PUB

Convidados

O talento invulgar de Marlene Fortes: Regresso ao passado

Por: António Andrade

Corria o ano de 2002, enfim, quando o meu conterrâneo Zé de Sucupira, através da sua empresa de produção de música em CDs, a Cabo Verde Productions, teria posto a público como produto de venda, uma sequência de CDs, onde participavam, interpretando músicas, jovens talentos da corrente musical em voga, nessa altura, chamada Cabo love ou Cabo zouk, CDs esses denominados Verão 2002, 20003 e assim por diante.

Cá por nós, à priori, sinceramente, tomamos conhecimento desse facto, a partir do CD Verão 2002, pelo que não temos informações ou certeza exacta se teria havido algum outro gravado antes, do mesmo género musical e idêntico nominativo.

 

Mas, após leituras e consultas online, consta, com efeito, dos sites YouTube e do Discogs que foi produzido um primeiro CD do género a dois anos atrás, i. e., o Verão 2000, editado pela Globe Music e Giva Productions, no qual participaram de entre uma selecção de vários artistas, o falecido Orlando Pantera com o tema “Rabidanti”, Calú di Brava com dois temas “Ementa di amor” e “Desconhecida” e Heavy-H com “Dodu”.

Constatamos, posteriormente, que foi dessa forma, que assim surgiram muitos jovens talentos interpretando músicas românticas do momento, através das suas artes e técnicas, expondo conflitos sentimentais profundos, tais como: o falso amor e suas decepções; as angústias do amor não correspondido, bem como o amor de verdade e o amor eterno etc.

Ou como professam os povos indo-europeus nas suas crenças, atribuindo ao amor em cada situação diversos termos, nomeadamente: o amor romântico da paixão, luxúria e prazer (Eros), a amizade íntima e autêntica (Philia), o amor familiar incondicional (Storge), o amor-próprio (Philautia), o amor empático e universal (Ágape) todos provenientes das vivências gregas e ainda o amor lúdico e sedutor (Ludus) e o o amor comprometido e companheiro (Pragma), atribuídos à vivência latina, de entre outros.

Dizíamos, que em decorrência da moda que se pegou em gravar CDs – aqui nos estúdios da Capital – então e por esse motivo, apareceram ao público em discos gravados, várias vozes que neste momento, seria um exercício inglório, vir dizer, quais eram as melhores ou mais agradáveis de se ouvir, uma vez que eram muitas boas vozes, quer de raparigas, quer de rapazes, que de repente surgiram em grande plano no áudio e no visual, no cenário musical do zouk cabo-verdiano; Cabo zouk ou Cabo love como é também chamado o estilo.

Para se ter uma ideia ligada a isso tudo, sabe-se por sites da especialidade que o verdadeiro zouk, é originário das Antilhas Francesas, mais concretamente da Martinica e Guadalupe e o seu criador e lídimo representante seria o grupo Kassav que tinha no seu melhor intérprete o Patrick St. Éloi que infelizmente veio ali mesmo falecer em 18 de Setembro de 2010, país onde nasceu em 20 de Outubro de 1958, depois de uma boa estada em França juntamente com o grupo.

Compunha o Kassav, além de Jocelyne Béroard, o também já falecido Jacob Desvarieux que nasceu em Paris-França em 1 de Novembro de 1955, mas faleceu igualmente em Guadalupe em 30 de Julho de 2021.

Mais o Jean-Philippe Marthély o Jean-Claude Naïmro, e Georges Décimus.

De acordo ainda com esses sites, Kassav que na palavra em Crioulo antilhano, significa mandioca, foi criado em 1979 por Pierre-Édouard Décimus, músico profissional que, juntamente com Freddy Marshall, decidiu transformar a música de carnaval de Martinica e Guadalupe num estilo mais moderno, dando origem ao zouk tal como o conhecemos.

Mas, outros sites escrevem que o Kassav, misturou o calipso, um estilo musical afro-caribenho, e a makossa, também estilo musical, mas originário das regiões urbanas do Camarões, ganhando o nome de zouk na Europa, em 1985, através da música “zouk la se sel médicaman nou ni”, que nomeou o estilo com o nome de zouk.

