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Cultura

KJF 2023: Grande no som e composição, Tcheka reinventa-se sem perder autenticidade

Foi ao som de Antuneku que Tcheka abriu o palco da 12ª Edição do Kriol Jazz Festival, precisamente às 20h30, naquela que foi a primeira noite de festival pago. Acompanhado por três músicos, igualmente geniais, no contrabaixo, piano e bateria, Tcheka levou o público numa viagem inebriante, ao longo de pouco mais de uma hora de espectáculo. Estava aberto o caminho para uma noite quente, num caldeirão de diversidade sonora e ritmos de várias paragens, com o público a corresponder energicamente. Roosevelt Collier, Luidji Luna e Bamba Wassoulou Groove,do Mali, que levou o público ao êxtase. 

“Estou muito feliz”, disse o instrumentista e compositor da Ribeira da Barca, nas suas primeiras impressões aos jornalistas, após um concerto sublime de pouco mais de uma hora.

Apresentando um projecto novo, acompanhado de um quarteto, Tcheka, que tinha pisado o palco do KJF na primeira edição em 2009, volta agora num conceito, como disse “fora do formato” habitual, tendo arrebatado a plateia numa viajam entre o jazz francês e cubano, numa simbiose perfeitas entre a improvisação e adaptação. Piano, contrabaixo, bateria e o seu violão, numa “sonorização mais aberta e mais ampla”, mas sem perder a sua autenticidade.

Neste regresso, de alma aberta para os fãs, que o aguardavam “há muitos anos”, Tcheka trouxe temas do seu novo álbum Spera Mundo, que deverá ser lançado em 2023, mas também alguns sucessos que foram acompanhados em coro pelo público, como Strada Pico. 

Passados alguns anos sem lançar discos novos e apesar de ter uma agenda bem repleta de concertos na europa, onde reside actualmente, Tcheka confessou ter vontade de “mostrar” este novo formato e o caminho que percorreu “a compor, a gravar, a refazer…”, para aqui chegar. “Estou muito feliz por conseguir fazer uma coisa nova”. 

Esta viagem pelo jazz e blues com fusões criolas começou ao som de Antuneku, para seguir Spera Mundo, Tchoro na Morte, Malkriadu, Strada Pico, Toran, Setam, Santa, Angra Mar Verde, Nu Monda, fechando ao som de Mar di Fogo.

Roosevelt rendido a Cabo Verde

Depois de Tcheka, a energia da noite na Pracinha da Escola Grande continuou sempre a subir. Roosevelt Collier, o senhor que se seguiu presenteou o público com um espectáculo vibrante, num concerto “na terra mãe”, África.

“Não há palavras para que consigam descrever o que sinto. Eu estava à espera de vir cá nos últimos anos e depois teve a covid, mas finalmente estamos cá”, disse em entrevista ao A NAÇÃO online.

A reacção do público, garantiu, “foi muito além” das suas expectativas. Por isso, ficou “muito feliz”.

Vir a Cabo Verde e sentir o país in loco é uma experiência que não vai esquecer. “Uma coisa é o que as pessoas dizem ou as fotos que te mostram. Mas, assim que sais do avião, pões os pés no chão e estás em África em Cabo Verde , é um sensação completamente diferente, porque realmente vivências com os teus próprios olhos. Sentir as pessoas, o amor, a água do mar, a cultura…é fantástico”, disse.

Apesar de não ter referências de músicos cabo-verdianos em específico, Roosevelt confessou ser fã da música africana, que o inspira, e ficou surpreendido quando ficou a saber pelo A NAÇÃO online que Horace Silver é filho de um cabo-verdiano da ilha do Maio. “Really?(Verdade?)”. 

Luedji Luna realiza sonho de actuar em Cabo Verde

Depois de dois artistas que fizeram render e dançar o público, foi a vez da única actuação feminina da noite. Do Brasil para Cabo Verde Luedji Luna veio apresentar o seu novo disco “Deluxe”, um disco que “tem trazido várias alegrias” e que é dado a conhecer, pela primeira vez, fora do seu país. 

“É um sonho estar nesta terra” disse Luedji Luna aos jornalistas, no fim do espectáculo, contando que sempre teve vontade de conhecer Cabo Verde. 

Numa ponte entre culturas que têm muitas afinidades e partilham uma história comum do colonialismo e mestiçagem de povos, mostrou-se muito feliz por ter sentido também um pouco do seu Brasil em Cabo Verde. 

“Já entrei em vários táxis e estava a tocar música brasileira, também, e isso mostra que as pessoas escutam música brasileira cá”. 

Tida como uma referência da música popular brasileira contemporânea, destacou-se pela interpretação e beleza nas composições, garantindo ter ficado feliz com a receptividade do público “quente” que a acompanhou ao longo do espectáculo. 

“Desde que pisei em Cabo Verde, revi-me nestas pessoas bonitas”. Palavras que partilhou com o público. De Cabo Verde diz ter grandes amizades e referências.

“Sinto que o canto preto brasileiro tem uma saudade, uma melancolia…então a Cesária évora é a minha primeira referência. Depois acompanhava Mayra Andrade desde o primeiro disco, depois o mundo deu mil voltas e acabei por a conhecer pessoalmente…”.

Luedji Luna e Dino de Santiago juntos em featuring

Aos jornalistas confidenciou ter conhecido recentemente Dino d´Santiago em Londres e Portugal, tendo gravado um featuring. “Fizemos uma música juntos”.

Depois do espectáculo, que teve nota muito positiva do público, Luedji Luna diz que agora só quer se “divertir” ao conhecer melhor Cabo Verde. “Quero ir ao Tarrafal, comer Cachupa…”.

“Febre Bambara” contagia público

Já depois das 2 horas da madrugada, a noite fecha ao som da Bamba Wassoulou Groove, fundada pelo percussionista Bamba Dembélé, antigo membro da famosa Super Djata Band do Mali, dos anos 80. 

A febre “Bambara” invadiu literalmente a Pracinha da Escola Grande, com o público a vibrar , do princípio ao fim, com um espectáculo frenético, onde era obrigatório dançar.

Apesar de em termos de público o recinto estar modesto comparativamente a edições anteriores, em termos de ritmos e energia, o bom feeling do KJF voltou a fazer-se sentir na capital.

Dee Dee aguardada hoje com expectativa

Este sábado, 15, na última noite do festival, cabe à estrela Dee Bridgewater abrir o segundo dia de festival pago às 20h30, para depois a cabo-verdiana Lucibela levar o público nacional e estrangeiros numa viagem pelos ritmos tradicionais de Cabo Verde.

À Lucibela seguir-se-á ASA, artista francesa de ascendência nigeriana, cujo nome significa falcão em ioruba. O seu trabalho inspira-se na vanguarda do R&B da Nigéria, viajando também pelo afrobeat, pop e soul, numa mescla de fusões que lhe dão um groove muito positivo e dançante.

Seguem-se, depois, os espanhóis Doctor Prats, directamente da Catalunha para Cabo Verde.

Além dos dois dias de festival pago, esta quinta-feira,13, o público pode assistir aos espectáculos gratuitos que marcam o encerramento do Atlatic Music Expo (AME) e o início do KJF, com Pamela Badjogo (Gabão/França) e Orquestra Baobabá (Senegal). 

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