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Sociedade

Oito garrafas de plástico para produzir um azulejo que salva o ambiente em Cabo Verde

Iniciativa da Fundação dos Amigos do Paul, na Holanda, presidida por Maria Teresa Segredo, uma emigrante cabo-verdiana naquele país europeu, a fábrica de transformação de plástico em azulejos foi instalada em 2017 em Penedo de Janela, no concelho do Paul, ilha de Santo Antão.
Penedo é a porta de entrada da zona de Janela, a primeira localidade avistada após o túnel de Santa Bárbara, para quem viaja na estrada litoral desde o concelho do Porto Novo.
Árido, eminentemente piscatório, com algum comércio e poucos moradores, Penedo é também a boca do vale de Ribeira de Penedo a norte, e onde se destaca uma rotunda, cujas saídas conduzem às outras zonas de Janela – Pontinha a este e Ribeira e Fajã a oste.
Com uma escola primária, Penedo de Janela também ganha vida extra no mês de agosto, com a realização da festa de Nossa Senhora de Piedade, cujo ponto alto é a 15 de agosto.
Desde 2017 que a zona ganhou outra movimentação, com a fábrica que está a dar nova vida aos plásticos, transformando-os em azulejos e ajudando a resolver um dos dramas ambientais no país, que é o uso elevado de garrafas “pet”, que depois de usadas são lançadas ao chão.
Apesar de instalada há dois anos, só em novembro de 2018 é que a fábrica começou a colocar o material no mercado, segundo o gerente da MT Segredo Azulejos, Hirondino Silva.
Diariamente, avançou à agência Lusa, a empresa retira cerca de 25 quilos de plástico do ambiente e, em dois anos, já reciclou mais de 20 toneladas de lixo e produziu mais de dois mil azulejos, que são vendidos no mercado nacional, mas também no estrangeiro.
Para a construção, a fábrica produz apenas azulejos com a dimensão de 20×20 cm e, para cada peça, são precisos oito vasilhames de cinco litros.
Quanto aos preços, uma caixa com 24 peças custa 3.000 escudos (27 euros), informou o gerente, indicando que a empresa também produz material decorativo, cujos preços variam de acordo com o tamanho e com as imagens estampadas no azulejo.
Quando assumiu o cargo de gerente, a MT Segredo Azulejos já tinha praticamente um ano, mas Hirondino Silva, 34 anos, técnico de Gestão e Contabilidade, recordou que acompanhou todo o processo de remodelação do armazém da antiga Empresa Pública de Abastecimento (EMPA), formação dos atuais cinco técnicos e instalação da indústria.
Até agora, disse, a fábrica recicla apenas material “pet”, ou seja, garrafas de água e refrigerantes, mas tem uma grande quantidade de bolsas armazenada para “experiências e projetos futuros”.
Também disse que está na forja a produção de um azulejo de maior dimensão e que a quantidade de garrafas armazenadas dá para a fábrica trabalhar durante pelo menos um mês.
Depois de alguma reticência na fase inicial, Hirondino Silva adiantou que agora as encomendas só aumentam e a empresa já tem uma quantidade de pedidos que não consegue entregar em seis meses, mesmo trabalhando “a duro”.
“Há necessidade de aumentar a capacidade de produção, porque as encomendas estão a surgir cada vez mais”, sublinhou à agência Lusa.
E quem ganha é a ilha de Santo Antão, em particular, que está cada vez mais limpa e livre das garrafas de plástico, que agora também são mais difíceis de encontrar.
“Muitas vezes, as pessoas chegam cá e pedem-nos garrafas de plástico porque dizem que já não os deixamos encontrar uma garrafinha sequer. Esse é o sinal de que o nosso ambiente está mais limpo”, reforçou.
Para conseguir ter todo esse material em Penedo de Janela, é preciso fazer a recolha. Além dos hotéis e restaurantes, o gerente disse que as pessoas individualmente já juntam plásticos em suas casas e arredores e vão entregá-los à indústria.
A empresa paga 50 escudos por cada saco de plástico, segundo o gerente.
Há igualmente um jovem da localidade de Ribeira de Penedo que recolhe as garrafas na lixeira municipal, nas festas e atividades desportivas, e um ponto focal na ilha vizinha de São Vicente que envia grande quantidade do material para ser reciclado.
Além de Santo Antão e São Vicente, o Hirondino Silva disse que já há uma “grande vontade” das outras ilhas em fazer chegar o plástico à ilha de Santo Antão, dando como exemplo uma campanha realizada na ilha do Sal durante os Jogos Africanos de Praia.
Entretanto, apontou as ligações marítimas entre as ilhas como um entrave, apesar de a empresa já ter contacto com um navio que ainda este mês deveria começar a fazer chegar o plástico de outras ilhas a Santo Antão.
E quem quiser enviar o seu plástico para Penedo, pode contactar a empresa através do telefone e das suas páginas na rede social Facebook (MT Segredo Fábrica de Azulejos) e também do Facebook pessoal da proprietária Maria Teresa Segredo.
“A partir daí entraremos em contacto e trataremos de toda a logística para que o plástico possa chegar aqui na nossa fábrica”, mostrou, dizendo que isso também poderá ser feito através dos gabinetes do Ambiente de todas as câmaras municipais do país.
Outro problema enfrentado pela fábrica são os cortes de energia, que fazem perder a produção.
“Isso já aconteceu várias vezes, mas estamos a ultimar preparativos para conseguir produzir a nossa própria energia fotovoltaica”, projetou, explicando que MT Segredo só não arranja um gerador próprio porque, por ser uma empresa ambiental, quer apostar em energias renováveis.
Hirondino Silva notou que o azulejo a partir do plástico é um produto diferente, mas explicou que tem “muita residência, boa qualidade e a mais valia de ser feito em vantagem do ambiente”.
“Como sabemos, o plástico é o principal inimigo do ambiente neste momento. Então, tendo uma peça ou alguns metros dessa peça é de se vangloriar porque quando compramos um azulejo da MT Segredo não estamos a comprar um simples azulejo, mas sim plásticos que certamente iriam parar aos nossos oceanos”, mostrou o responsável.
Num olhar ao futuro, o gerente disse que as perspetivas são para aumentar a produção, mas salientou que isso não depende apenas da fábrica, mas também de toda a sociedade.
“Se cada um de nós fizermos um pouco daquilo que é bom para o nosso ambiente, juntando uma pequena quantidade, uma, duas, três garrafas ou mais, a MT Segredo está sempre de braços abertos e querendo sempre melhorar. Queremos melhorar e aumentar a nossa produção, melhorar cada vez mais o nosso produto, mas também queremos melhorar a mudança de mentalidade e fazer com que as pessoas vejam que o ambiente precisa da gente”, apelou.
LUSA

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