Mais referiram de que “É de notar que zouk não era o nome do estilo musical, de facto, os Kassav nunca tinham atribuído esse nome ao estilo que desenvolveram, significando zouk, em Crioulo do Haiti, “festa”, por exemplo. Que por outras palavras, o nome da música em português é “A festa é o único medicamento que temos”, mas como na França pouca gente entendia o Crioulo, e o nome que sobressaía do título era zouk, o estilo passou a ser conhecido, então, por Zouk”. Isso é o que se veicula.

No entretanto, sites existem ainda, que colocam o célebre conjunto Exile One, originário da ilha Dominica, tendo como seu mentor Gordon Henderson, como um dos precursores, senão o percursor do zouk, na sua origem nos anos 1970, criando o género com base no Cadence e Calipso, após seus elementos terem ido para Guadalupe.

Bom, dizia, até que essa influência musical chegou ao arquipélago e logo foi abraçado sobretudo por jovens, que aspiravam em ser artistas de renome.

Mas transformando as letras, o ritmo e a música da linguagem do Crioulo antilhano e francês, numa mistura de palavras, mas com sentimentos e vivências crioulos de Cabo Verde.

Eram outros tempos, os quais, alguém ousou em chamar de “caça talentos”, a procura aos grandes talentos do zouk cabo-verdiano – de tão intensa era essa movimentação.

Dispunham esses talentos à cabeça, nos arranjos e mixagem das músicas nos estúdios, imagine-se, dois monstros nessas áreas: o Dabs Lopes e o Zeca de Nha Reinalda, suportados pela referida empresa Cabo Verde Productions.

Mas, já passado algum tempo, com o advento e fortalecimento do hip hop crioulo e de outros estilos, influenciados por beats rítmicos e sonoridades diversas, desta vez importadas da Holanda e principalmente dos Estados Unidos, influenciaram muito esse zouk crioulo.

Que era cantado no estilo da nossa referenciada Marlene e seus pares, acabando por desaparecer, restando hoje aquele momento que já passou, isto é, a época das grandes interpretações do Cabo zouk ou Cabo love, apenas como simples acontecimentos no campo musical.

Refira-se que o conjunto Gil & The Perfects, ao seu estilo criou o Cabo swing também nessa altura, que outros chamaram-no igualmente Cabo love etc.

Mas o senso razoável actual que se tem do momento passado, é de que, em meados da década de 1990, começaram a surgir, timidamente, bandas musicais e artistas, e. g., Splash, onde Dénis Graça esteve aproximadamente cinco anos cantando Cabo love ou o Cabo zouk.

No entanto, outros dizem ainda que Philippe Monteiro, nascido em Dakar mas filho de cabo-verdianos, músico formado no teclado nos E.U., que tinha transformado, nessa época, num dos maiores cantores da nova geração de músicos da diáspora de Cabo Verde, de entre outros músicos, como Grace Évora, Gil Semedo, ou Beto Dias, ele que terá desenvolvido o Cabo love ao estilo, do que apoderou e adaptou-se a nossa artista Marlene, também na nossa opinião, para cantá-lo e interpretá-lo da melhor maneira.

Alguns entendidos, consideram ou chamam o Cabo love de Kizomba – este estilo de música e dança provindos de Angola. Todavia, alguns artistas crioulos levantaram polémica sobre a sua origem, pelo menos na questão da música ser originária de Angola ou de Cabo Verde.

Outros afirmam que a música kizomba e não a dança, é originária de entre músicas cabo-verdianas feitas na Holanda e outros países de emigração cabo-verdiana. Mas deixemos a polémica à parte.

Contudo, pelo que ela Marlene deixou na perfeição, boas recordações, sendo Cabo love ou kizomba, vale a pena lembrar os seus sons e seus momentos considerados pelos fans, de eternos.

