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Economia

Carnaval 2019: São Vicente lotado e São Nicolau com ocupação “suave”

O cenário não é novo e, por isso mesmo, há muito que, segundo os operadores turísticos, merecia mudanças. Como dizem, gostariam de ver mais pacotes e promoções especiais para que turistas e nacionais possam conhecer e desfrutar o que as ilhas têm para oferecer todo o ano.

Mas, infelizmente, os preços das viagens inter-ilhas, praticados pela Binter, que consideram “insuportáveis”, não ajudam. “A ocupação era melhor quando a TACV operava no mercado interno, havia mais gente a circular”, afirmou ao A NAÇÃO Fernando Santos, operador de São Nicolau.

O empresário não se mostra muito animado com a quadra carnavalesca, porquanto, como afirma, está mais preocupado com o turismo durante o resto do ano. “Tenho algumas reservas que coincidem com o Carnaval de grupos que vêm fazer treckking, mas são reservas que já estavam fechadas há muito e que nada têm a ver com a época. O que devemos exigir é que a TACV retome o mercado nacional, é urgente! Andamos sempre às moscas”.

É que, adianta, “há poucas ligações e a preços insuportáveis no mercado interno”. A par de outros operadores de São Nicolau, também a campanha de promoções que a TACV fez para o Carnaval no Brasil, passou ao lado do nosso entrevistado.

“Muito honestamente desconheço essa promoção que a TACV está a fazer para o Carnaval do Brasil, mas não deixa de ser interessante e sui generis, em detrimento do Carnaval nacional”. Mesmo assim, garante que tendo em conta as circunstâncias actuais do mercado, pouco ou nada iria adiantar.

“Tendo em conta que a TACV só voa, agora, a partir da Praia e do Sal, fazer uma promoção seria difícil porque teria de ser a tempo para se programar voos juntamente com a Binter, o que é difícil”, elucida. Fernando Santos recorda o tempo em que a ilha tinha mais gente. “A ocupação era melhor quando a TACV fazia os voos directos de Paris e Holanda. Tínhamos mais emigrantes e turistas holandeses e franceses. Agora o turismo está às escuras”, afirma.

O empresário diz não compreender o porquê da saída do voo directo de Amesterdão, que, como diz, tinha sempre muita gente. “Porquê que a companhia (TACV) liga Brasil à Europa com os voos às moscas, e com preços acessíveis, em vez de fazerem Holanda?”, questiona.

Diáspora

Também Yolanda Soares, na ilha de Chiquinho, diz desconhecer a campanha que a TACV fez para o Carnaval do Brasil e que gerou inclusive muitas criticas nas redes sociais. “Fica mal à TACV, uma companhia nacional, estar a promover o Carnaval do Brasil. Deveria é promover o Carnaval do país”, lamenta. Promoções à parte, Yolanda garante que a ocupação para este carnaval “está boa”, mas longe de estar “super lotada” como os outros anos. “Está mais suave”, afirma.

Os motivos, estes, são de ordem vária. “Por causa dos voos, mas também porque, geralmente, vem mais gente quando, por exemplo, os grupos fazem aniversários redondos. Mas, como este ano é um ano normal, as pessoas vêm mais conforme os reinados”, justifica.

É que, como explica, se a pessoa do reinado é uma pessoa “muito conhecida” e “com muito dinamismo”, faz com que venha um “bom grupo” do país (diáspora) onde vive.

“Este ano temos reinados de Itália, Holanda e Estados Unidos da América. Mas, como as pessoas sabem que está tudo muito apertado, em termos de voos, elas vêm uma semana antes e regressam uma semana depois do Carnaval. Os dias mais próximos do Carnaval os voos estão cheios com pessoas que vêm de outras ilhas”.

Barco, uma opção

Segundo Yolanda, as pessoas estão também a mudar de estratégia e a incluir as viagens de barco como uma alternativa aos voos.

