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Economia

Agências de viagens e turismo somam prejuízos por causa da Bestfly

Marvela Rodrigues

As agências de viagens e turismo estão agastadas e aflitas com a situação dos voos interilhas e somam prejuízos devido à falta de voos, atrasos e cancelamentos sucessivos. Com o Natal e o fim-de-ano à porta, a situação tende a agravar-se, a não ser que se confirme a chegada de uma nova aeronave de bandeira angolana nos próximos dias.

As queixas das agências de viagens e turismo contra a Bestfly, devido à incapacidade de resposta dessa companhia nos voos interilhas, têm-se vindo a acumular junto da Associação das Agências de Viagens e Turismo de Cabo Verde (AAVT).

A indisponibilidade de voos não vem de agora, mas tem vindo a piorar.

“Desde o início foi assim. Tinham-nos dito que iam abrir (voos), que iam melhorar o sistema. Melhoraram em 2022, portanto, tinham mais voos no sistema, mas, depois, fecharam outra vez. Este ano foi pior”, lamenta, Marvela Rodrigues, vice-presidente da AAVT, esclarecendo que a situação começou “a piorar” desde finais de 2022.

“Actualmente, o sistema está aberto até Março. Quer dizer que os pedidos que temos a partir de Abril, não podemos vender. Portanto, uma agência, não funciona assim. Nós tínhamos programas com os operadores turísticos que, hoje em dia, já não se fazem, porque não temos garantia de nada, então não podemos fazer”, esclarece.

Sem previsibilidade

As incertezas que dominam as operações da Bestfly não permitem, assim, que as agências trabalhem de acordo com os procedimentos dos operadores turísticos que são normais em qualquer destino turístico que se preze. 

“Um operador lá fora pede um serviço aqui, que engloba duas ou três ilhas e nós não podemos planear porque não temos garantias de nada”, argumenta a nossa fonte.

Como exemplo, Marvela Rodrigues conta que recebeu um pedido para o Sal, e teve de enviar apenas uma “estimativa ao cliente”, porque não há voos. Isso na prática significa que o cliente “não pode comprar”.

“Só vai ter uma ideia do que é o preço, os voos que existem, mas não pode comprar, porque o sistema está fechado”, exemplifica.

Deixar de vender inter-ilhas

A situação, garante Marvela Rodrigues, tem vindo a piorar e causa constrangimentos ao desenvolvimento das ilhas.

“Piorar no sentido de que as agências de viagens não estão a vender, porque não tem lugares, porque os voos ainda não estão abertos, estamos aqui a funcionar, tipo a ‘relantim’, de forma incerta, porque não podemos fazer muita coisa”, denuncia.

No seu caso concreto, enquanto proprietária da Praiatur, Marvela Rodrigues teve de deixar de vender interilhas, pelas dificuldades e riscos que isso acarreta. Assim como ela, outros operadores estão na mesma situação.

“Eu, por exemplo, sou do tipo que até já desisti de vender interilhas, não insisto muito, faço outras coisas, porque o inter ilhas é só problema”, afirma, desgostosa com a situação.

Sem respostas do Governo, nem da Bestfly

As reclamações contra a Bestfly acumulam-se por parte dos associados. 

“Todos os associados se queixam. É queixar e queixar, mas não há continuidade, porque não há ninguém para resolver a situação. Nós já estivemos no ministério, já levamos este problema ao Ministro da tutela (Carlos Santos) e pedimos (associação) um encontro com o responsável da Bestfly, que nunca foi aceite. Portanto, é ir vendendo aquilo que é possível…”, lamenta Marvela Rodrigues.

Os associados, garante, estão a acumular prejuízos, quando, “antigamente” a situação era diferente.

“Vendia-se muito mais, podia-se fazer programas, tinha-se sempre a possibilidade, hoje não há lugar, mas amanhã há lugar. Depois passamos para `não há lugar, não há lugar´ e, agora não se vende, não se vende mesmo! Porque não há negócio, não há lugares”, remata.

Saudades da Binter e TACV

A situação é tão má que deixa saudades dos operadores anteriores, bem como de cidadãos, mesmo com os problemas que também eram conhecidos. “Quando era a Binter e a TACV nos voos interilhas, nunca estivemos tão bem como nessa altura”, defende Marvela Rodrigues.

Sabe o A NAÇÃO que, por exemplo, há agências que, além de não terem voos para vender, há duas semanas que vêm vivendo uma situação “catastrófica”, porque, todos os dias têm de gerir alterações e cancelamentos.

