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Cultura

Fogo: Confrarias de Reinado fazem-se hoje à estrada mantendo viva a secular Tradição Cultural da Ilha 

No passado, o Reinado, ao que tudo indica está ligado às Festas dos Reis, celebrada em Portugal, conhecera outro brilho e dados históricos e o testemunho do “Rei” Filipe Fernandes, mais conhecido por “Nhô Tchina”, de 94 anos, indicam que, em certa altura, chegou a sair da Igreja Matriz da Nossa Senhora da Conceição (na Cidade de São Filipe), 24 confrarias ou grupos de reinados, constituídos, no mínimo, por três homens, estando hoje reduzido a dois grupos e com a tendência para o seu desaparecimento.

O Reinado é uma Tradição Cultural secular, típica e exclusiva da Ilha do Fogo, em que grupos de homens, devotos católicos, participam em ciclos de reza, no período entre 6 de Janeiro e o Dia das Cinzas, deslocando-se, de casa em casa, em quase todas as localidades da Ilha, de pessoas que professam a Fé Católica.

A sua origem é um pouco duvidosa, e, para alguns, poderá estar relacionada à celebração da Festa dos Reis, em Portugal, mas nenhum dos reinados vivos, nem Filipe Fernandes com os seus 94 anos e que parte pela 77ª vez nesta missão, sabem explicar, com precisão, a origem e a data da sua introdução na “Ilha do Vulcão”, acreditando que a Tradição esteve ligada ao peditório para a construção da antiga Igreja Matriz de São Filipe, o que pode ter ocorrido há algumas centenas de anos.

Até à década de 70 (do século passado), os reinados eram constituídos por grupos de homens, três ou mais, católicos e praticantes, que andavam por toda a Ilha, durante três luas, a realizar terços e pedindo ajuda a favor da Igreja, mas houve épocas em que cada Confraria de Reinado era constituída por sete homens, sendo que cada grupo era formado por um “Rei”, que dirige e controla tudo, um “Rei” interino, um tesoureiro e participantes.

Acreditam que o objectivo maior do Reinado era a Evangelização e todos os integrantes do grupo teriam de ser católicos, baptizados/crismados, casados e escolhidos pelo padre.

A tradição mandava que os “reis” se reunissem no dia 6 de Janeiro, na Igreja Matriz, onde assistiam a Missa, seguida de uma volta à Igreja, para, depois, cada Confraria seguir o seu próprio itinerário, dando volta à Ilha, dirigindo, primeiro, em direcção a Cova Figueira (Sul) e, depois, retornavam para a Zona Norte, até chegar aos Mosteiros, uma vez que, devido a uma lenda, os mesmos não devem cruzar a Ponte da Ribeira de Baleia, que divide os municípios de Santa Catarina e Mosteiros, por desaparecimento de um grupo que tentou fazer a travessia.

Por isso mesmo, o Reinado sai de São Filipe e vai até junto da Ribeira de Baleia e, volta atrás, para ir aos Mosteiros, via Norte, desfazendo, depois, a volta, até à Cidade de São Filipe.

Cada Confraria leva a imagem de uma Santa como Patrona, sendo que, antigamente, a imagem era cedida pela Igreja, para onde voltava, findo o Reinado, mas, hoje, as imagens são guardadas em casa dos reinados. Já o terço ou “ladaínha”, na maioria das vezes, continua a ser rezado em latim, ainda nos dias de hoje.

Além da imagem da Santa Patrona, o Reinado dispõe de outros instrumentos, nomeadamente, um pequeno tambor para anunciar a sua chegada às localidades, um sino e o rosário, utilizados durante a realização do terço.

Este ano, a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, que no âmbito do lema do Ano Pastoral: “Evangelizar a Cultura a Partir da Piedade Popular”, convidou os reinados para a missa de domingo, 5, onde, além de falar do papel dos reinados ao longo dos anos, estes fizeram uma demonstração da actuação (Cântico de Boas Festas), para que os mais jovens pudessem compreender e conhecer esta Tradição.

Depois da Missa, o pároco “enviou” os mesmos (numa espécie de autorização) – isso segundo padre Lourenço Rosa -, para servirem como forma de motivar os jovens, porque – explicou o religioso -, os reinados, ao longo dos anos, não se preocuparam com a preparação dos seus sucessores.

 

Com: Inforpress

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