O Ministério Público voltou a deduzir acusação de desobediência qualificada contra o jornalista Hermínio Silves e o jornal Santiago Magazine, no caso que envolve o nome do ex-ministro Carlos Santos. Nas redes sociais, vários ataques foram direcionados à jornalista Rosana Almeida, na sequência de notícia sobre o projecto do Hospital Nacional de Cabo Verde, apresentado pela terceira vez pelo Governo do MpD.
Hermínio Silves, jornalista e director do Santiago Magazine, volta a estar na mira do Ministério Público, pela mesma razão: suposta violação do segredo de justiça. Desta vez, entretanto, é o caso de alegada lavagem de dinheiro envolvendo o ex-ministro do turismo e transportes, Carlos Santos e o ex-deputado Amadeu Oliveira.
No dia 29 de Janeiro deste ano, aquele online publicou uma notícia dando conta que o então ministro Carlos Santos foi constituído arguido, “sob suspeita de participação num esquema financeiro que indicia a prática de crime de lavagem de capitais”.
O jornal noticiou, na época, que Santos “terá recebido de um advogado avultada quantia em dinheiro, sem qualquer justificativa ou motivo aparente”, e que mais de metade desse dinheiro foi depois transferido para conta de um outro advogado, que viria a investir na banca.
No dia seguinte a esta publicação, o próprio Carlos Santos convocou a imprensa para informar que colocou o cargo à disposição para colaborar com a justiça no referido processo, indicando, ainda, que o advogado em questão seria Amadeu Oliveira, com quem teria tido Jornalistas sob ataque MP promove nova investida contra liberdade de imprensa uma relação de amizade e confiança desde a universidade.
Na sequência deste pronunciamento público, o jornal Santiago Magazinepublicou novo artigo (“Lavagem de dinheiro. Carlos Santos põe cargo à disposição e chama Amadeu Oliveira ao barulho”).
Ora, para o MP, o jornal e o seu jornalista, mais uma vez, violaram o segredo de justiça e incorreu no crime de desobediência qualificada, o que para Hermínio Silves, não faz qualquer sentido.
“Na sexta-feira eu e Santiago Magazine fomos de novo constituídos arguidos por violação do segredo de justiça pelo Departamento Central da Ação Penal, na PGR, por causa de um texto que, pasme-se, teve por base a conferência de imprensa do próprio ex-ministro, esse sim, enquanto interveniente no processo, terá cometido esse crime”, esclarece Silves.
Para o jornalista, trata- -se de “uma atroz, vil e arbitrária perseguição direta do Estado, representado pela Procuradoria Geral da República”, contra a sua pessoa e o jornal que dirige, “e indiretamente à imprensa que denuncia estórias camufladas”.
“A imprensa está sob ataque e temos que parar isso”.
Desta vez a PGR foi longe demais, porque de uma insanidade gravíssima. A PGR já perdeu as estribeiras com esse vandalismo judicial. O assunto é seríssimo, mas haverá justiça. O meu país, onde a liberdade foi conquistada à bala e com muito sofrimento há meio século, espera e exige muito melhor do que andam a fazer esses carrascos da justiça”, denunciou.
De recordar que Hermínio Silves, Santiago Magazine, assim como o jornalista Daniel Almeida, o jornal A NAÇÃO e seu antigo director Alexandre Semedo, já respondem por processo semelhante, no caso que envolve o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, e o assassinato de Zezito Denti d´Oru, em 2014.
Natalina Andrade
Publicado na Edição 935 do Jornal A Nação, de 31 de julho de 2025
