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Convidados

Os Invisíveis

Por: Walter Lopes

Este artigo é sobretudo uma descrição de pessoas em sociedade que mesmo existindo não sabem ter notoriedade ou impor a sua existência como tal.

O problema das pessoas invisíveis é deles mesmos em vez da sociedade ser culpada. Porque é a sociedade que transfere para os indivíduos esses problemas. Embora a sociedade seja um meio de imitação onde as pessoas reproduzem aquilo que vêm, cabe a cada um saber que tem a capacidade de escolha e de expressão!

Comecemos com o seguinte exemplo:

No meu país tenho visto jovens a reclamarem que o preço de 300 escudos é elevado para uma ficha de conteúdos escolares, mas são estas mesmas pessoas, que procuram aos encontrões freepass para festas com valor 10 ou mais vezes do valor da ficha. 

A questão é: Como é possível tirar os futuros líderes da nação dessa forma? Certamente que sempre haverá, de certo modo exceções a esta regra, mas quando a maioria age desta forma mostra que se preocupam mais em se entreter e viver momentos em vez de se formar e ter um sustento na vida.

Enquanto houver mais alunos do que propriamente estudantes estaremos a queimar gerações a longo prazo, estamos a fabricar seres humanos, sem foco nem perspetivas de liderança e acima de tudo pessoas que futuramente limitarão a ser meros marionetas sociais sem capacidade de livre-arbítrio.

Capacidade de liderança e dinamismo

Precisamos cultivar nas gerações que se aproximam que é importante serem seres humanos e cidadãos com a capacidade de liderança e dinamismo em qualquer que seja o ramo social que possam ou irão atuar. Porque quem está abaixo das estruturas de poder pensam que é impossível atingir o poder. E quem esta acima vê os outros como ‘‘pedras no sapato’’ ou simplesmente como os inconvenientes. Porque de certa forma nenhum ‘‘político’’ ou ‘‘individuo’’ que esteja ligado ou que colabora de algum modo na estrutura do Poder não irá contradizer ou viver simplesmente a lei, mas sim as ordens.

Um exemplo nítido foi a última manifestação realizada na Cidade da Praia, contra o Decreto-Lei que dava mais aumento salariais a alguns funcionários do ministério das Finanças e os indivíduos que são preparados para manter a paz e a ordem em todas as sociedades são os militares e sobretudo os policias, mas foram estes que foram convocados para saírem as ruas para manterem a ordem. 

Sim a ordem, vinda dos seus superiores porque não há nenhuma lei que impeça os seus cidadãos de se manifestar em frente das estâncias do poder nomeadamente o famoso Palácio do Governo ou Assembleia nacional. Será que as pessoas cometerem um erro ao saírem às ruas? Porque mobilizar tanto aparato policial e militar com meros civis desarmados e em busca da sua própria justiça comum. Acima de tudo num pais que diz ser democrático e que apoia sempre a Liberdade de Expressão e de Comunicação.

Alinhamento com as estruturas do poder 

E é isto que temos visto, mesmo que não seja o caso de Cabo Verde, em todas as sociedades, sobretudo as que continuam a ser governadas pela ditadura, os salários mais elevados são dos policiais e dos militares, com o objetivo de fazer destes soldados prontos a acatar as ordens das estruturas do poder, não as leis como devia ser.

É isso que o sistema realmente quer, que sejamos agentes passivos, aqueles que não descordam, não opinam e simplesmente não se manifestam limitando apenas a aceitar tudo que eles dizem ser o certo que sejamos meros indivíduos que alinham com os governos. 

Sendo assim qualquer ser humano que se limita a ser comandado pelo outro sem desenvolver o sentido crítico e o senso de responsabilidade e compaixão para com o próximo, tornará um péssimo elemento para a sociedade. Sem vez, sem voz e acima de tudo com pouca utilidade no sentido de ser um agente que contribui de alguma forma para o desenvolvimento da sua sociedade.

E preciso ver com os olhos de ver que é tão fácil a maneira como as estruturas do poder nos fazem virar uns contras os outros em prol das suas ideologias (político e religioso) criam pessoas com fardas e armas para lutar contra pessoas sem fardas nem armas com o objetivo de defender os gravados que lhes garantem salários mensais. 

Basta à compra de consciência!

Todas estas reflexões nos remetem para a esfera política onde as leis são criadas e lançadas na sociedade. Engana se quem pensa que uma pessoa ao entrar na política vai trabalhar para garantir somente o bem-estar do povo! A política é feita em grupo e por pessoas, sendo que  cada um traz consigo as ideias, problemas e, sobretudo, interesses que podem ser pessoais e coletivos.

E, por isso, o poder tem que estar nas pessoas e com as pessoas, enquanto os mídias continuarem a ser usados como meio de instrumentalização política, as ordens a valerem mais do que as leis e, ainda, enquanto continuarmos a queimar gerações com uma educação que não cria um sentido critico nas crianças e, acima de tudo, que não cria nelas o interesse de modo a que, futuramente, tenham vontade em querer desenvolver o país.

Temos de ensinar as nossas crianças e adolescentes que eles devem ter sempre com eles um sentido critico, mostrar que deve ser deles o juízo final para que, futuramente, possam ter adultos hábeis para enfrentarem qualquer situação que de alguma forma possam corromper-lhes.

Temos que dizer basta à compra de consciência, basta aos incumprimentos dos direitos básicos, basta a tudo e todos que fazem com que as pessoas que se preocupam com o nosso país  se sintam frustradas só porque têm demonstrado insatisfação.

As pessoas são livres e não podem continuar a ser consideradas úteis somente perante as urnas de cinco anos em cinco anos.

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