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Eleições autárquicas em Cabo Verde: as ilações do ano 2000 para o PAICV

Por: José Sanches

Tendo neste momento mais de 50 candidatos à Presidência das Câmaras Municipais em Cabo Verde, uma vez que entramos em modo pré-campanha com um ritmo acelerado para a campanha eleitoral, convém trazermos à memória coletiva a experiência das eleições autárquicas de 2000, mormente para o PAICV que na altura era oposição no governo e nas câmaras municipais, com nuances diferentes em algumas ilhas e municípios.

1 Rezam os anais da História, que o passado serve para compreendermos o presente, vivermos as dificuldades de cada momento com otimismo, estarmos precavidos da não linearidade dos acontecimentos e projetar melhor o futuro. Em 2000 realizou-se, em Cabo Verde, a terceira eleição autárquica. Na altura, o PAICV era oposição a nível nacional, com o MPD a ter a 2ª maioria qualificada nas legislativas. A nível do poder local, o partido ‘tambarina’ tinha o governo das duas câmaras da ilha do Fogo, São Filipe e Mosteiros, da ilha do Sal e de Boa Vista. O MPD era largamente o partido que tinha a maioria no poder local.

2 As eleições autárquicas de 2000, revestiam de capital importância para todos os partidos políticos em Cabo Verde, mas para o PAICV, representava um teste de fogo à sua sobrevivência e a quebra de hegemonia do MPD, outrossim, quero crer que as eleições autárquicas do ano 2000, representava para o PAICV o relançar de novos líderes, o fazer as pazes com o passado e o presente e quiçá quebrar o enguiço de que o PAICV estava ultrapassado e que certos líderes da história coletiva deviam passar à reforma. Nada mais falso! Quero crer que para o MPD, as eleições autárquicas de 2000, significava o querer afirmar que o poder local é talhado só para os bons filhos desta terra, que o PAICV não sabia lidar com o poder local e que a solidificação das reformas no poder local, representava a continuidade do MPD no poder em todas as Câmaras mais importantes do país. Os resultados vieram a provar o contrário. Mas, chegaremos lá!

3 As eleições autárquicas de 2000, também representava para o PAICV um teste à nova liderança do Comandante Pedro Pires. Digo nova liderança, porque o regresso do Comandante Pedro Pires à Liderança do PAICV, trouxe um misto de figura de líder nato, experiência, rigor, autoridade e figura moral, simbolizado como o de marinheiro de todos os temporais. Soube aproveitar o que de bom e melhor todas as esferas e quadrantes do PAICV detinham no momento, soube fazer a leitura certa de que o PAICV ultrapassa um club de amigos e colegas de faculdade e de que o PAICV é um partido de todos e em todos os tempos devem estar presentes todos aqueles que de uma forma ou de outra souberam valorizar A CAUSA e não os casinhos.

4 Em 2000, as eleições autárquicas simbolizaram o relançar do PAICV para outras vitórias, porque o Líder Pedro Pires soube fazer a leitura certa e, no momento certo, tomou as decisões que tinha de tomar. O PAICV soube unir em torno do projeto e da causa, nunca em torno de pessoas e de interesses individuais, fraturantes e individualizantes. O PAICV soube interpretar o interesse dos cabo-verdianos e colocou as ‘Pedras’, todas elas em momento e no lugar certos. Talvez, porque o MESTRE de obras entendia muito bem a construção de um edifício chamado CABO VERDE. Ele próprio, participara desta construção “pedra – pedra”!

5 Com a chancela do comandante de todos os temporais, o vice-presidente da Assembleia Nacional na altura José Maria Neves, liderou a candidatura para a Câmara Municipal de Santa Catarina, ele que havia disputado a liderança do PAICV no congresso com uma lista alternativa a de Pedro Pires. Que lição de democracia! O líder Parlamentar de então – deputado Felisberto Vieira (Filú), liderou a lista do PAICV para a capital do país, Orlando Sanches – Santa Cruz, Camilo – Brava, Eugénio Veiga – São Filipe e Júlio Correia para os Mosteiros, todos eles saíram vencedores. Tivemos vários outros líderes do PAICV que lideraram o projeto autárquico noutros municípios, embora não saindo vencedores, acabaram por elevar o score do PAICV, elegendo vários deputados municipais, ampliando a base social e eleitoral do partido, que veio a ser balão de oxigénio para a vitória nas eleições legislativas de 2001. Com o resultado das eleições autárquicas de 2000, o PAICV passou a liderar as Camaras de: Santa Catarina, Praia, Santa Cruz, Brava, Sal, São Filipe e Mosteiros.

6 A lição de 2000 foi estudada? Uma vez estudada, já foram tiradas as ilações necessárias? Estamos e ter um MESTRE empenhado na construção do edifício chamado Cabo Verde? Para o PAICV é vital engendrar esforços para repetirmos aquilo que aconteceu em 2000. Penso que é deveras urgente trabalharmos para quebrar e hegemonia do MPD na política partidária em Cabo Verde. Hoje, a situação é diferente da de 2000 para o PAICV, uma vez que temos apenas 2 Câmaras municipais e é urgente recuperarmos mais Câmaras para alargarmos a nossa influência e conquistarmos o poder a nível nacional. Hodierna, é preciso aplicarmos a lição do ano 2000, ou seja, colocar todas as “pedras” no lugar certo e na hora certa, sabendo que a obra deverá ser dirigida por Mestre de obras que compreende da construção do edifício em curso. Porque se o Mestre não compreender da construção estará a colocar os trabalhadores em posições incorretas e ele próprio não saberá fazer a leitura adequada para instruir os seus colaboradores na grande Messe.

7 De salientar, que as eleições autárquicas de 2020, passados 20 anos das de 2000, revestem da mesmíssima importância para ambos os partidos do arco do poder. Para o PAICV, é tempo de mostrar que o projeto: ‘juntos somos mais fortes’ não teve resultados, assim como, é necessário mostrar que com o PAICV no poder a população estará melhor servida. Não é de somenos importância referir, que para o PAICV, estas eleições significam ou tudo ou nada, porque daqui a 6 meses serão as eleições legislativas. Para o MPD a importância e o desafio são maiores, porque terão que convencer o povo, que voltados 4 anos terão que votar no vazio da promessa anterior. Quererá este partido fazer o jogo e a eliminatória à uma só mão? Gostaria de saber se ainda os partidos continuam com a mesma meta.

8 Em tempos de COVID 19, que projeto autárquico melhor serve os interesses dos munícipes? Como serão as campanhas eleitorais? Que propostas exequíveis estarão a fazer eco nos meios de comunicação social e qual será o comportamento dos internautas? Não esqueçamos que na democracia, ‘o povo é quem mais ordena’ e condena!

9 É tempo de ser esperança!

 

(Publicado na edição semanal do A NAÇÃO nº 680,  de 10 de Setembro de 2020)

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