O corpo de Raúl Vera Cruz Barbosa, diplomata de carreira e ex-embaixador já aposentado, foi a enterrar, esta terça-feira, 23, na Cidade da Praia. Lembrado pelo seu espírito alegre e carisma, Raúl Barbosa exerceu no Senegal, a sua última missão (2001-2009) como embaixador de Cabo Verde, conquistando “respeito e reconhecimento” das autoridades e do corpo diplomático nesse país vizinho.
Tido como “pessoa amiga e profissional de fino trato”, “Raulinho” Barbosa, como também era carinhosamente conhecido, faleceu, Segunda-feira, 22, na cidade da Praia, depois de se ter sentido mal em casa.
A sua morte, despoletou uma onda de consternação de várias entidades, nomeadamente públicas e governamentais, do corpo diplomático, de amigos e conhecidos e, particularmente, de José Maria Neves, actual Presidente da República, que, numa nota na sua página no Facebook, recorda o período em que Raúl Barbosa exerceu como Conselheiro Diplomático do Chefe do Governo cabo-verdiano e, mais tarde, como embaixador de Cabo Verde no Senegal.
“Conhecia como ninguém os corredores do poder no Senegal e, mesmo depois de aposentar-se, ia-me munindo de importantes informações sobre os interstícios da política em África. Mais recentemente, tinha-me muito bem informado sobre a dinâmica política em Bissau, após o último golpe de estado. A última mensagem foi do dia 18, quinta-feira”, escreveu José Maria Neves que, na qualidade de Primeiro-Ministro, propôs, em 2001, o nome de Raúl Barbosa para embaixador de Cabo Verde no Senegal.
Embaixador no Senegal: “enorme simpatia e reconhecimento”
O Ministério dos Negócios Estrangeiros, cooperação e Integração Regional de Cabo Verde destaca o “percurso exemplar e dedicação inabalável” de Raúl Barbosa à causa de Cabo Verde em diversas missões diplomáticas.
“Fica o seu legado patriótico, dedicação e contribuição para a diplomacia cabo-verdiana que, nas suas últimas funções como Embaixador de Cabo Verde no Senegal granjeou enorme simpatia e reconhecimento de todos”, refere a nota de pesar desse ministério.
Por sua vez, o actual embaixador de Cabo Verde no Senegal, Hermínio Moniz, citado pela INFORPRESS, assegurou que “Raulinho” Barbosa, será lembrado pelo seu espírito alegre, carisma e pela sua capacidade de estabelecer laços de amizade profunda, tanto com os cabo-verdianos como com os senegaleses.
“É momento de muita dor e tristeza nesta comunidade cabo-verdiana no Senegal, que tinha no embaixador “Raulinho” um amigo, um ser humano de afectos, um diplomata fino e carismático e que prodigalizava o bom humor”, afirmou o embaixador Hermínio Moniz.
Primeira leva de diplomatas de Cabo Verde
Jorge Tolentino, ex-Ministro dos Negócios Estrageiros de Cabo Verde no governo liderado por José Maria Neves, destaca que Raúl Barbosa fez parte da “primeiríssima leva de Diplomatas da República de Cabo Verde nascida a 5 de julho de 1975” liderados pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros Abílio Duarte, primeiro, e, depois, Silvino da Luz.
“Nesse contexto, o trabalho desenvolvido na frente da Diplomacia é extraordinário, heroico mesmo. Nisso tudo há o contributo de Raúl Barbosa e dos demais membros da equipa minúscula” de então, destaca o ex-governante, acrescentando que Raúl Barbosa “esteve especialmente envolvido no lançamento das fundações do Protocolo do Estado de Cabo Verde, coordenando tudo a partir da sede dos Negócios Estrangeiros”.
“Na História do Protocolo do Cabo Verde independente, Raúl Barbosa é a estaca primeira”, sublinhou Jorge Tolentino.
“Afável, dialogante, bem-humorado, Raúl Barbosa tinha já em si, de nascença, metade do caminho das exigências próprias às lides diplomáticas. Movia-se com igual à vontade nos salões de mais exigente etiqueta e nos bairros de convívio descontraído. Era um homem simples e genuinamente amigo. Se bem ajuízo, gozava da simpatia generalizada dos seus colegas na Carreira Diplomática”, acrescenta o ex-Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Condecorações: “nunca é tarde”
Jorge Tolentino lamenta que a “geração de Fundadores da Diplomacia da República de Cabo Verde”, de que faz parte Raúl Barbosa, nunca tenha recebido um “obrigado” da República, na forma mais elevada de que dispõe, a das condecorações, que, entretanto, foram atribuídas a profissionais de outras áreas.
“Nunca é tarde para tal fazer, ainda que a título póstumo. Como, de resto, tem sido feito, e muito legitimamente, em relação a outros domínios profissionais”, defendeu na publicação com o título “Embaixador Raúl Barbosa – na despedida de um Cabouqueiro”.
C/Inforpress



