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Saúde

Dengue: Entrada de Cabo Verde na lista dos países livres do paludismo em risco

Cabo Verde está sob alerta de um surto de dengue após dois casos de doença confirmados na cidade da Praia. Até ontem, eram 40 casos suspeitos, espalhados por Praia, São Domingos, Santa Cruz, Ribeira Grande de Santiago e São Filipe, ilha do Fogo. As autoridades garantem que todas as estruturas sanitárias do país estão preparadas para lidar com a situação que, de alguma forma, põe em risco a entrada de Cabo Verde para a lista de países livres do paludismo.

Os serviços de saúde estão sob alerta de surto de dengue, depois da confirmação, no passado dia 8 deste mês, de dois casos de doença na cidade da Praia. Um dos casos provém de São Domingos, interior da ilha de Santiago.

Conforme avançou o Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP), o diagnóstico foi confirmado pelo Instituto Pasteur do Senegal. 

“As duas pessoas com confirmação positivo para dengue não possuem nenhum histórico de ter estado em países com este tipo de patologia, mas sabemos que Cabo Verde recebe várias pessoas, particularmente da nossa região africana, assim como Brasil, pelo que temos de reforçar a alerta para este tipo de epidemia”, disse a presidente do INSP, Maria da Luz Mendonça, alertando que “estes casos estão relacionados precisamente com o saneamento do meio em que vivemos”.

Entretanto, dias após o primeiro alerta na cidade da Praia, surgem agora suspeitas de novos casos na cidade de São Filipe, ilha do Fogo, sendo nove nas últimas 24 horas, até o dia de ontem, data do fecho desta edição. A confirmar-se, e coincidência ou não, São Filipe e Praia foram os dois centros urbanos mais fustigados pela doença transmitida através de mosquitos “aedes egypti”, entre Janeiro e Junho de 2010, quando o país registou 305 casos de dengue.

Fora isso, notícias mais recentes, atestam que que já são 40 casos suspeitos. Vinte (incluindo dois internados) em São Filipe, 15 na cidade da Praia, um em São Domingos, um em Santa Cruz e um em Ribeira Grande de Santiago.

Numa entrevista à RCV, na tarde de ontem, a delegada de Saúde da Praia, Ulardina Furtado avançou que as duas pessoas infectadas já estão curadas, estando agora os responsáveis pelo sector da saúde no país, a aguardar resultados de exames laboratoriais do Instituto Pasteur do Senegal para confirmação ou não dos casos suspeitos. 

A ministra da Saúde, por seu turno, já tinha avançado na imprensa que o seu ministério, desde a primeira hora que recebeu a notificação de casos suspeitos, pôs em prática o plano de emergência. 

“Temos no país, tudo aquilo que é necessário, nomeadamente, testes rápidos, PCR. No entanto, manda a prudência, a regra de investigação da saúde pública que quando assim é, melhor confirmar numa outra instituição de referência, neste caso, o Instituto Pasteur do Senegal”, explicou Filomena Gonçalves.

A governante assegura, igualmente, que a nível nacional, todas as estruturas sanitárias estão preparadas para dar resposta ao novo surto da dengue. “É devido a essa forte monitorização que foram detectados os casos suspeitos na ilha do Fogo”, assegura, apelando a todos os cabo-verdianos a abraçarem os desafios, instruções e apelos das autoridades sanitárias para que o país possa vencer “mais este desafio”.

Cuidados redobrados e manter meio ambiente saudável

O alerta do Ministério da Saúde sucede a sensibilização também por parte do INSP que apela à população a ter cuidados redobrados para manter o meio ambiente mais saudável.

Tendo em conta os casos já confirmados na capital do país, a Delegacia de Saúde da Praia já está no terreno a investigar para poder entender a trajetória destes casos de dengue e reforçar a procura dos focos para a sua eliminação. 

Também no Fogo, a delegacia local encontra-se também no terreno a combater os focos de mosquitos, sobretudo nas comunidades de Santa Filomena, Congresso, Cobon, todas de São Filipe, cidade com mais número de casos suspeitos. 

O apelo das autoridades nacionais é para que os responsáveis locais e toda a população tenha mais cuidado com o lixo e com a água estagnada, factores essenciais para a reprodução de mosquitos vectores para a dengue.

Identificar os sintomas e não tomar ibuprofeno

Além dos cuidados básicos, segundo a presidente do INSP, é essencial o uso de repelentes para evitar a picada do mosquito e ter-se cuidado com os sintomas da doença que se manifesta através de febre, dores musculares, dor ao movimentar os olhos, mal-estar geral e dor de cabeça. “Caso as pessoas tenham esses sintomas”, avisa, “devem procurar o sector da saúde e não se automedicar, principalmente, a não tomarem ibuprofeno”.

Último surto há cerca de seis anos

 O último surto de dengue no país aconteceu em 2016, quando mais de 30 casos foram diagnosticados com a doença. Antes, em 2009, houve um outro surto, com registos que apontaram para 21.383 casos suspeitos, com evolução de 174 para febre hemorrágica e seis óbitos. De Janeiro a Junho de 2010, o país registou 305 casos de dengue, sendo os concelhos da Praia e São Filipe os que com mais casos afectados. 

Sobre a doença em si, em Cabo Verde existem duas espécies de mosquitos transmissores, designadamente o anopheles gambiae – vector do paludismo –, e o aedes aegypti – vector da dengue, febre-amarela, chikungunya. De referir também que vários casos costumam ser importados, nomeadamente, do continente africano e do Brasil, por via de circulação de pessoas.

Ministra da Saúde, Filomena Gonçalves

“A certificação de Cabo Verde como país livre de paludismo seria um marco histórico”

O surgimento deste surto de dengue atrapalha, e de que maneira, os esforços que Cabo Verde tem feito para a sua certificação como o país livre de paludismo. Mas também uma mais-valia na atracção de turistas nos mercados internacionais.  

Em Junho, conclui-se a segunda missão de apoio na preparação em que para apresentar um balanço das acções, realizou-se um debriefing entre Filomena Gonçalves e a equipa da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Gonçalves expressou, na altura, a sua satisfação com os resultados alcançados, congratulando os profissionais de saúde e todos os envolvidos nesse processo, destacando o “trabalho árduo” realizado desde o depósito da candidatura em Dezembro de 2021, lembrando o desafio enfrentado durante a epidemia de paludismo, em 2017. 

“A certificação de Cabo Verde como país livre de paludismo seria um marco histórico, pois seríamos o primeiro país africano a alcançar essa conquista em 50 anos”, afirmou na ocasião, sublinhando a importância de manter o trabalho contínuo e a vigilância para evitar a reintrodução da doença no país.

Na altura, o representante da OMS, Pedro Alonso, considerou que Cabo Verde estava no “caminho certo” para obter a certificação como país livre de paludismo. 

Com o surgimento deste novo surto de dengue neste Novembro de 2023, obviamente, que o país corre agora o risco de ver barrada a porta de entrada na lista dos países livres do paludismo.

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