Quatro anos após ser criado, o Cabo Verde & a Música – Museu Virtual procura expandir-se para outras áreas do multimédia. A segunda campanha de crowdfunding da jornalista e historiadora Gláucia Nogueira pretende dotar o projecto de novas funções e maior capacidade de resposta às solicitações dos internautas.
A terceira campanha de crowdfunding lançada pela jornalista e historiadora Gláucia Nogueira – e a segunda para o projecto Cabo Verde & a Música – Museu Virtual – não está a correr como ela esperava. “As pessoas devem estar achando que o projecto está muito bem assim e não precisa de mais (risos), ou então estão sem dinheiro mesmo”, diz, ao A NAÇÃO, a partir do Brasil.
A campanha coincide com o quarto aniversário deste projecto ligado ao universo da música de Cabo Verde, arquivo e divulgação, e termina no dia 17 de Março. “O valor até agora arrecadado fica muito àquem das nossas expectativas, mas também as outras arrancaram igualmente tímidas, tendo melhorado na parte final. Vamos ver se acontece o mesmo.”
Dos 5100 euros afixados como meta – destinados a ampliar o site, criar novas secções e conteúdos, tarefas que exigem trabalho técnico exterior, podcast, edição de imagem, câmara, produção, criar arquivo de imagem e documentos, trabalho de designer gráfico, etc – apenas foram arrecadados 790 euros, através da plataforma e nas contas que ela disponibilizou ao público.
“A primeira que fiz para o lançamento do meu livro Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens (2016), foi lançada com o objectivo de atingir 4000 euros e acabou por chegar aos 5081, através de 58 apoiantes. A campanha de lançamento do Museu Virtual (2020), pensámos em obter 4640 mil e chegámos aos 4850 mil euros, de 55 apoiantes, que também foi um sucesso. Esta está meio fraquinha, o pessoal deve achar que o site está bem assim ou então é falta de dinheiro”, diz.
Com o trabalho já feito, nestes quatro anos, esperava- -se uma maior adesão e uma “campanha mais generosa” por parte dos internautas, afirma. Sobretudo pela grande procura que o site do Cabo Verde & a Música – Museu Virtual vem tendo, por parte de jornalistas, pesquisadores, etc, que contactam a jornalista, em busca de informações. Se até agora o projecto não conta com patrocinadores fixos, de peso, que garantam a sua sustentabilidade, tal obedece à ideia inicial de Gláucia Nogueira em ter primeiro um trabalho para mostrar.
“Pensei que era melhor apresentar o trabalho do que ir pedir apoio com base apenas em ideias. Mas estando no Brasil, os contactos ficam mais distantes. E estou sozinha neste projecto, ter que fazer muita coisa, inserir informação, corrigir, escrever textos, lidar com a parte financeira, que foi ficando para depois.”
No entanto, em 2022, o projecto conseguiu um apoio da Bridgwater State University, em Massachussetts, nos Estados Unidos, para dois anos, que teve continuação na forma de apoio à tradução dos conteúdos para inglês, também em parceria com a ALMA – Associação da Língua Materna Cabo-verdiana, muito importante para a comunidade cabo-verdiana neste país e não só.
Os primórdios da morna
E recentemente, Gláucia Nogueira iniciou contactos com uma parceria com a UNICV, para que estudantes da área da comunicação desta universidade possam colaborar com o Museu Virtual, e ser uma forma de também ganharem experiência.
Para já, a campanha vai avançando, mas mais lentamente do que o esperado. “Esperemos que nos últimos dias as coisas melhorem, à semelhança das outras”, diz Gláucia Nogueira.
Com muito ou pouco dinheiro arrecadado, o certo é que Cabo Verde & a Música – Museu Virtual vai avançando e multiplicando as áreas de abordagem, deste que é um tema que parece ser inesgotável. E das novas pesquisas previstas poderá vir ainda mais informação nova.
“Vou iniciar a um pós-doutoramento, na USP – Universidade de São Paulo, que vai incidir sobre os primórdios da morna, a época em que a morna surgiu e tendo como pano de fundo o livro do historiador britânico Paul Gilroy, O Atlântico Negro, misturando Portugal, Brasil, Cabo Verde, Cuba, etc., e em que medida o surgimento dos géneros musicais em Cabo Verde se relaciona com essa ideia.”
Um contributo, diz a jornalista, para ajudar a contar a história da morna. “Está mal contada e faltam trabalhos académicos sobre o tema, tal como fiz com os géneros musicais de origem europeia, para o meu doutoramento”, acrescenta.
Gláucia Nogueira, que viveu em Cabo Verde alguns anos, é brasileira de origem e tem nacionalidade cabo-verdiana. É autora dos livros O Tempo de B.Léza – Documentos e Memórias (2005); Notícias que Fazem a História – A Música de Cabo Verde pela Imprensa ao Longo do Século X (2007); Batuku de Cabo Verde – Percurso Histórico Musical (2015); Cabo Verde & a Música – Dicionário de Personagens (2016).
Joaquim Arena
