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Edy Cruz é o novo “comandante” do Futebol de São Vicente

A Associação Regional de Futebol de São Vicente (ARFSV) tem finalmente nova direcção. Edy Cruz foi eleito presidente da instituição após um processo eleitoral marcado por tensão, dois empates consecutivos e a retirada estratégica de Alcides “Tcheps” Graça, seu único adversário. A eleição culminou num processo electivo com uma candidatura solitária e que promete mexer com o futebol na ilha do Monte Cara.

O processo eleitoral da ARFSV começou com dois projectos distintos. De um lado, Edy Cruz, ex-dirigente federativo e figura próxima da gestão cessante, apresentava-se como “ponte entre a experiência e a renovação”. Do outro lado, Alcides Graça, técnico e dirigente desportivo, defendia uma ruptura com o modelo vigente, propondo maior transparência, descentralização e participação dos clubes.

As duas assembleias realizadas nos dias 23 e 27 de Outubro terminaram com o mesmo resultado: empate técnico, oito votos para cada lista. Sem previsão estatutária para o desempate e com o ambiente a deteriorar-se entre os clubes, o desfecho acabou por ser inesperado: Alcides Graça desistiu, abrindo o caminho para a eleição de Edy Cruz por maioria dos presentes, na terceira Assembleia electiva seguida.

Edy Cruz refuta qualquer conotação com a direcção anterior, que lhe foi atribuído durante a campanha, apesar de te ter pertencido a esse organismo. “Não sou o candidato da continuidade, sou o candidato do compromisso”, afirma.

Em declarações à imprensa, o novo presidente afirmou que o seu projecto é “um pacto de responsabilidade com o futebol de São Vicente” e que a sua gestão será marcada por “diálogo, transparência e acção”.

“Vamos trabalhar para que o futebol de São Vicente volte a ser referência nacional, com organização, respeito e visão estratégica”, declarou.

No seu programa eleitoral, Edy Cruz propõe, entre outras medidas e acções, a criação de um gabinete técnico permanente, com profissionais qualificados para apoiar os clubes na formação de treinadores, dirigentes e atletas, a revisão dos regulamentos internos, com participação activa dos clubes e maior clareza nos processos disciplinares, bem como o reforço da comunicação institucional, com boletins mensais, prestação de contas públicas e presença digital reforçada, e ainda a valorização das competições juvenis e femininas, com apoio logístico, técnico e visibilidade mediática.

“Não podemos continuar a gerir o futebol com base em improvisos. Precisamos de planeamento, de metas claras e de uma cultura de prestação de contas. A associação tem de ser uma casa aberta, onde todos os clubes se sintam representados”, reforçou Edy Cruz.

Alcides Graça: “Desisto por respeito ao futebol e aos clubes”

Alcides Graça

A retirada de Alcides Graça da corrida eleitoral para o comando da ARFSV foi anunciada pelo próprio através de um comunicado enviado aos clubes e à imprensa. No documento, Graça lamenta o impasse gerado pelos dois empates e afirma que a sua decisão visa “preservar a estabilidade do futebol regional”.

“Após dois empates consecutivos e diante da ausência de mecanismos claros para resolver o impasse, decido retirar a minha candidatura. Não quero que esta eleição se transforme num campo de batalha. O futebol de São Vicente merece paz, organização e foco nos atletas”, escreveu.

Durante a campanha, Alcides Graça defendeu uma reforma profunda da ARFSV, com descentralização das decisões, maior apoio aos clubes de base e uma nova abordagem na relação com a Federação Cabo-verdiana de Futebol. A sua desistência foi vista por muitos como um gesto de maturidade política, mas também como um sinal de que a resistência à mudança continua forte dentro da estrutura associativa.

“A minha candidatura representava uma alternativa. Não fui derrotado nas urnas, mas sim por um sistema que ainda não está preparado para se reinventar. Mesmo assim, saio de cabeça erguida e com a convicção de que contribuí para elevar o debate”, afirmou Graça em entrevista posterior.

Expectativas e desafios do novo mandato da AFRFSV

A eleição de encerra um ciclo de incertezas, mas abre um novo capítulo repleto de desafios. A Associação Regional de Futebol de São Vicente enfrenta críticas antigas: falta de transparência, centralização de decisões, ausência de apoio técnico aos clubes e dificuldades na organização das competições. A nova direcção terá de lidar com estas questões num contexto de exigência crescente por parte dos clubes e da opinião pública.

“Vamos começar por ouvir. Ouviremos os clubes, os treinadores, os árbitros, os adeptos. Só com diálogo poderemos construir soluções duradouras. A associação não pode ser um castelo fechado. Tem de ser uma casa de portas abertas”, prometeu Edy Cruz.

A primeira assembleia sob a nova presidência está marcada para o dia próximo dia 15, sexta-feira da semana que vem, onde serão apresentados a equipa directiva e o plano de acção para a época 2025/2026. Edy Cruz já anunciou que pretende realizar uma ronda de visitas aos clubes nas próximas semanas, para recolher propostas e alinhar prioridades.

João A. do Rosário

Publicado na Edição 949 do Jornal A Nação, do dia 06 de Novembro de 2025

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