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Diáspora

Brasil: Padre cabo-verdiano afastado das funções religiosas por celebrar cerimónia com casais gays

@Foto Orlando Júnior/Prefeitura de Franco da Rocha

O padre cabo-verdiano Ivanildo de Assis Mendes Tavares foi afastado das funções religiosas da comunidade de São José Operário da Vila Prudente, na Zona Leste de São Paulo, Brasil, por realizar uma cerimónia com casais gays. Defensor e integrante de movimentos negros da Zona Leste, Ivanildo, que desde 2012 está radicado no Brasil, conquistou o apoio de fiéis, que, por meio de um abaixo-assinado, pedem que a decisão seja revogada. A imprensa brasileira avança que o mesmo já terá viajado para Cabo Verde. 

Defensor e integrante de movimentos negros da Zona Leste, o religioso foi afastado pelo Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, por ter participado de um casamento religioso comunitário, com casais gays, em Outubro passado, na cidade de Franco da Rocha, em São Paulo, conforme explica a Globo. 

Segundo a mesma fonte, o afastamento do padre Assis Tavares (como é conhecido) das funções religiosas da comunidade São José Operário da Vila Prudente, na Zona Leste de São Paulo, tem gerado comoção entre os moradores católicos de várias comunidades carentes da região.

Desde 2013 que este padre cabo-verdiano tem feito um trabalho pastoral de ajuda aos pobres da região.

Na cerimónia, pelo menos três casais que foram abençoados pelos vários religiosos presentes, de diferentes crenças religiosas, eram gays.

Na carta de afastamento, citada pela Globo, o Arcebispo alega que o padre participou de uma “simulação de sacramento”, conduta que é proibida pelo código canônico, uma espécie de ordenamento jurídico que rege a Igreja Católica.

Nesse sentido, o padre cabo-verdiano foi afastado e está proibido de celebrar sacramentos e de exercer suas funções sacerdotais.

Abaixo assinado em prol do padre 

O afastamento de Assis Tavares gerou um abaixo-assinado publicado pela Comunidade São José Operário nas redes sociais.

Mais de 2.500 pessoas assinaram o documento pedindo que Dom Odilo reconsidere e traga o padre de volta.

“Desde sua chegada a Área Pastoral São José Operário, nas favelas da Vila Prudente, caminhando no meio do povo, entre os becos e vielas sua opção é bem clara, e para nós, é um irmão que desde jovem saiu das Ilhas de Cabo Verde e assumiu sua missão de ser presença no meio do povo oprimido, mas isso tem um custo. Somos testemunhas do quanto Padre Assis é fiel ao evangelho, essa fidelidade que tem como prêmio a Cruz”, diz a carta, citada pela Globo.

“O povo da Área Pastoral São José Operário, das Favelas, vem por meio desta carta externar nosso pedido de que seja ‘revista a decisão’ que penaliza não só o Padre Assis, mas todo o povo que caminha junto com ele entre os becos e vielas buscando testemunhar que a perspectiva do Reino de Deus é espaço de Misericórdia e não de castigo e que abençoar pessoas é sinal do amor de Deus”, lê-se ainda no mesmo documento.

O abaixo-assinado foi escrito por lideranças de cinco comunidades carentes da região Episcopal Belém, onde Assis Tavares actua: a Favela de Vila Prudente, a Favela Jacaraípe, Favela Ilha das Cobras, Favela Haiti e Favela da Sabesp, todas na Zona Leste.

Arquidiocese de São Paulo diz que medida é “cautelar”

Por sua vez, em nota, a Arquidiocese de São Paulo, citada também pela Globo, confirmou o afastamento de Assis Tavares e disse não se tratar de uma punição, “mas, sim, uma medida cautelar”.

Medida essa, como explicam, prevista nas normas da Igreja, “quando há uma irregularidade grave, do ponto de vista religioso, que precisa ser melhor esclarecida”.

A “retirada do uso de Ordem”, esclarecem é assim “cautelar”, podendo, contudo, “ser mudada, após serem esclarecidos os factos e as suas consequências e a depender da aceitação do sacerdote de observar as normas da Igreja”.

“O que causou a medida foi o possível delito canônico de ‘simulação de sacramento’ do Matrimônio, pois não houve o devido encaminhamento da celebração das mencionadas uniões, nem foi feito antes, como prescrevem as normas eclesiásticas, o regular ‘processo matrimonial’ para a verificação das condições para a realização válida e lícita dos casamentos, do ponto de vista religioso!”, prosseguem.

Ainda, esclarecem que o “sacerdote não podia celebrar casamentos, ainda que fossem ‘regulares’, sem a devida autorização do bispo ou do pároco local. Nem poderia celebrar validamente em conjunto com ministros de outras religiões, sem a devida ‘dispensa’ para tanto. Tratou-se, portanto, da participação inteiramente irregular, do ponto de vista das normas da Igreja Católica, para uma celebração de casamentos”.

A Igreja Católica paulista não menciona a questão dos casais gays no casamento e afirma apenas que “o facto ocorrido não consistiu apenas em uma benção dada às pessoas individualmente, que, certamente, não pode ser negada a ninguém que a pede” mas que o que houve, “na verdade”, foi uma “bênção às uniões civis ali realizadas”.

“As pessoas presentes desejavam se casar e não apenas receber uma bênção”, elucidam.

“A Igreja tem o Matrimónio como um dos seus sacramentos e não permite que sejam dadas “simples bênçãos” que possam levar os casais a crerem ter contraído Matrimónio católico”, afirma o documento.

A Globo avaça ainda que procurou o padre Assis para obter uma reacção mas que foi informada na comunidade que ele viajou para Cabo Verde de férias e que deve permanecer por lá até Março.

C/Globo

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