“Do Sal estão a fazer excursões de barco para o Carnaval de São Nicolau, por causa do preço dos voos. As pessoas trazem os seus carros e vêm de barco. Há famílias de quatro pessoas que me disseram que o bilhete que pagam por uma pessoa no avião, vão todos de barco”. É que, como diz, as pessoas “não estão a confiar muito” nos voos inter-ilhas por causa dos cancelamentos (técnicos e climáticos), porque sempre que há cancelamentos a ilha de São Nicolau é a primeira a ser cancelada.

“Neste momento temos barco de São Vicente e Praia e eu tenho clientes, imigrantes, que chegaram na Praia e optaram pelo barco em vez de avião. É uma opção por causa dos preços (dos voos) que estão exorbitantes“, fundamenta. Conforme informações avançadas pelo call center da Binter ao A NAÇÃO, durante o mês de Fevereiro, São Nicolau teve três voos semanais a partir da Praia, mais dois semanais a partir do Sal, o que faz cinco voos, por semana para aquela ilha. Em Março estão previstas, igualmente, essas cinco frequências semanais.

São Vicente: Conseguir ir em cima da hora é um “milagre”

Sandra Pereira, da Atlantur, que trabalha com o destino São Vicente/Santo Antão, garante que a ocupação de Carnaval “está perfeita”, “está tudo cheio há seis meses”. “Cerca de 70% das pessoas (incluindo turistas) já sabem do Carnaval com antecedência ou já tinham programado as férias para essa altura, mas quem quer vir em cima da hora já não consegue”, lamenta.

Segundo informações avançadas pelo “call center” da Binter ao A NAÇÃO, entre Praia/São Vicente, em Fevereiro houve 16 voos semanais, numa média de dois por dia, mas, segundo a empresa, em Março, o número deve aumentar por causa de “voos de reposição do Carnaval”.

Já na rota Sal/São Vicente em Fevereiro, a companhia realizou oito voos por semana, mas o número deve aumentar em Março, por causa também “dos voos de reposição do Carnaval. Em suma,  São Vicente teve uma média de 24 voos semanais em Fevereiro.

Sandra Pereira defende um plano anual com a programação das datas fixas das manifestações culturais de Cabo Verde e, especialmente, de São Vicente e Santo Antão, que devido às limitações dos transportes exigem mais programação. “O ano passado o Carnaval foi em Fevereiro, este ano é em Março. Igualmente, para a Baía das Gatas faltam cinco meses e ainda não se sabe a data oficial do festival, assim como o Carnaval de Verão que também não tem data. Assim não dá para programar”, alerta.

Fora o Carnaval, que, como se sabe, é uma “excelente” época para São Vicente, as ilhas do Norte estão a sair prejudicadas porque não conseguem viajar a baixo preço. “Qualquer promoção que se tente fazer ou aproveitar, quando fazemos as contas com a Binter, já não é uma promoção”, contesta.

Neste momento, São Vicente só tem voos internacionais através da TAP, que voa diariamente entre a ilha e a Europa, excepto às terças-feiras, e a TUI que voa duas vezes, por semana, às terças e sextas-feiras.

A falta de concorrência e de outras companhias, nomeadamente a TACV, fez com que os preços praticados não estejam acessíveis a todos. “Pessoas que querem sair de São Vicente para França ou Portugal não conseguem viajar por menos de 80 mil escudos, enquanto um europeu que quer vir da França para São Vicente consegue viagens a 500 euros, quando os estrangeiros têm mais poder de compra que os locais”, explica.

Quem está a ser afectado, diz, é o mercado de Santo Antão, que, conforme essa fonte, tem menos gente que o ano passado. “Deve-se a dois factores, o primeiro é que temos só praticamente a TAP a operar e o segundo é que a política da Binter está a prejudicar os circuitos inter-ilhas”.

E explica porquê: “Em vez de conseguirmos,  por exemplo, um pacote para cinco ilhas, com um bilhete único, a um preço razoável, a Binter cobra 1 bilhete por destino, nos circuitos. Ou seja, se for cinco ilhas, são cinco bilhetes de 10 mil escudos cada. É incomportável.”

Gisela Coelho

*Este texto foi publicado na integra na edição impressa nº600 do jornal A NAÇÃO

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