“Clientes na agência aos berros porque perderem consultas, marcações de entrevistas para vistos e começam a aparecer os primeiros operadores internacionais a ponderar cancelar os programas de circuitos porque estão literalmente a chover reclamações de turistas que tiveram as férias arruinadas”, queixa-se uma agência de viagens.

Mais aparelhos

Questionada sobre que soluções a associação espera da Bestfly, Marvela Rodrigues aponta, desde logo, mais aviões e uma maior previsibilidade.

“Em primeiro lugar mais aparelhos e melhorar o sistema para ter voos durante todo o ano, assim as agências podem fazer programação, uma vez que, para o turismo, é impossível fazer voos sem programação. Os operadores lá fora, às vezes, organizam as viagens com um ano de antecedência”, elucida.

Demandas de Natal e fim-de-ano sem resposta

Inclusive, espera-se que chegue mais um ou mais aparelhos em Dezembro para dar alguma resposta à demanda de Natal e fim-de-ano, que já se faz sentir.

“Tenho grupos que querem vir para fazer o final do ano no Fogo. Mas não estamos a vender. Até já dei a sugestão para irem de barco, porque com os voos a gente não pode vender, nem na ida nem no regresso, não podemos garantir nada”, lamenta.

Além do Fogo, há procura de “muitos” lugares para as festas em São Vicente, mas não há lugares. “Eles chegam nos “low cost”, no Sal, e querem fazer as outras ilhas, mas não podem, por falta de voos domésticos”.

Além das festas da quadra natalícia, já há, igualmente, procura pelas Festas de Nhu São Filipe 2024. “Já há muita procura e já fizemos uma lista, e há outras agências com o mesmo problema, fizeram uma lista à espera que que abra o voo no sistema…”, avança. 

Necessidade de mais voos para as Festas de Nhu São Filipe 2024

A vice-presidente da AAVT espera que, inclusive, em Abril de 2024, abram mais voos para as agências para a ilha do Fogo do que nos outros anos.

“Não sei se é mesmo do sistema, ou se eles fazem isso, digamos propositadamente, para poderem vender, e as agências (nacionais) vão apanhando outros lugares por aí. Quando abrem o sistema fica com poucos voos. E há muita procura do mercado dos Estados Unidos”, atesta.

Cansada dos prejuízos e da situação “catastrófica” dos voos interilhas, a AAVT espera que quem de direito tome medidas porque estão “de mãos atadas à espera de solução”

Solução essa que passaria, também,  pela entrada de outra operadora no mercado interilhas.

“Para nós, associação, o melhor é ter concorrência, ter mais do que uma companhia. Porque com a concorrência tudo melhora. Para que o turismo possa desenvolver, nomeadamente com pacotes internos,  temos de ter voos. O melhor era ter uma segunda companhia”, conclui. 

Passageiros à nora devido aos atrasos e concelamentos de voos

Às queixas das agências de viagens e turismo nacionais, têm se somado, com muita frequência, reclamações de passageiros e comerciantes nas redes sociais que vêm as suas vidas, compromissos e negócios adiados, devido aos atrasos e adiamentos e cancelamento de voos.

A falta de uma comunicação e apoio eficiente aos clientes tem sido também uma crítica grande à Bestfly. Há clientes que já viram os seus voos antecipados e que os mesmos partiram antes do horário previsto, sem que fossem avisados, com todos os constrangimentos que isso acarreta.

Como A NAÇÃO já deu conta em edições anteriores, a Bestfly está a operar com apenas um avião e  tem vindo a fazer uma gestão de peças de um aparelho para o outro.

Depois do motor de um dos ATR ter dado o berro, a companhia voa apenas com um avião há vários meses.

Contudo, sabe o A NAÇÃO que um ATR de bandeira angolana, da Bestfly, deve aterrar no aeroporto da Praia nos próximos dias para apoiar a operação.

Nesse sentido, por aquilo que conseguimos saber, já que na Besfly parece não haver ninguém que fale por ela, deverá ser em sistema de wet-leasing, ou seja, através de um contrato em que a companhia aérea disponibiliza o avião e a tripulação  completa, tendo em conta que tendo bandeira angolana, à partida não pode ser tripulada pelos pilotos nacionais afectos à Bestfly Cabo Verde.  

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 848, de 30 de Novembro de 2023

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