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Economia

“Visão do Futuro”: projecto virado para a ilha do Fogo, diz-se “ignorado” pelo Governo

António Fernandes, sócio fundador do “Visão do Futuro”, projecto concebido para ajudar a desenvolver a agricultura, pesca e a pecuária, na ilha do Fogo, diz-se “ignorado” pelo Governo. Desde Março que aguarda por uma reacção a uma proposta técnica e financeira, solicitada pelo próprio primeiro-ministro, na sequência de uma audiência realizada nessa mesma data. Cansados de esperar, os seus promotores ameaçam realizar uma manifestação no início de 2024 para protestar contra o actual estado da economia do Fogo.

António Fernandes

António Fernandes, empreendedor e activista social, natural da ilha do Fogo, procurou A NAÇÃO para expressar o seu desagrado com o Governo. Mais concretamente contra o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que, segundo refere, recebeu-lhe em audiência em 9 de Março deste ano para dar-lhe a conhecer o “Visão do Futuro”, um projecto voltado para as áreas da agricultura, pesca e pecuária, para a ilha do Fogo, projecto esse que se diz “sócio fundador” (ver a caixa).

Antigo emigrante nos Estados Unidos da América (EUA), formado em gestão nesse país e de volta à sua comunidade natal, Nossa Senhora de Ajuda (Mosteiros) desde 2005, Fernandes explica que, na referida audiência, apresentou ao PM a sua preocupação com o actual estado da economia da sua ilha natal, no que tange às áreas de abordagem do projecto que representa. “Falamos sobre ‘Visão do Futuro’, que pretendemos implementar para contornar os problemas nas áreas de agricultura, pesca e pecuária, diminuir o desemprego, e com isso valorizar os produtos da ilha do Fogo”, acrescenta.

 Reutilizar o Centro Pós Colheita de São Filipe 

No mesmo encontro com UCS, a 9 de Março, António Fernandes afirma ter abordado também a questão do Centro Pós Colheita de São Filipe, que continua de portas fechadas e que há muito vem sendo reivindicado pelos agricultores da ilha, sem que haja também uma resposta do Governo.

“Estamos decepcionados porque o Governo não considerou a nossa proposta para gerir o Centro de São Filipe em 2017 e até agora não se fez nada com o referido centro. Para verem que a nossa mágoa com este Governo não é de hoje, pois o nosso projecto existe desde 2010 e oficializou-se em 2014”, refere Fernandes, alegando que a audiência com UCS era para ter outros resultados tendo em conta a abertura manifestada.

Como diz, no encontro com o PM este disse que o nosso projecto tem tudo para andar. “Prometeu, inclusive, falar com o Vice-primeiro-ministro, Olavo Correia, para o viabilizar. Ele solicitou-nos uma proposta técnica e financeira que enviamos 11 dias depois. Pelos vistos, depois de a receber, pela atenção dada, presumimos que nem a leu, porque, seis meses depois, não obtivemos nenhuma resposta”.

Sem resposta, somando apenas prejuízos, o entrevistado do A NAÇÃO diz que pagou 40 mil escudos a um consultor para preparar a tal proposta técnica e financeira solicitada pelo PM, fora os 15 mil contos Grupo de cidadãos quer revolucionar agricultura, pesca e pecuária “Visão do Futuro”, projecto virado para a ilha do Fogo, diz-se “ignorado” pelo Governo gastos anteriormente para um estudo detalhado da ilha do Fogo e as suas necessidades.

 “Ainda assim, não somos merecedores de uma resposta seja ela qual for, do Governo. Criamos expectativas com base no que ele nos solicitou e eu, enquanto sócio fundador do projecto, devo uma resposta aos investidores”, desabafa António Fernandes, referindo que desde 2017 Visão do Futuro vem perdendo investidores que estavam interessados por causa da falta de colaboração por parte do Governo.

 Fernandes garante que o projecto elaborado com base no Programa do Governo, de UCS, e que o colectivo que representa não está a pedir nenhuma ajuda financeira às autoridades nacionais.

“O que pedimos é que o Governo fique como fiador para irmos ao banco enquanto um projecto viável, sustentável com capacidade para pagar-se a si mesmo. Este projecto ronda os 130 mil contos, sendo que cerca de 80 mil serão para investir num centro logístico. O Governo já tem este centro físico. Estou a referir a um centro que está de portas fechadas há cerca de 10 anos sem uso”, lembra.

 “Somos cerca de 10 pessoas envolvidas neste projecto, insisto, elaborado com base no próprio Programa do Governo. Aqueles que ainda não desistiram têm grandes dúvidas se este Governo quer realmente desenvolver a ilha do Fogo”, lamenta, referindo que “erradicar a pobreza em Cabo Verde, infelizmente, não passa de discurso”.

“Falam em erradicar a pobreza, no entanto, ignoram um projecto que vai gerar rendimentos para mais de mil famílias, com garantias para gerar mais de 100 postos de trabalho nos primeiros dois anos”, acrescenta.

Manifestação no início de 2024

 Descontentes, os promotores de “Visão do Futuro”, residentes no país e na diáspora, segundo António Fernandes, pretendem organizar no início do próximo ano uma manifestação para mostrar o desagrado com o actual estado da economia da ilha do Fogo. E caso for para frente, a manifestação deverá “contar com a população dos três municípios”.

“Temos problemas de transporte não resolvidos e muitas pessoas a passarem grandes dificuldades sem serem socorridas. A nossa ilha é esquecida e discriminada em relação às outras, e isso não pode continuar”, diz António Fernandes, que se diz formado em gestão de empresas pela Universidade de Daniel Webster nos EUA e que, em Cabo Verde, trabalhou na agência de cooperação internacional japonesa – JICA entre 2005 e 2009.

Em que consiste o “Visão do Futuro”?

António Fernandes conta que “Visão do Futuro” foi desenhado com foco em três “pontos cruciais” para o desenvolvimento sustentável da economia agrícola de Cabo Verde. No primeiro ponto consta a redução dos custos de produção e aumento da qualidade produtiva.

O segundo ponto refere à criação de um mercado integrado onde os intervenientes são os fornecedores/beneficiários e um mercado virtual para melhor servir os seus consumidores é o segundo ponto.

 E por fim, o terceiro ponto tem que ver com a criação de um sistema de empoderamento mútuo aos intervenientes para aumentar a eficiência e a eficácia em todas as vertentes, desde a produção, qualidade, recolha, tratamento, caracterização até a distribuição final, conforme explicou.

António Fernandes assegura que, para fazer face a essas deficiências encontradas no actual modelo de negócio agrícola em Cabo Verde, o “Visão do Futuro” criou um software de gestão para acelerar e profissionalizar o sector.

“Este software vai interligar os três pontos fazendo com que todas as cadeias de valor dos produtos sejam valorizadas mutuamente sem causar qualquer desequilíbrio na produção interna para o abastecimento do mercado local e nacional”, explica.

Para o nosso entrevistado, o referido software “vai ainda provocar uma participação activa dos consumidores no dia a dia  deste mercado, já que, ele pode pedir que tal produto seja produzido ou recolhido de acordo com as suas necessidades”. Este instrumento destina-se também à recolha e tratamento de dados sobre hábitos, exigências e desejos dos  consumidores, deixando o vendedor mais qualificado para satisfazer o seu cliente.

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