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Cultura

Mandingas Praia: Ariah do Norte garante presença na avenida

Ariah do Norte, único grupo de mandingas na cidade da Praia, já soma sete anos a anunciar e a enterrar o carnaval da capital. Para este ano, apesar das dificuldades, Das Neves e a sua malta garantem “presença própria”, ao estilo dos mandingas, na Avenida Cidade de Lisboa.

Mandinga Ariah do Norte. Assim se chama o grupo de mandingas da cidade da Praia que, desde 2016, vem ajudando a animar o carnaval. Seguindo a tradição, o grupo conseguiu sair este anos duas vezes à rua, e espera voltar a fazê-lo na próxima terça-feira, com a máxima garra.

Fundados em 2017, por foliões de São Vicente, e logo bem acolhido pelos praienses, os Mandingas Ariah do Norte começaram a sair a partir do Monte Vermelho, zona do Palmarejo, passando depois para outros bairros da Praia.

Em 2019, os Mandingas da Praia alcançaram uma grande popularidade que foi quebrada, entretanto, pela pandemia da covid-19. Regressaram no ano passado, mas a adesão não foi a mesma. Para o desfile de terça-feira, o responsável do grupo, Das Neves, disse ao A NAÇÃO que os preparativos decorrem com normalidade, mas que o número de participantes vem caindo, infelizmente.

“Este ano saímos duas vezes. Fizemos um desfile no Palmarejo e outro na Ponta d’ Água. Não foi possível fazer mais do que isso porque temos menos adesão do que nos anos anteriores. O grupo era grande, mas vem diminuindo”, conta Das Neves. Um outro problema que espera resolver, entretanto, até o dia do desfile, na terça-feira, é a falta de instrumentos e batucada.

“Neste momento não temos batucada e os nossos instrumentos estão estragados. Mas estamos a fazer todo o possível para resolver este problema antes do desfile de terça-feira”. “Mesmo que seja com 10 elementos e batucada gravada”, garante Das Neves, “vamos desfilar. Mandingas não vamos deixar faltar na avenida, pois sabemos que há um público que espera por nós”.

Traje à mandinga: óleo de carro ou de panela?

Das Neves, actual responsável do grupo Mandingas Ariah do Norte, da cidade da Praia, diz que muitas pessoas têm receio de se juntar ao grupo considerando que pintam o corpo com óleo de máquinas (carro, por exemplo).

Na verdade, conforme explica, a caracterização do “mandinga” é feita com óleo limpo. “Utilizamos óleo alimentar que depois misturamos com corantes e passamos no corpo”. Antigamente, acrescenta, “como não havia corante, as pessoas utilizavam carvão triturado que misturavam também com óleo de panela”.

Portanto, como assegura, é um óleo limpo que depois do desfile pode ser retirado do corpo com um pano seco, “e tomamos banho com sabonete ou detergente e voltamos a ter o nosso corpo limpo”.

Tradição dos mandingas: do Mindelo para Praia

No primeiro domingo do ano, o Carnaval de São Vicente é saudado pela saída dos Mandingas às ruas do Mindelo. A partir de então, todos os domingos, homens e mulheres, adultos e crianças, vestidos de sacos de serapilheira e pintados a óleo e carvão, saem à rua até ao domingo que se segue ao Carnaval, para o enterro do Rei Momo, como reza a tradição.

Trata-se de uma manifestação espontânea e popular que tem vindo a conquistar cada vez mais adeptos, mesmo fora de São Vicente, arrastando milhares de pessoas. Na ilha do Monte Cara há neste momento cerca de oito grupos de Mandingas, oriundos dos mais diversos bairros, que acabam por desembocar na zona da Morada.

Fontes mais antigas situam na primeira metade do século XX a origem desta manifestação no Carnaval do Mindelo. O seu fundador terá sido um estivador “muito activo”, conhecido por Capote. Porém, a origem da denominação mandinga nada deverá ter com os mandingas verdadeiros, um grupo étnico transnacional da África dental, que cobre o Mali, Guiné-Conakry, Guiné-Bissau, Gâmbia, entre outros países.

Além disso, os mandingas verdadeiros, muçulmanos, não se trajam com palhas. Este é, na verdade, a forma de vestir dos habitantes das ilhas dos Bijagós, na Guiné-Bissau e eventualmente no Senegal.

A partir de São Vicente tem- -se verificado a “expansão” dos mandingas, enquanto figuras do carnaval, a outras ilhas, caso da Praia (Santiago), mas também de Santo Antão (ver texto), Sal e Boa Vista.

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