Honório Chantre, combatente da liberdade da Pátria, “resiste” como pode à pandemia da covid-19 no seu povoado natal, Ribeira Torre, no concelho da Ribeira Grande da ilha de Santo Antão. “Hoje (sábado) o dia está lindo, convidativo, a pedir mar, mas com esta doença está tudo parado; vê-se uma ou outra pessoa a cuidar dos seus cultivos, um outro carro a passar na estrada…”
Aos 78 anos, este antigo comandante da guerrilha do PAIGC na Guiné diz que não esperava passar por esta experiência de todo estranha, numa ilha como Santo Antão. Se bem que no seu caso pessoal esta não seja a primeira vez que se vê confrontado com uma “gripe” oriunda da Ásia.
“Em 1957, eu era estudante em São Vicente, quando aconteceu a famosa gripe asiática, que afectou as ilhas de São Vicente, Santo Antão e São Nicolau. Eu tinha 16 anos e era estudante do liceu em São Vicente. A razia foi tal que o Dr. Baltasar Lopes da Silva, nosso reitor, teve de mandar suspender as aulas por 15 dias. De 85 quilos, caí para 49, quem me salvou foi o Dr. Fonseca”, conta. “Eu quase ia morrendo”.
Honório Chantre lembra-se que aquele célebre médico, José Duarte Fonseca, deu-lhe seis comprimidos de clorafinicol, um remédio hoje irradiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Na minha ingenuidade, ainda lhe pedi que me desse um atestado para justificar as faltas no liceu, ao que ele me respondeu: ‘Vai mais é comer fruta em Santo Antão, que te salvaste de uma boa!’ Quando cheguei, a Santo Antão, a minha desmaiou ao ver-me tão magro, eu parecia um cadáver”.
Apesar de preocupado, Honório Chante espera que a pandemia da covid-19 passe logo.
“Em Santo Antão, felizmente, as pessoas vão cumprindo o recolhimento, quase não se vê ninguém a circular; aqui onde me encontro vejo uma ou outra pessoa a cortar cana, a circulação de carros é pouca, vai havendo uma ou outra escassez de certos produtos. Como é normal nestas situações, cada um vai se safando como pode”, conclui.
