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Cultura

Morreu Djunga de Biluca

Foi marinheiro, electricista, empresário, agente artístico, compositor, activista clandestino pela independência de Cabo Verde. Marcou como ninguém a comunidade cabo-verdiana, nos Países Baixos – a Holanda, como então se dizia. A vida venturosa de João Silva, ou Djunga de Biluca, como era conhecido, chegou ao fim, esta segunda-feira, aos 94 anos, em Roterdão.

Aqui viveu a maior parte da sua vida, tendo sido, igualmente, logo após a independência, cônsul-geral de Cabo Verde no Benelux – Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Uma espécie de “reconhecimento” do papel por ele desenvolvido, como activista cultural e político, militante do então Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Filho de pais humildes, era natural de São Vicente, mais concretamente do bairro Ribeira Bote. Jovem fez-se ao mar, até aportar, um dia, em Roterdão, num navio panamenho.

Mas muito cedo, Djunga – o primeiro cabo-verdiano a estabelecer-se permanentemente em Roterdão – tornou-se numa espécie de ‘broker’, ou ‘aquele que resolve’, para os milhares de cabo-verdianos que desembarcavam neste país, em busca de trabalho. Ajudava a organizar eventos comunitários e a encontrar trabalho nas fábricas, especialmente para os músicos, como foi o caso dos elementos do Voz de Cabo Verde.

Amigo de Abílio Duarte e militante do PAIGC, Djunga de Biluca revelou que fora o próprio Amílcar Cabral a pedir-lhe para que desenvolvesse a componente musical, como arma também de resistência ao então regime colonial português, na Guiné e em Cabo Verde.

O seu nome ficará para sempre ligado à história da música cabo-verdiana na diáspora, com destaque para a criação da editora ‘Morabeza Records’, em 1965. Aqui seriam feitas as primeiras gravações de grupos e artistas das ilhas, e não só. O impacto foi enorme, com o registo de várias dezenas de LP, singles e EP, muitos deles verdadeiramente históricos.

Essa foi, diz a história, a primeira grande internacionalização da música cabo-verdiana. Rara era a casa de cabo-verdianos, no mundo, que não tivesse discos da Morabeza Records, o que ajudou a transformar Bana, Luís Morais, Djosinha, entre outros, em autênticos astros, orgulhos dos seus conterrâneos.

A morte de Djunga de Biluca deixa um legado incontornável pela revolução que causou na música de Cabo Verde. E é igualmente um marco na história da emigração para a Europa, sobretudo nos seus primórdios, a partir do início anos sessenta do século XX.

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