PUB

Convidados

Autoeficácia da escola: testes e outros instrumentos de avaliação (3)

Por: Olímpio Tavares*

O processo pedagógico utilizado pelos professores é composto por três elementos fundamentais: ensino-aprendizagem-avaliação. No artigo anterior, refleti sobre a componente ensino-aprendizagem. Neste, vou refletir sobre a avaliação, mais especificamente sobre os instrumentos que os professores utilizam ou deveriam utilizar para verificar se o processo de ensino-aprendizagem está a ser eficaz. Debruçarei sobre os testes referidos à norma e os testes referidos ao critério, os trabalhos de grupo, os trabalhos individuais, os trabalhos práticos, a questão escrita e a questão oral. 

Teste referidos à norma

Os testes referidos à norma são utilizados pelos professores para verificar os conhecimentos adquiridos pelos alunos, classificados numa escala de 0 a 20. O resultado do teste de cada aluno é comparado com o resto da turma. Após essa comparação, o professor fica com um retrato da turma que se agrupa, em geral, por muito bom, bom, suficiente e insuficiente. Se esses grupos forem equilibrados, normalmente não deverá constituir motivos de preocupação para os professores. Mas se o número de insuficientes for, por exemplo, 50 porcento ou mais, deverá constituir motivos de preocupação para alguns professores, mas outros professores preferem passar a culpa exclusivamente para os alunos, ilibando assim a sua pessoa dessa responsabilidade. Mas até que ponto os testes referidos à norma são eficazes? 

A eficácia dos testes referidos à norma (conhecido comumente como testes sumativos) são muito baixas quando se refere à qualidade da aprendizagem do aluno. Medem apenas aquilo que os alunos conseguem fazer em momentos pontuais. E nos moldes em que é feito no nosso contexto pouco contribui para uma aprendizagem significativa do aluno, por vários motivos. De entre muitos, posso salientar a ansiedade do aluno no momento em que realiza o teste, a marcação da data fixa do teste, que “obriga” o aluno a estudar nas vésperas do teste, tendência do professor em fazer um teste extenso para poder contemplar os conteúdos que ele considera mais relevante, e muitas vezes o aluno não é consultado antes de se realizar o teste. Por estes e outros motivos, os testes acabam por ter uma eficácia muito baixa em termos de aprendizagem significativa. 

Testes referidos ao critério

Os testes referidos ao critério podem ser uma alternativa aos testes referidos à norma. Porque o seu objetivo é comparar o aluno consigo mesmo e não com o resto da turma. Debruça mais sobre o processo de aprendizagem do aluno, que pode ser verificado pelos professores na forma como o aluno estrutura uma resposta, as categorias de erros que comete, os processos cognitivos e metacognitivos que utiliza nas respostas. Após essa verificação por parte do professor, este deve dar um feedback personalizado, conforme os objetivos de aprendizagem traçados para o referido teste. Apesar de a utilização deste tipo de teste ser desejável, pelo menos como complemento fundamental, a sua conceção, aplicação e monitorização exige muito treino por parte do professor, e uma reestruturação significativa da nossa forma de ensinar. Se num teste referido à norma, o objetivo do professor é perceber até que ponto o aluno é fiel na reprodução dos conteúdos tratados na aula, na maior parte das vezes de forma acrítica, no teste referido ao critério pretende-se que o aluno mostre, de facto, o seu progresso qualitativo de aprendizagem. 

Para além dos testes, existem outros instrumentos de avaliação sumativa, que servem como complementos fundamentais nos processos de aprendizagem, embora não tão valorizados pelos professores, talvez pelo nosso passado recente em que as notas dos alunos se resumiam apenas aos testes sumativos, na maior parte dos casos. Com a revisão curricular em vigor, os professores são obrigados a diversificarem a sua avaliação sumativa, estabelecendo assim um equilíbrio entre os testes e outros instrumentos de avaliação sumativa. 

Trabalhos de grupo

No caso particular dos trabalhos de grupo, posso dizer que devem ser utilizados de forma eficaz em todas as disciplinas, ou seja, criando condições para que os alunos expressem o seu ponto de vista de forma crítica e criativa sobre determinados situações-problemas, procurando chegar a um consenso de forma proativa, sempre que possível. Muitas vezes o que acontece é um trabalho feito à pressa, copiado em cima da hora, para ler ou decorar para despejar por escrito ou oralmente. Ora isso em termos de aprendizagem significativa é quase nulo. 

Trabalhos individuais

Os trabalhos individuais devem ser momentos de reflexão por parte do aluno no sentido de aplicar os seus conhecimentos sobre determinadas situações que têm a ver direta ou indiretamente com a disciplina em causa. Se for cópia direta daquilo que está na internet, mais uma vez estamos perante algo que não serve para mais nada a não ser para atribuir uma classificação de 0 a 20, mas que na prática pouco ou nada contribui para a real aprendizagem do aluno. Infelizmente, essa prática acontece muitas vezes no nosso contexto escolar, conhecido como “copy paste”. 

Trabalhos práticos

É um outro instrumento de avaliação sumativa utilizado muitas vezes pelos professores com intuito de averiguar a aprendizagem dos alunos. Por ser prático, ficamos com a ideia que é mais fácil fazer e aplicar, e de facto, deveria ser. Mas a realidade é bem mais sombria. O que acontece muitas vezes são trabalhos de caráter mais teóricos, configurando em algumas das suas formas como fichas de exercícios para os alunos resolverem em casa ou na sala de aula, versando sobre os mesmos conteúdos que são contemplados nos testes sumativos, portanto, trabalho teórico e não trabalho prático. O trabalho prático pode ter várias configurações, variando de disciplina para disciplina. Em geral, pode ser uma demonstração de uma situação-problema que envolve uma disciplina ou mais, pode ser uma representação teatral de uma determinada situação do dia a dia e que tem alguma relação com disciplina em causa, entre muitas outras formas. Aqui recomenda-se a criatividade e inovação por parte do professor. 

Questão escrita e/ou oral

A questão escrita e a questão oral devem ser abordadas sob o ponto de vista da profundidade. E isso não é compatível, a meu ver, com um número muito grande de questões, que obrigam o aluno a dar respostas rápidas sem o respetivo processo de interiorização, que é essencial para se ter uma aprendizagem significativa. Com uma questão, bem formulada, podemos perceber o nível de abordagem dos alunos. Mas o que acontece muitas vezes é que alguns professores fornecem uma lista de questões para os alunos responderem, como se estivessem numa entrevista. Suspeito que essa tendência para fazer muitas perguntas têm a ver com a influência consciente ou inconsciente dos testes nas mais diversas avaliações, contribuindo para que os outros instrumentos de avaliação sumativa sejam uma réplica dos testes. Quando assim acontece, os instrumentos de avaliação podem ser considerados ineficazes. Ou seja, em vez serem utilizados de forma que fazem jus ao seu nome, estão a ser utilizados de forma enviesada. 

Em suma, posso dizer que os instrumentos de avaliação que são utilizados por muitos professores padecem de eficácia, que acabam por comprometer a forma como o próprio ensina e a forma como o aluno aprende. Afinal, o processo pedagógico (ensino, aprendizagem e avaliação) deve ser conduzido de uma forma harmónica e interativa. Para que isso aconteça, é necessário que todos os elementos que compõe o trabalho escolar estejam alinhados. E, neste momento, esses elementos não estão alinhados. 

*Mestre em Supervisão Pedagógica

PUB

Adicionar um comentário

Faça o seu comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PUB

PUB

To Top