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Política

Alcides Graça, líder do PAICV: “Potencialidades de São Vicente têm sido subaproveitadas”

O presidente cessante da Comissão Política Regional (CPR) do PAICV, em São Vicente, Alcides Graça, considera que as potencialidades da ilha têm sido subaproveitadas. E, para sustentar, elenca um conjunto de segmentos, onde, a seu ver, se encontra a chave do desenvolvimento da ilha, nomeadamente, o turismo, a cultura, o desporto e a indústria.
Enquanto segundo polo de concentração populacional do país, São Vicente apresenta potencialidades em vários sectores, que não têm sido aproveitadas da melhor maneira, quer por parte do poder local como do poder central. 
A constatação é do líder local do PAICV, Alcides Graça, que considera que falta visão ou estratégia por parte dos visados. 
“São Vicente tem uma grande potencialidade do ponto de vista turístico, industrial, serviços, académico e cultural. Contudo nenhum destes segmentos tem uma visão ou estratégia. São Vicente está a navegar ao sabor da corrente porque não há uma perspectiva”, diz.
A nível do turismo, Graça defende que este é um segmento fundamental para a economia de São Vicente. E, por conseguinte, alerta para a necessidade de haver um pelouro capaz de captar investimentos externos e conceder condições vantajosas e competitivas  para atrair investimentos.
“O retorno imediato dá satisfação imediata mas, a longo prazo, mata-se a galinha dos ovos de ouro. Ou seja, eu não venderia terrenos a uma pessoa que iria fazer um investimento de 15 milhões de euros ou mais. Por outro lado, eu concederia o terreno e o dinheiro seria usado para investimento. Defendo isto, porque, o que me interessa é que haja criação de postos de trabalho”, sustenta Alcides Graça.
A indústria é outro sector que este responsável do PAICV considera estratégica para São Vicente. A zona industrial, que é gerida pela Câmara de Comércio e pela Câmara Municipal, tem estado abandonada a seu ver. 
“Não há perspectiva de atracão de indústria para São Vicente”, remarca.
Cultura
A Cultura, em São Vicente, tem sido um grande gerador de rendimento, sobretudo em actividades como o Festival da Baía das Gatas, o Carnaval, o Kavala Fresk Feastival, o Mindelact e a Feira Nacional de Artesanato e Design de Cabo Verde (URDI). 
Contudo, na óptica de Alcides Graça, deve haver uma política virada para eventos de forma mais regular, transformando Mindelo numa plataforma cultural. 
“Todos os eventos, tirando a URDI, são privados. Kavala Fresk, Carnaval e o festival da Baía das Gatas, sendo que este último já anda com seus pés. Mas precisamos fazer mais e de forma mais concertada, que as datas estejam pré-definidas com muita antecedência. Tenho o sonho de promover um grande evento literário anual em São Vicente. Foi cá em São Vicente que surgiu a Claridade. Não valorizamos este facto e a Câmara Municipal está nas tintas para isso. Eu iria instituir um prémio literário para dar todos os anos”.
Desporto
Alcides Graça afirma que não há uma política desportiva por parte da edilidade mindelense. As duas principais estruturas desportivas de São Vicente (o Pavilhão Oeiras, no Monte Sossego, e o Estádio Adérito Sena), há muito que pedem obras de requalificação. 
“Logo que o MpD ganhou em 2016, prometeu que em 2017 teríamos o Adérito Sena a receber jogos internacionais, competições africanas, inclusive jogos da selecção nacional, e até agora não vi nada e não vejo como isto se vai inverter”, argumenta.
Para este entrevistado, São Vicente já teve todas as condições para se transformar numa “cidade desportiva”, da mesma forma que no passado foi a “capital da cultura”. 
Inclusive, Graça lembra que na sua plataforma eleitoral nas autárquicas de 2016, apresentou a ideia da “cidade desportiva”, considerada por muitos um absurdo. 
Esta ideia incluía os recintos desportivos da Shell, Amarante, Adérito Sena, Torrada, dos Liceus “José Augusto Pinto” e “Ludgero Lima”, bem como do Recinto “Evandro de Matos” (vulgo Basket). 
“A Câmara doou o Recinto ‘Evandro de Matos’ a um amigo do MpD e hipotecou a visão de Cidade Desportiva que eu tinha. O único lugar onde se podia fazer um Pavilhão Desportivo Coberto, dentro da Cidade, era ali, porque não há mais espaços”, lamenta Graça.
 
Avaliação negativa e retrocesso
Estes e outros factores levam Alcides Graça a fazer uma avaliação “francamente negativa” quer do poder local, quer do central no que toca a São Vicente. No primeiro caso, fala em desilusão entre o que foi prometido e o que tem sido feito. 
“Foi vendido durante a campanha o lema de que ‘juntos somos mais fortes’, na esperança de que, desta vez, São Vicente iria experimentar um figurino diferente, a mesma cor política no poder central e no local. 
O povo de São Vicente alinhou na esperança de que as coisas iriam mudar. As coisas não só não melhoraram como pioraram. Agora temos um presidente de Câmara omisso e limitado do ponto de vista de reivindicações”, acrescenta.
Em relação ao Governo, o líder local do PAICV considera que a ilha não tem recebido uma boa atenção. Espelho disso são os orçamentos do Estado, nos quais tem havido um retrocesso no que a fatia do bolo para São Vicente diz respeito. Graça também aponta na direcção do terminal de cruzeiros.
“Hoje São Vicente é a quarta ilha de Cabo Verde, atrás da Boa Vista, Sal e Santiago. Há injustiça entre aquilo que damos e o retorno que temos. Sendo assim, não poderemos chegar lá. Nos quatro anos de mandato, perguntamos, qual foi a obra que o MpD fez nesta ilha? Tirando a estrada Cidade-Baía-Cidade, não se tem mais investimentos de vulto. Fala-se no terminal de cruzeiros, que era para ser em 2017, foi passando de ano, e hoje vai para 2020, no primeiro trimestre”, conclui Graça.
JF
Nota do Editor
A NAÇÃO tentou auscultar todas as forças políticas de São Vicente, com representação parlamentar. No entanto, contactada a Presidente da Comissao Política Regional do MpD, em São Vicente,  Maria Trigueiros, a mesma solicitou, previamente, as perguntas por e_mail antes da entrevista, que lhe foram prontamente enviadas, mas, depois, nunca mais deu retorno, apesar da nossa insistência. Também, o líder da UCID, António Monteiro, apesar de contactado atempadamente, alegou indisponibilidade de tempo para responder. As tentativas de contacto com Augusto Neves, autarca de São Vicente, foram igualmente infrutíferas. Contactada a assessora pessoalmente, via telefone, a mesma pediu para formalizar o pedido de entrevista por e_mail, o que foi feito. Mas, desde então, nunca mais respondeu aos três e_mails enviados. Por isto, apenas a entrevista de Alcides Graça, líder local do PAICV, o único a responder às nossas questões, que é aqui publicada. 

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