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Cultura

Perspectiva 2024/Cultura: 2024, ano do centenário de Cabral e não só

Considerado o ano do centenário de Amílcar Cabral e do cinquentenário da Revolução dos Cravos, 2024 promete ser um ano rico. Mas este é também o ano do centenário de Orlanda Amarílis e Teobaldo Virgínio, dois vultos das letras cabo-verdianos, hoje praticamente esquecidos.

Entre os destaques a nível de Cultura para o novo ano que ora arranca, Cabo Verde vai comemorar os 100 anos de nascimento de Amílcar Cabral, 12 de Setembro, efeméride que está a ser alvo do interesse de vários sectores da cultura, como também da política, no país e em vários lugares do mundo, não fosse Cabral quem é.

A Fundação Amílcar Cabral (FAC) perspectiva, nesse quadro, uma “celebração alargada” e “abraçada” por todas as entidades da sociedade civil no país e na diáspora, mas também do poder político, apesar do “chumbo” verificado no Parlamento, para 2024 fosse considerado pelo Estado como o ano do centenário do nascimento do líder do PAIGC, partido que lutou pelas independências da Guiné e de Cabo Verde.

As actividades agendadas contam já, entre outros, com o engajamento da Universidade de Cabo Verde, ao abrigo de uma parceria entre as duas entidades. O campus da UNI- -CV será, assim, palco para a inauguração de uma ampla exposição sobre a vida e a obra de Amílcar Cabral, bem como de um simpósio internacional, sob o tema “Cabral na memória do tempo”. Isto, além de um ciclo de conferências sobre o Legado Teórico de Amílcar Cabral e a redinamização da Cátedra Amílcar Cabral que existe na universidade pública.

Colóquio Internacional e Festival de Literatura-Mundo

Ainda sobre os 100 anos do nascimento do Herói Nacional, a editora Rosa de Porcelana tem na sua carteira a realização de Colóquio Internacional Amílcar Cabral, a ser realizado em Santa Maria, ilha do Sal, em Junho, a anteceder a VI Edição do Festival de Literatura-Mundo do Sal, em homenagem também àquele líder africano, a partir de 10 de Junho, nos Espargos.

A Rosa de Porcelana já anunciou algumas publicações que irão acontecer em fases, estando já programadas as apresentações de “Cartas de Amílcar Cabral a Ana Maria”, a reedição de “Crónica da Libertação” de Luís Cabral e “Guiné-Bissau: conversa entre Domingos Simões Pereira e Ricci Shryock”. Fala-se também na publicação do livro de memórias de Silvino da Luz.

De referir que da parte do Governo, mais concretamente do Ministério da Cultura e Indústrias Criativas (MCIC), chegou a ser anunciada uma “Agenda 2024” alusiva ao centenário do nascimento de Amílcar Cabral.

Na altura, em que esse anúncio foi feito (10 de Setembro de 2018), o MCIC chegou a admitir que esse “conceito”, expresso através da Agenda 2024, visava “lançar o desafio a todas as instituições da República, às universidades, às ecolase à própria sociedade civil em geral para que se crie uma agenda de reflexão, de atividades e de ação visando a celebração em 2024 do centenário do nascimento de Amílcar Cabral”.

50 anos de Abril

Além do centenário de Amílcar Cabral, 2024 deverá ficar igualmente marcado pela comemoração, pela primeira vez, em Cabo Verde, em Portugal e nos países africanos de língua oficial portuguesa, dos 50 anos do 25 de Abril. Trata-se esta, em princípio, de uma celebração patrocinada pelos chefes de Estados de todos os países envolvidos.

Fora isso, em Cabo Verde, entidades ligadas à sociedade civil pretendem assinalar a data em que, 25 de Abril de 1974, um golpe de Estado derrubou a ditatura salazarista, acelerando, por um lado, o reconhecimento da independência da Guiné-Bissau (1973) e, por outro, abrindo as portas para a independência de Angola, Cabo Verde, São Tomé e Principe e Moçambique, todos em 1975.

Ainda associado ao 25 de Abril constará também a celebração dos 50 anos da libertação dos presos políticos do Tarrafal, ocorrida a 1 de Maio de 1974.

Outras actividades

Fora o centenário de Amilcar Cabral, 2024 deverá seguir na toada habitual, com os seus festivais e galas, particularmente CVMA (01 de Junho), AME, Kriol Jazz Festival, etc.

Teobaldo Virgínio e Orlanda Amarílis

Outros centenários

Orlanda Amarílis e Teobaldo Virgínio

A par de Amílcar Cabral, 2024 é também o ano do centenário do nascimento de Teobaldo Virgínio e Orlanda Amarílis, dois vultos das letras cabo-verdianas hoje praticamente esquecidos.

Única mulher da Academia Cultivar, responsável pelo lançamento do jornal literário Certeza, Orlanda Amarílis nasceu em 8 de Outubro de 1924, em Santa Catarina de Santiago, mas viveu a infância e a adolescência em São Vicente, e morreu em Portugal, em 1 de Fevereiro de 2014. Era filha do dicionarista Napoleão Fernandes.

Professora primária, com vida repartida por Portugal, Angola e Timor, sempre ao lado do marido, o escritor português Manuel Ferreira, Amarílis deixou três volumes de contos (Cais-do-Sodré té Salamansa, 1974; Ilhéu dos Pássaros, 1983; e A Casa dos Mastros, 1989), além de vários livros de contos infantis, aliás, um dos primeiros autores cabo-verdianos neste campo da literatura. Morreu em Portugal em 1 de Fevereiro de 2014.

Dela escreveu o crítico português José Carlos Venâncio: “Para além do lugar incontestável que a obra de Amarílis ocupa, pelo seu lado feminino, no seio das literaturas africanas em língua portuguesa, ela detém ainda uma posição de destaque na tradição contista cabo-verdiana. É com legitimidade que o seu nome ombreia com os de Baltasar Lopes da Silva, António Aurélio Gonçalves, Teixeira de Sousa e Gabriel Mariano”.

Já Teobaldo Virgínio, poeta, contista e romancista, nasceu na Ponta do Sol, ilha de Santo Antão, a 21 de Maio de 1924 e faleceu, nos EUA, em 4 de Dezembro de 2020. Pastor nazareno com vida em Angola, mudou-se para os EUA ainda na década de 1970, tendo aqui fundado e dirigido a revista “Arquipélago”.

Irmão do também escritor Luís Romano, a estreia literária de Teobaldo Virgínio aconteceu em 1960, com Poemas cabo-verdianos, seguindo-se depois vários outros livros de poesia, contos, novelas e romances, por exemplo, Distância (1973) e O meu Tio Jonas (1986).

Não fosse pedir de mais, as câmaras municipais de Santa Catarina e de São Vicente (no caso de Orlanda Amarílis) e da Ribeira Grande de Santo Antão (Teobaldo Virgínio), a par do MCIC, Biblioteca Nacional, Academia Cabo-verdiana de Letras, entre outras entidades, poderiam perfeitamente zelar para que as duas efemérides não passem em branco.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 853, de 04 de Janeiro de 2024

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