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Cultura

“Guitarrada do Atlântico” homenageia Armando Tito

A II Edição de “Guitarrada do Atlântico” homenageia o instrumentista e compositor cabo-verdiano Armando Tito, radicado há vários anos em Portugal. Guitarrada do Atlântico é um projecto da ‘Capital Eventos’ que pretende marcar o panorama musical cabo-verdiano, através da “Morna no instrumental dos mestres”. A primeira edição aconteceu no ano passado, tendo homenageado o solista Humberto Bettencourt Santos (Humbertona). O evento pretende também demonstrar apoio à candidatura da Morna a Património Imaterial da Humanidade.

Nesta segunda edição, actuam guitarristas internacionais, nomeadamente, Pedro Jóia e Vuca Pinheiro. Aliás, a vocação deste festival, no dizer de Manel de Candinho, director artístico do Guitarrada do Atlântico, é permitir o intercâmbio de violões do mundo, não só guitarra cabo-verdiana, mas sim, com o foco no atlântico e na lusofonia. Este ano, o festival promete uma noite bastante “rica” para os amantes da guitarra e da música instrumental.

De Portugal vem Pedro Jóia, compositor e director musical, considerado um dos melhores guitarristas portugueses. Começou a tocar guitarra aos sete anos de idade, com Paulo Valente Pereira na Academia dos Amadores de Música, passando a estudar com Manuel Morais. Dois anos depois, começou a estudar guitarra flamenca com Paco Peña, Gerardo Nuñez e Manolo Sanlúcar. Aos 19 anos passa a tocar profissionalmente, tanto a solo como em diferentes formações na Europa, Ásia, América do Sul e África.

Em 2008 recebeu o Prémio Carlos Paredes com o seu álbum “À Espera de Armandinho”. Em 2011 iniciou uma colaboração estreita com alguns dos nomes mais promissores do fado novo, explorando novas abordagens musicais para o fado tradicional. A partir de 2012 toca em concerto e em gravações com o nome maior do panorama actual do fado, Mariza.

Já Vuca Pinheiro é natural da ilha Brava mas vive nos Estados Unidos da América há mais de cinquenta anos. Aprendeu os primeiros acordes do violão por volta dos 12 anos de idade. Em 1972 fundou o conjunto musical “Ecos de Cabo Verde” nos Estados Unidos. Frequentou a escola de música “Música de Minas”, no Brasil, por dois anos. Em 1985 gravou o seu primeiro disco denominado “Força di Cretcheu”. Em 1998 produziu, juntamente com Danny Carvalho, o álbum “Nostalgia” de Luís Morais.

Ao longo dos anos lançou vários trabalhos, produziu diversos artistas renomados, até que em 2015 concluiu “50 Anos de Actividades Musicais”, que foram comemorados com o lançamento do CD “50 Anos de Lides Musicais de Vuca Pinheiro” e do livro “Retalhos de Uma Vida”. Vuca Pinheiro é um dos mestres da guitarra que vai deliciar o público no dia 28 de Junho com ritmos como morna, samba, mazurca, batuque, ritmos do nordeste brasileiro, tango, valsa, solo de violão, ritmo angolano/guineense, coladeira, bolero, canção, fado e bossa-nova.

Encontros especiais

A II edição do Guitarrada do Atlântico reserva o encontro, em dueto, entre os irmão Alves – Kaku e Kim, filhos do exímio violinista Nho Djonsinho. Um momento que promete dado a qualidade da dupla. Só para referir, Kim Alves é criador de sucessos, compositor, arranjador, poli-instrumentista. Após ter passado por grandes conjuntos musicais, entre os quais, Abel Djassy, Os Tubarões e Finaçon, Kim lançou-se na produção musical, passando a ser o criador de alguns dos maiores sucessos discográficos dos últimos 20 anos.

Kaku Alves é visto também como um dos maiores músicos cabo-verdianos. Multi-instrumentista, director musical, arranjador e um dos mais procurados produtor musical da actualidade. Durante os últimos 15 anos acompanhou Cesária Évora pelos quatro cantos do mundo.

O evento reserva, ainda, um dueto de duas gerações com qualidades bem reconhecidas. Manel de Candinho e Palinh Vieira vão actuar juntos em palco. O primeiro é multi-instrumentista, arranjador e produtor musical. Viveu na diáspora durante 30 anos, onde aprofundou os seus conhecimentos na música. Integrou vários conjuntos musicais de raiz nacional e estrangeira. Dirigiu concertos de quase todos os cantores cabo-verdianos dentro e fora do país. Com cinco discos gravados, aos longos dos anos levou a música cabo-verdiana para os quatro cantos do mundo.

Palinh Vieira é um jovem guitarrista da nova geração de músicos que vem marcando o seu espaço dentro e fora do país. Palinh acompanha vários interpretes, sendo ele umas das grandes promessas do violão cabo-verdiano. Integrou a última banda que acompanhou Cesária Évora nos últimos momentos da sua carreira.

Para os promotores deste festival, o objectivo é promover a guitarra como um instrumento muito importante e, através dela, tocar os corações. “Não é por acaso que quando se faz uma serenata usa-se o violão”, destaca Manel de Candinho.

Este projecto pretende colocar a guitarra e os guitarristas cabo-verdianos no centro das atenções. Isto porque, segundo a direcção do evento, muitas das vezes eles são todo o suporte para a projecção dos grandes músicos e deles “ninguém se lembra”.

Nascido para tocar…

A organização, que na primeira edição homenageou Humbertona, este ano, vai prestar um tributo ao músico e compositor Armando Tito. “Ele nasceu quase a tocar e ainda está a tocar e tem feito muito para a elevação da música cabo-verdiana. É um dos guitarristas cabo-verdianos que mais tocou na vida, porque com cerca de 80 anos, quase que toca todos os dias. Por isso, merece ser homenageado por nós que também somos amantes do violão” justifica.

Armando Tito nasceu no Mindelo, São Vicente, em 1944. Toca diversos instrumentos com mestria (violão, violino e cavaquinho) mas é com o violão que encanta a todos. Iniciou-se na música aos 6 anos de idade quando, juntamente com o irmão Armindo Tito, frequentava e tocava em festas populares. Começou a tocar com os grandes músicos cabo-verdianos, e foi convidado para gravar pela primeira vez com a Cesária Évora, ainda menor de idade, na ilha de São Vicente.

Fez parte da segunda geração do grupo mediático “Voz de Cabo Verde”, juntamente com Leonel Almeida, Paulino e Toy Vieira, Bebeto, Djonsim e Tabanka. Acompanhou Travadinha no Hot Clube de Portugal em 1982, assim como tocou com outros artistas como Bana, Ildo Lobo, Titina, Lura, Nancy Vieira, Leonel Almeida, Celina Pereira, Paulino Vieira, Zé Afonso, Vaiss, Dalú, Manuel Paris e Toy Vieira.

Desenvolveu um som puro nas cordas do seu violão, executando solos sublimes que se podem ouvir nos discos de Cesária Évora.

Vive em Portugal desde os anos 80.

ACN
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 613, de 30 de Maio de 2019)

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