fonte revela ainda que, para que a empresa se mantenha viva, “é necessário que os bancos aceitem negociar as dívidas, continuem a disponibilizar os créditos actuais, e que aqueles face aos quais existem situações de incumprimento se mostrem disponíveis para reestruturar as dívidas vencidas”.

Auditoria já tinha alertado

De notar que a 18 de Julho passado, uma notícia publicada no “iGT”, um site de economia e finanças, dava conta que das preocupações da auditoria independente da “Ernst & Young” sobre o futuro da Macau Legend Development Ltd.

Preocupações estas que contradiziam, conforme a mesma fonte, o conselho de administração da empresa, que disse, na altura, que não existiam “grandes riscos que ponham em causa o futuro do negócio”.

O relatório da Ernst & Young mostrava, contudo, uma outra realidade, ao listar o tamanho das actuais obrigações de dívida que a empresa enfrenta.

“Essas condições, juntamente com outros assuntos descritos na nota 2.1 das demonstrações financeiras consolidadas, indicam a existência de incertezas materiais que podem colocar em dúvida significativa a capacidade do Grupo de continuar em continuidade”, esclareceram os auditores.

Na altura pontuaram que a continuidade da empresa dependeria da “concordância dos credores em alterar os termos do empréstimo ou, de outra forma, concordar com uma extensão da atual renúncia às cláusulas do empréstimo”.

Djeu de Santa Maria

Seis anos depois… pouco ou nada foi feito

O projecto do complexo “Djeu”, na cidade da Praia, que contempla casino, marina, escritórios, entre outras valências, foi anunciado em 2001. Curiosamente, no mesmo dia da tomada de posse do primeiro Governo de José Maria Neves.

Contudo, a primeira pedra só viria a ser colocada 15 anos mais tarde, em Fevereiro de 2016. Na altura, o próprio David Chow tinha dito que em três anos (2019) “os cabo- -verdianos” haveriam de ver “os resultados” do seu empreendimento, o que não se efectivou.

Inicialmente o investimento era de 250 milhões de euros, mas, depois de mudanças e adendas ao projecto, o investimento passou para 90 milhões de euros, numa primeira fase, entre algumas “idas e vindas” de Chow à capital cabo-verdiana, sempre, com novas exigências e pedidos para levar avante o empreendimento. Um dos seus pedidos era ter uma certa quantidade de cadernetas de passaporte, para serem geridas por ele, o que não foi aceite pelas autoridades cabo- -verdianas.

Como anteriormente referido, em várias edições do A NAÇÃO, as obras do “Djeu” pouco, ou nada, têm avançado, levantando questionamentos se o empreendimento algum dia será realidade. Neste momento, a parte visível de construção física do projecto concluída continua a ser um conjunto de escritórios (torre) e a ponte que liga a Gamboa ao Djeu.

O certo é que depois de estar envolvido no escândalo da detenção de Levo Chan, co- -presidente da empresa, por suspeita de integrar um grupo criminoso que fazia operações ilegais de jogo, e branqueamento de capitais, em Macau, agora, mais uma vez, a Macau Legend Development Ltd. vê-se confrontada com problemas de liquidez para cumprir empréstimos bancários.

Licença de 25 anos de exploração de jogo

De notar que David Chow recebeu, inclusive, uma licença de 25 anos para exploração do jogo, 15 dos quais em regime de exclusividade em Santiago. A estas junta-se uma licença especial para explorar, também em exclusividade, o mercado do jogo “online” em Cabo Verde e o mercado de apostas desportivas, por um período de 10 anos. Por isto, os macaenses pagaram cerca de 1,2 milhões de euros.

Paralelamente aos negócios que tem em curso no arquipélago, Chow tentou ainda abrir um banco em Cabo Verde, formalizando o pedido às autoridades nacionais em 2018. Porém, dois anos depois, o mesmo foi chumbado pelo Banco de Cabo Verde.

Na altura, uma fonte do BCV revelou ao A NAÇÃO que o pedido do Legend Globe Investment, presidida por David Chow, para a abertura do Banco Sul Atlântico (assim se chamava) não estava de acordo com a legislação em vigor no país, ou seja, não estava “instruído com todas as informações e documentos necessários”. Um dos argumentos do BCV é que o empresário chinês de Macau não possuía “idoneidade bancária”.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 785, de 15 de Setembro de 2022

PUB

PUB

PUB

To Top