Constituem, sem sombra de dúvidas, uma relíquia aos corações dos que estão realmente apaixonados. Aliás, as letras na maioria dos casos, falam de intimidade, do amor e reflectem a sensualidade das mulheres cabo-verdianas:

Umas com a face bela e o corpo lindo e sensual. Outras de estilo elegante e meigo. Outras ainda que apresentam a fala musical, para não dizer, a voz suave, dócil, diria até, a voz também de beleza sem igual.

São essas mulheres de entre as quais Marlene se insere na sua condição de artista de corpo e alma, portadora de um talento único e uma voz, como se disse, de pendor amoroso e sentimental, melódica e a morrer na garganta, com que se apresentou naquele tempo, ora em dueto com colegas, ora sozinha.

Pergunta-se: onde reside a Marlene actualmente?

Pouco se sabe dela, alguém nos teria dito, quando deu início a essas lides, há já muito tempo, que era do Palmarejo.

Naquele tempo, encontrava-se a viver em Cabo Verde, mas o certo é que ela teria participado nos Países Baixos, com a canção “Intrigas”, num disco do maiense Silvano Spencer, nominado Djarmai Stars, que reuniu diversos artistas do Maio na diáspora.

De acordo com as nossas presunções, do que vemos na net, ela deverá estar a residir na Holanda, dado às suas várias participações ali com o conjunto Splash.

Constata-se ainda que na altura e na companhia de outras grandes referências do estilo zouk crioulo ou Cabo love, o qual se disse anteriormente, onde também perfilavam as cantoras Bela, Nani Vaz, Paulinha, Ernestns, os cantores Manú, TC, Scarface, Domingos, Dany, Soza, Denilson, Amarildo, Heavy H, 2 Pac, Ney etc., bem como outras como Gama, Azaiaz e outros, surgindo pontualmente dessa geração, a Marlene terá estado ou melhor esteve a representar muito bem na new wave do zouk, – quem te viu e quem te vê – a ver do que restou das imagens disponíveis no YouTube.

Afinal, a razão para tê-la aqui selecionada nesses vídeos, desses momentos ímpares e belos já passados e que fizeram a história do zouk em Cabo Verde.

Ficaram marcados forever, tanto pela dimensão estética que apresentou por exemplo as “Três Palavras Mágicas”, tendo o refrão cantado em cinco línguas, nomeadamente crioula, portuguesa, inglesa, francesa e espanhola.

Refira-se, que foram todas aquelas músicas da década de 2000, muito bem feitas suas letras pelos seus respectivos compositores, aos olhos de quem vê.

Como pela beleza da melodia, aos ouvidos e aos corações de todos, uma vez que havia alguma acalmia no ambiente social distendido, o que facilitou a feitura de boas composições de âmbito sentimental.

Vivia-se em Cabo Verde com alguma descontração, sem grandes ameaças ou ocorrências de violência baseada no género, ao contrário do que se assiste agora.

Eis que ficaram marcantes essas músicas e que iriam também servir como exemplo às próximas gerações. E que poderá estar a acontecer hoje por hoje.

Veja-se, e compara-se, as composições de jovens artistas da actualidade como MC Prego Prego, aqui no país, por exemplo, com uma pequena parte das letras transcritas abaixo em crioulo das “Três Palavras Mágicas” e no vídeo do YouTube em português:

Baby dja canto tempo quim ca um odjau

Bem xam ‘mbraçau, mata nha sodadi

Baby dja canto tempo un ca beijau

Baby xam acariciau e tudo nha disejo

Bu manera di beija, so bo qui sabe

E bu manera de … toca nha alma

Na fundo nha peito Três Palavras Mágicas

Qui ta flam:

 Ami un ta Amau, Eu te Amo, I Love you, Yo te Quero, Jai t´Aime

Beaucoup

Ouça-se igualmente “BEM FLAM”, Danilson e Marlene; “PERDON” Manu DI Tarrafal e Marlene e “INTRIGAS”, todas constantes do CD Verão 2002.

Finalmente, no próximo regresso, aproveitando este privilégio da vida que Deus nos deu, as nossas análises irão recuar a 43 anos atrás, i. é., em 1980, e refletir sobre as criações e temáticas musicais do artista, cantor e compositor Blick Tchutchi.

PUB

PUB

PUB

To Top